quarta-feira, 28 de março de 2012
Pintando um quadro brasileiro
quinta-feira, 22 de março de 2012
A desindustrialização num ambiente externo hostil
quinta-feira, 15 de março de 2012
“Tsunami monetário”, guerra cambial, PIB frustrante: E agora, Dilma?
Semana de 05 a 11 de março de 2012
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Enquanto os banqueiros europeus festejam o derrame de US$ 4 trilhões, pelo Banco Central Europeu (BCE), na semana passada, os países emergentes estudam formas de barrar o “tsunami monetário” que certamente os atingirá. Como apresentado na análise anterior, a expressão “tsunami monetário” foi utilizada pela presidente Dilma para reclamar dos efeitos que as decisões do BCE provocará. “O que você gostaria que nós fizéssemos?” perguntou a chanceler Angela Merkel à Dilma, dando a entender que não havia outra solução e ignorando os efeitos da medida sobre a economia brasileira.
O governo brasileiro já anunciou que não tolerará a enxurrada de dinheiro estrangeiro e tomará as medidas necessárias para proteger o país de uma guerra cambial, embora não deixe claro, qual será o arsenal de medidas utilizado para combater os efeitos da grande onda.
O Tesouro Nacional deverá entrar na guerra. Autorizado pelo governo, o órgão pretende enxugar dólares internamente, com o argumento de que precisa das divisas para honrar os pagamentos da dívida externa. O Tesouro Nacional já tem em caixa um valor de US$ 7,4 bilhões, equivalente a 49% da dívida que vencerá até 2015. Por seu lado o Banco Central já retirou de circulação desde fevereiro, US$ 8 bilhões.
A queda da taxa de juros, aprovada pelo Copom esta semana, diminuiu o impacto do “tsunami monetário”. Mas, o corte de 0,75%, que reduziu a taxa de 10,5% para 9,75% ao ano, não altera a posição do Brasil de campeão entre os países com os maiores juros reais do mundo. Com a taxa real de 4,2% ao ano O Brasil é seguido pela Rússia (3,4%), pela Indonésia, (2,1%) e pela China, com 2%. Com juros tão atrativos, a enxurrada de divisas continuará embora os ganhos de arbitragem diminuam.
Como se não bastasse, o governo está aconselhando que os possuidores de títulos públicos troquem os papéis indexados à Selic por outros que apresentem uma maior rentabilidade. O argumento é que a rentabilidade dos títulos atrelados à Selic tem ficado abaixo de alguns ofertados no mercado como, por exemplo, àqueles indexados ao IMA (Índice de Mercado Aberto) que paga cerca de 16,5% ao ano. O governo ainda recomenda como alternativa, a aplicação nos títulos atrelados ao índice de preços.
A decisão do Copom foi motivada também pelos resultados da atividade econômica. A recente divulgação dos números do PIB preocupou seriamente a presidente. O crescimento registrado no último trimestre do ano foi de apenas 0,3%. Em 2011, a desaceleração se confirmou e o PIB cresceu apenas 2,7%. A agropecuária contribuiu com 3,9%, a indústria com 1,6% e os serviços com 2,7%. A indústria de transformação registrou queda de 2,5%. O consumo das famílias cresceu 4,1%, o do governo 1,9% e a formação bruta de capital fixo foi de apenas 4,7%. As exportações cresceram 4,5% e as importações 9,7%.
Ficamos atrás do PIB da Alemanha (3%), da China (9,2%), da Índia (6,9%) e até da África do Sul que cresceu 3,1%. A justificativa de Mantega para os números do PIB foi “...o agravamento da crise no segundo semestre. Se ela não tivesse acontecido, nosso crescimento seria mais próximo dos 4% do que dos 3%”. Mas as previsões de Mantega, há tempos, estão desacreditadas. Para o ano passado, suas previsões começaram com 5% e terminaram com 3,5% e mesmo assim, o registrado ficou aquém disso. Para este ano, o ministro já arrisca uma nova previsão: o PIB deve fechar próximo a 4,5%.
Esses dados fizeram crescer as críticas à política econômica do governo. As medidas macroprudenciais, segundo os analistas, foram as responsáveis pelo PIB decepcionante. Certamente elas contribuíram, mas, o desempenho fraco na indústria era esperado. Há muito tempo os empresários reclamam da passividade do governo brasileiro quanto ao processo de desindustrialização interno.
E as perspectivas não são boas. A atividade industrial de janeiro caiu 2,1%, a produção da indústria de bens de capital, 16% e a produção da indústria automotiva, 30%, o que reforça as projeções de queda da atividade econômica para o primeiro trimestre do ano. Segundo o IBGE, 14 dos 27 ramos da indústria considerados na pesquisa de janeiro apresentaram queda. Ao considerar o período de 12 meses a queda da atividade industrial já é de 3,4%.
No desespero, o governo Dilma tenta reverter a situação e lançará na próxima semana um “remendo” ao Projeto “Brasil Maior” para aumentar a competitividade da indústria brasileira, em especial para a indústria automotiva. A presidente também quer editar o “PAC do PAC”, com o objetivo de acelerar as grandes obras e para isto irá visitá-las pessoalmente.
