sábado, 30 de junho de 2012

Golpe branco no Paraguai


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terça-feira, 26 de junho de 2012

Nós vamos crescer muito mais?


Semana de 18 a 24 de junho de 2012


Eric Gil Dantas [i]



            O banco suíço Credit Suisse, em sua última projeção, diminuiu sua estimativa para crescimento do PIB brasileiro em 2012, de 2,0%, para 1,5%. Tal notícia irritou bastante o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que considerou “uma piada” e ainda acrescentou que “vai ser muito mais do que isso”. Será?
             A “nova classe média”, que o governo tanto proclama como o motor do crescimento brasileiro, parece dar sinais de problemas na engrenagem. A inadimplência do consumidor no país, de abril a maio, voltou a subir com força, o que mostra um grande comprometimento da renda das famílias brasileiras com dívidas. Segundo dados da Serasa Experian, o índice de inadimplência saltou 6,2%, chegando ao maior patamar da série iniciada em 1999. Em São Paulo, o nível de endividamento também chegou ao seu recorde. Em maio, o número das famílias que assumiram ter contas em atraso saltou, dos 14,4% obtidos no mesmo mês do ano passado, para 21,5%. Apesar disto, a demanda por crédito aumentou em 14%, com o maior aumento entre os que recebem até R$500,00 mensais. Isso evidencia que o endividamento é o meio que estes novos consumidores têm para acessar o mercado.
            Na indústria, as coisas ainda estão piorando. Apesar do pacote de estímulos dado pelo governo, nas últimas semanas, os empresários avaliam que não foi o bastante, o que se expressa na queda dos índices de confiança da CNI e da FGV. Por essa razão, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), como medida de estímulo ao setor, pediu ao ministério da Fazenda a prorrogação do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em vigor deste dezembro do ano passado e que vencerá no final do mês de junho. No entanto, como o próprio presidente da Eletros, Lourival Kiçula, reconhece, a antecipação das compras, provocada por aquele estímulo, agora, está provocando a desaceleração das vendas.
            Outro setor da indústria que vem sofrendo é o de caminhões. A Mercedes já iniciou o seu regime de “layoff”. Pela primeira vez em 50 anos de história no Brasil, a sua fábrica de São José dos Campos suspendeu os contratos de aproximadamente 1,5 mil operários por um prazo que pode chegar a cinco meses. Os dados da Anfavea, entidade que representa as montadoras, mostram recuo de 12,5% nas vendas e de 32,8% na produção de caminhões até maio. Além da Mercedes, a MAN (com a marca Volkswagen), a Volvo e a GM também adotaram suas medidas de contenção, com demissões voluntárias, férias coletivas e paradas programadas.
            Apesar disto, mais otimista do que a Credit Suisse, o ex-ministro Delfim Netto ainda acredita em um crescimento de 2%, se a economia brasileira acelerar com força, nestes próximos trimestres.
            Nas economias centrais, as perspectivas também não estão otimistas. Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Curría, o crescimento será fraco nos próximos 5 a 10 anos, com alto desemprego, desigualdade, déficit e endividamento público.
            Na Europa, a Espanha vem se consolidando como a bola da vez, depois da Grécia. O Financial Times disse que o acordo dos governos da zona do euro, para custear a recapitalização dos bancos espanhóis, ainda não afastou os temores sobre a quarta maior economia da zona. O pacto envolvia uma linha de crédito de € 100 bilhões ao país. Mas, para uma operação integral, o número seria algo próximo a € 500 bilhões. Com esta expectativa, os espanhóis têm cada vez mais dificuldades para refinanciar sua dívida pública, pagando quase duas vezes mais juros do que no mês de maio. O problema é tamanho que o economista-chefe do banco holandês Rabobank Internacional diz que a “ruptura na zona do euro é questão de semanas”.
            Nos EUA, o emprego ainda continua frágil, o orçamento público duvidoso e a possibilidade do contágio da crise da zona do euro, latente, o que obrigou o FED (o BC dos EUA) a garantir que está pronto para agir e adotar as medidas necessárias.
            Diante desta conjuntura é que devemos fazer a pergunta: onde está a piada sobre o PIB? Nos 1,5% do Credit Suisse ou nos 4% do ministro Mantega?


