Semana de 19 a 25 de março de 2012
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Caros leitores, esta última semana foi de relativa paz nos “mercados internacionais”. O plano de socorro dado aos bancos europeus ainda não se transformou em tsunami, em parte, graças às barreiras criadas pelo governo, mas, principalmente, pelo medo dos bancos de exporem ao risco seu, nada suado, novo dinheirinho. Isto nos dá uma impressão de que as coisas estão indo bem. Considerando-se, além disso, a redução na taxa Selic, a expectativa de que o Brasil atingirá, em 2012, o centro da meta da inflação e os estímulos fiscais dados e prolongados pelo governo, esta ilusão torna-se ainda mais fortalecida.
Doce ilusão. Entre a percepção e a realidade existem muitos caminhos traiçoeiros. Podemos começar destacando a causa desses três elementos citados. Todos eles estão ligados ao fato de que a atividade econômica vem desacelerando desde 2011. As medidas são uma tentativa de aquecer a economia, tal como aconteceu no início da crise.
A queda na taxa básica de juros para 9,75% segue a lógica de que, com o custo dos empréstimos baixo, mais pessoas e empresas terão condições de manter seu consumo por meio da utilização do crédito como forma de financiamento. Por outro lado, para não atrapalhar a “sagrada remuneração” do setor financeiro, o governo está realizando a troca dos papéis atrelados à Selic, que estão em baixa, por papéis atrelados a outros indicadores, sejam eles prefixados, flutuantes ou ligados aos índices de preços. Em janeiro de 2012, a parcela da dívida vinculada a esta taxa de juros era de 31,62%. Em fevereiro, este número chegou a 27,84%, sendo que a expectativa é de que, no fim do ano, represente 22% do total da dívida pública federal, que, no mês passado, chegou a R$ 1,836 trilhão. O interessante é que o efeito da Selic sobre o consumidor e o investidor é questionável, pois as famílias se financiam por meio dos bancos comerciais, com taxas de juros que chegam a 3 dígitos, e os empresários por meio dos bancos de investimentos, que têm por base a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), ditada pelo BNDES. Quem a taxa Selic atinge diretamente?
Nunca na história deste país, os burgueses e proletários se uniram tanto. Desta vez será realizada uma paralisação de cerca de 20 mil trabalhadores do ABC paulista, para pedir a desoneração da Participação sobre Lucro e Resultados. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, “no ano passado, a média de PLR paga pelas montadoras foi de R$ 12 mil, mas cerca de R$ 2,5 mil foram pagos em imposto de renda”. Segundo um levantamento conjunto, realizado por várias associações de trabalhadores, a desoneração injetaria na economia, pelo menos, R$ 1,6 bilhão.
Mas, quem pensa que esta paralisação traz prejuízo ao empresariado se engana, pois a temporada de demissões e férias coletivas já começou. Segundo uma pesquisa do Serasa Experian, houve um aumento de 4% no requerimento de falência por parte das empresas, quando comparamos o 1° bimestre de 2012 com o mesmo período de 2011. Se considerarmos apenas as grandes empresas, com faturamento anual líquido superior a R$ 50 milhões, este número é de 212,5%. Diante desta realidade, a Mercedes-Benz, a Scania e a Ford já trabalham com grande capacidade ociosa. Na Ford, os operários trabalham 3 vezes por semana, enquanto que nas outras duas já foram dadas férias coletivas. Já a companhia aérea Gol promove um plano de licença não remunerada, que tem como objetivo atingir 220 funcionários, além dos 100 já demitidos desde janeiro. Na indústria de materiais de transporte de São Paulo, o saldo do emprego foi negativo, com 647 desempregados. Já em Manaus, o setor da vez é o de condicionador de ar, com 980 demissões. E a causa do problema é bastante conhecida: a concorrência desleal com o produto importado, que faz Valdemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, se perguntar “Como um ar-condicionado é mais barato que o compressor?”. O coeficiente de penetração das importações no consumo doméstico subiu, de 14,5%, em 2005, para 18,5%, em 2011. Já o coeficiente dos insumos importados pela indústria saiu de 17,2%, para 22,4% (2005-2011).
E este é um dos temas que os empresários querem tratar com a presidente Dilma. Ela pretende, seguindo a receita do seu antecessor, ter uma “conversa” com o empresariado, com o objetivo de despertar seu “espírito animal” e convencê-los de que esta é a hora do crescimento e do investimento. O problema é que não lhe avisaram que, segundo as palavras dos próprios empresários, “o investimento não está ligado a um desejo do governo, e sim às condições do mercado”.
Diante deste quadro atribulado, o que nos guarda o futuro?
[i] Mestre em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.).
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