Um número persegue a presidente Dilma: 7,5%, a taxa de crescimento do PIB de 2010. O único consolo que ela teve veio de outro número: 9,75%. O único desejo satisfeito da presidente, até agora, foi o de retornar à taxa de juros de um dígito.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e crise na economia brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
sexta-feira, 9 de março de 2012
O “Tsunami monetário”
Semana de 27 de fevereiro a 04 de março de 2012
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
“Nos preocupamos, sim, com esse tsunami monetário [dos] países desenvolvidos que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e sair da crise que estão metidos e que usam, despejam, literalmente, US$ 4,7 trilhões no mundo”. Este é um trecho do discurso, em tom de protesto, da presidente Dilma Rousseff numa cerimônia oficial no Palácio do Planalto.
Para entender o motivo desta declaração, vamos aos fatos. Não foi ontem que a economia mundial entrou numa crise que só tem comparação com a Grande Depressão da década de 1930. Desde que os empresários começaram a sentir o impacto da chamada Crise do Sub-Prime em 2007, os governos da maioria dos países interviram na economia para salvar suas empresas, a exemplo da GM, Bank of America, AIG, dentre muitos outros.
Diante da então crise financeira, que, grosso modo, está ligada à disponibilidade e à oferta de crédito, os Estados despejaram trilhões de dólares nos bancos. Isto foi feito porque, se os bancos ficassem descapitalizados, as pessoas e os empresários não teriam como obter dinheiro para comprar ou investir. Entre os “economistas oficiais”, este é o motivo mais aceito como explicação do contágio do chamado lado real da economia.
Com o “despejo”, por meio da política monetária expansionista, esperava-se que boa parte do dinheiro escorresse para as mãos da população, o que não aconteceu. O principal uso deste capital foi para uma operação chamada de “carry trade”, onde os bancos tomam empréstimos em países que cobram taxas de juros baixas e emprestam, principalmente por meio da compra de títulos do governo, a outros países onde a taxa de juros é elevada. Em 2008, por exemplo, o Banco Central estadunidense estabeleceu como taxa básica de juros para a economia um valor que variou entre 0% e 4%. Já o Banco Central brasileiro decretou uma taxa que variou entre 11,25% e 13,75% ao longo do mesmo ano. A operação “carry trade” ganha em cima deste diferencial entre os juros dos países. Diante da tentadora diferença, parte dos US$ 4,7 trilhões mencionados por Dilma se destinou aos países em desenvolvimento, inclusive (e se tratando de “carry trade”, talvez principalmente) ao Brasil. Com isso, em 2008, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,59. Atualmente, para comprar um dólar, o brasileiro deve desembolsar em torno de R$ 1,75.
O problema é que, a esta taxa de câmbio, a indústria brasileira sofre por todos os lados: fica mais caro vender para o setor externo e não consegue competir com os importados no mercado interno. O resultado disto é a redução na produção e, consequentemente, no emprego. A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) publicou que um total de 2,32 mil funcionários foram demitidos, só nos últimos dois meses de 2011. Além disso, em janeiro de 2012, a utilização da capacidade instalada ficou em 75,8% e a perspectiva é de que, no resto do ano, haja uma redução de 20% na produção, o que leva a crer que haverá mais demissões este ano. Para piorar, a expectativa é de que, em 2012, o déficit da balança comercial do setor supere os US$ 17,88 bilhões do ano passado, atingindo a cifra de US$ 20 bilhões. Segundo o Dieese, o desemprego, em sete regiões metropolitanas do Brasil, subiu dos 9,1%, atingidos em dezembro de 2011, para o patamar de 9,5% em janeiro de 2012. Já o Índice de Nível de Atividade da indústria de transformação de São Paulo mostrou um recuo de 0,8% entre janeiro e dezembro passado. Segundo o estudo, os setores que mais sofreram foram os de máquinas e o automobilístico.
Sem esta situação cambial, a indústria poderia ter sofrido menos com os efeitos da crise, já que o governo brasileiro tomou medidas de política fiscal expansionistas, tais como a desoneração de alguns produtos e, principalmente, o aumento do salário mínimo. E todos sabem disto, pois, agora, estão tentando desesperadamente conter a apreciação do real, por meio da intervenção direta no mercado de câmbio e por meio da taxação sobre os falsos investimentos estrangeiros diretos (dinheiro que, por exemplo, é enviado pela matriz para investimento, mas a filial utiliza para especular, dentre outras opções, com os títulos do Tesouro). A situação é tão grave que, novamente, capitalistas e proletários se uniram contra a desindustrialização no país.
O pior é que Banco Central Europeu aprovou nova enxurrada de € 530 billhões para 800 bancos do continente, a uma taxa de 1% ao ano. O problema é que, com uma taxa de juros de dois dígitos, quem não vai querer colocar seu Tsunami monetário para cima do Brasil?
[i] Mestre em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).