[i] Economista e pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio +20: uma crítica da economia política


Semana de 11 a 17 de junho de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            No dia 13 de junho do presente ano, iniciou-se a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que tem como objetivo “a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes”. Este é o Rio +20. O resultado esperado é um consenso em torno de um sistema econômico capaz de satisfazer as atuais necessidades dos cidadãos e que, ao mesmo tempo, garanta esta capacidade às gerações futuras.
            Muitos diriam que isto é impossível, pois, diante dos recursos escassos e das ilimitadas necessidades humanas, quem estaria disposto a abdicar de seu bem estar atual para que outra pessoa, no futuro, pudesse desfrutar de um consumo, no mínimo, razoável? Mas, será que este ponto de vista é irrefutável?
            Começo fazendo a seguinte pergunta ao leitor: você é insaciável? Você acha que é impossível satisfazer todas as suas necessidades? Talvez, num primeiro instante, dá até para acreditar que somos plenamente saciáveis. Mas sempre vem em nossa mente aquele carro, aquela casa, aquela roupa, etc. Logo passamos a achar que nossas necessidades são ilimitadas. Mas ainda insisto: você realmente precisa daquele carro, daquela casa ou daquela roupa? Por que você precisa deles? É uma necessidade sua ou do meio no qual você vive? Sim, porque, por exemplo, aqui no Brasil, muitas pessoas têm a necessidade de assistir futebol, já nos EUA, as pessoas têm a necessidade de assistir Baseball. Ou mesmo, de um ano para outro, as pessoas têm a necessidade de usar azul, depois verde, depois bege... Quem será o responsável por isso? Para respondermos esta questão, devemos saber por que os recursos são escassos.
            O ser humano, ao trabalhar, cria riqueza sob várias formas: carros, casas, roupas, etc. Ela, por sua vez, pode ser vista sob um duplo aspecto: pelo qualitativo, que está ligado à capacidade que o objeto tem de satisfazer as necessidades do homem; e pelo quantitativo, representado pelo valor do produto. Pois bem, pergunte ao trabalhador ou empresário, ou pessoa de sã consciência, qual a finalidade de se criar carros, casas, roupas? Alguém duvida de que o objetivo é ter lucro? Mas, sem um produto qualquer não haverá valor, nem riqueza, embora seja indiferente se o produto for alimentos ou bebidas. Não importa o tipo de mercadoria a ser produzida, desde que se obtenha lucro. Mas, se é por meio da venda das mercadorias que se obtém este lucro, por que será que vemos e ouvimos em todos os lugares, que nós precisamos ter uma casa, um carro ou uma roupa diferente da que temos?
            Pois bem, se a riqueza fosse produzida com o objetivo de dar às pessoas os meios necessários a sua sobrevivência, teríamos um limite: quando todos estivessem satisfeitos, parava-se de produzir. Porém, qual o limite para a obtenção de lucro (valor)? Não há limite! Quem está satisfeito com o valor que tem hoje no bolso? Além do mais, para obter lucro ilimitadamente é necessário produzir mercadorias ilimitadamente, por isso “precisamos” ter necessidades ilimitadas, para consumirmos as ilimitadas mercadorias. Mas, para criar mercadorias é necessário utilizar os recursos, e a consequência disto é trágica, pois, mais cedo do que tarde, chegaremos ao esgotamento da Terra.
            Até os recursos considerados renováveis estão em xeque, pois a população já consome 50% a mais do que a terra é capaz de renovar. Enquanto a população mundial aumentou em 2,2 vezes, entre 1960 e 2010, o consumo de mercadorias aumentou 6 vezes. O pior é que nem todos os países são os responsáveis por isso, mas não deixam de pagar. Segundo Hélio Mattar, do Instituto Akatu e defensor do capitalismo, “Apenas 16% da humanidade são responsáveis por 78% de todo o consumo. Se todo o mundo gastasse como os habitantes mais ricos do planeta, seriam necessários quase cinco planetas”. Ou seja, se 84% dos homens vivem com 22% da riqueza, para quê e por que os outros têm tanto?
            Talvez, existam duas maneiras possíveis de se começar a evitar o colapso da natureza e do homem: 1) manter o atual, e concentrador, sistema econômico e, mesmo com todas as mazelas, transformar a preservação do planeta em mercadoria, e como tal, lucrativa; ou 2) mudar a forma como se produz e distribui a riqueza, levando em consideração o fato de que nós, animais, somos parte de um mesmo sistema, onde cada um dos elementos é respeitado de acordo com as necessidades de manutenção da sua espécie.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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quinta-feira, 14 de junho de 2012

O levantador de PIB


Semana de 04 a 10 de junho de 2012


Nelson Rosas Ribeiro[i]




            Segundo os jornais, este foi o título que o ministro Mantega se auto-concedeu. Até que ele se tem mostrado jeitoso para este tipo de atividade. Com algumas leituras marxianas, nos tempos de juventude, e keynesianas, na maturidade, o nosso ministro tem demonstrado ter aprendido alguma coisa da cartilha mais recente. Daí considerar-se “levantador de PIBs”. Caiu na ilusão dos economistas que pensam que controlam a economia e enganam os capitalistas, comandando suas ações.
            De fato, a política econômica, posta a serviço dos partidos políticos, tem criado esta ilusão, sedimentada pelas declarações dos mercenários, que a ignorância e a propaganda transformam em realidade.
            Às vezes, porém, a realidade se apresenta de forma tão violenta que não se consegue mistificá-la.  
            No caso presente, estamos diante de uma profunda crise internacional que tem a particularidade de ser muito intensa e estar se arrastando por um tempo inusitado. Se os padrões normais do ciclo, nas economias capitalistas, estivessem em vigor, ela deveria ter sido superada. A sua persistência nos indica que estamos diante de um fenômeno com características novas. Há algo muito perigoso em marcha.
            Outra conclusão obvia é que, em um mundo globalizado, esta crise envolve e arrasta todas as nações do planeta e, consequentemente, o Brasil. Como já temos dito, não ficaremos de fora. Nestas circunstâncias, as tarefas do nosso “levantador de PIB” tornam-se hercúleas. Precisaremos da ajuda de todos os anjos e santos do céu.
Infelizmente, todos os prognósticos sobre o crescimento do PIB, neste ano, estão sendo reduzidos.       Os 4,5% previstos pelo governo foram reduzidos para 3,5% e depois para 3%, diante do crescimento de 0,2% observado no primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre de 2011. Várias entidades reviram suas previsões. O BNP Paribas e o Credit Suisse reviram de 2,5% para 2%; o JP Morgan, de 2,9% para 2,1%; a Nomura Securities, de 3,5% para 1,9%; o Votorantim Corretora, de 2,9% para 2,2%. A própria sondagem do Boletim Focus, do BC, mostra uma queda de 2,99% para 2,72%, diferentemente da previsão oficial da Fazenda, que se mantém em 4%.
            O Palácio do Planalto está nervoso, o que se evidenciou na reunião convocada pela presidente com ministros da área econômica e representantes do BC e do BNDES, e na declaração da própria presidente de que o Brasil adotará uma “política pró-cíclica de investimentos”.
            As medidas adotadas até agora não têm sido suficientes. Se as novas medidas não surtirem o efeito esperado, a presidente Dilma se consagrará como “a presidenta do pibinho”. Eis a dificuldade a ser enfrentada pelo nosso “levantador de PIB”!
            E a situação internacional continua a agravar-se. Aguarda-se, a cada momento, a saída da Grécia da zona do euro, apesar dos 240 bilhões de euros que lhe foram destinados como ajuda. O país está no seu quinto ano consecutivo de recessão, com uma taxa de desemprego de 21,9% e sua economia, no primeiro trimestre deste ano, contraiu-se 6,5%, em relação ao mesmo período do ano passado. A bola da vez é a Espanha, que, finalmente, resolveu apelar para o BCE pedindo ajuda. Fala-se que são necessários 90 bilhões de euros para salvar o sistema bancário do colapso, assunto que foi tratado em uma reunião de emergência dos ministros das finanças da zona do euro.
            O Fed, BC americano, frustrou as esperanças quando, em sua reunião, não anunciou nenhuma medida para recuperar a economia, que se arrasta, e o BC chinês reduziu sua taxa de juros em reconhecimento de que a economia está desacelerando.
            Enquanto isto, os principais banqueiros do mundo, em sua reunião da primavera, organizada pelo Instituto internacional de Finanças (IIF), no castelo de Kronborg, próximo de Conpenhague, afirmam que “Está todo mundo pessimista com a falta de perspectivas”. Eles estimaram em 1,5 trilhões de euros a sua exposição em países problemáticos. Segundo o Banco Internacional de Compensações (BIS), evaporaram as esperanças de recuperação da economia mundial.
            É mesmo difícil, a situação do ministro Mantega!


[i] Professor do departamento de Economia, Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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domingo, 10 de junho de 2012

Pior que está, vai ficar!


Semana de 28 de maio a 03 de junho de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Caro leitor, em época de crise, é impossível trazer boas notícias. Como já sabemos, o continente europeu agoniza frente a uma velha dificuldade apresentada pelo capitalismo. As notícias por lá vão de mal a pior, ou seja, o circo continua pegando fogo. Constatado isto, concentrarei esta análise na conjuntura econômica interna.
            Para entendermos a dimensão da crise, basta acompanharmos o desempenho dos mais diversos setores industriais e a divulgação das estatísticas econômicas nacionais. As montadoras estão comemorando o aumento das vendas, impulsionado pela redução do IPI. Segundo a Fiat, a General Motors e a Ford, as vendas mais que dobraram, se comparadas a um fim de semana normal. A Volkswagen registrou aumento de 30%. Mas, com a queda que tem ocorrido no consumo, e consequentemente, o aumento dos estoques, as montadoras estão diminuindo a remessa de lucros para suas matrizes no exterior. Até abril as remessas caíram em 70%, comparados ao primeiro quadrimestre do ano passado.
            Há mais de 50 anos, no Brasil, a Mercedes-Benz, pela primeira vez, anunciou que vai interromper os contratos trabalhistas de 1.500 trabalhadores, na unidade de São Bernardo do Campo. A Randon, empresa produtora de autopeças, deu férias coletivas a 1.300 funcionários, que serão acompanhadas de algumas paradas gerais em datas já definidas. As montadoras de motocicletas do país, diante da queda de 11% nas vendas, no acumulado do ano, já demitiram 1.064 trabalhadores e também programaram férias coletivas, no mês de junho.
            A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), pediu novamente ao governo que as salve, reivindicando que o IPI seja fixado em 4%, para todos os produtos da linha branca, já que, para alguns, a taxa, sem qualquer isenção, atinge 20%. Segundo alguns produtores do setor, houve desaceleração das vendas. No ano passado, o crescimento atingiu dois dígitos, e, neste ano, estão crescendo a um dígito.
            Não é à toa que os mais poderosos empresários brasileiros estão avaliando estas questões. O PIB brasileiro cresceu apenas 0,2%, no primeiro trimestre de 2012, em relação ao quarto trimestre de 2011, segundo o IBGE. Comparado ao primeiro trimestre do ano passado, o PIB brasileiro apresentou alta de 0,8%. Houve expansão de 1,7% do setor industrial e queda da agropecuária de 7,3%. Mas, segundo o governo, o PIB brasileiro, neste período, ainda é um dos melhores do mundo, ou seja, estamos mal, mas os outros estão piores.
            O IEDI divulgou uma queda na atividade industrial, de 2,9%, no primeiro trimestre de 2012, em relação a 2011. Em maio, o estoque industrial subiu em 6 dos 14 setores pesquisados, segundo a FGV. Já a Fiesp prevê uma queda de 2% na atividade industrial de São Paulo e queda de 1% na indústria do país.
            As projeções continuam ladeira abaixo. O Boletim Focus do Banco Central já projeta uma taxa de 2,99% para o PIB, este ano. A projeção inicial era de 4,5%. Alguns já estimam em 2,3%.
            A equipe econômica, afirma estar 300% preparada para enfrentar a crise, mas, há um grande temor que a situação da Espanha contagie o Brasil, pois ela é o terceiro maior investidor no país. Por isto, o governo tem monitorado, diariamente, os dados econômicos europeus e acompanhado de perto as notícias da Europa.
            No início da atual crise, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, minimizou os seus efeitos, em nossa economia, dizendo que, se no exterior ela era um tsunami; aqui seria uma marolinha, que não daria nem para esquiar. Resultado: a força da crise se revelou em 2009 com o PIB crescendo apenas 0,3%. Com a forte intervenção que aconteceu, tanto interna quando externamente, parecia estarmos livres do incomodo, em 2010. Crescemos 7,5%. Mas o pífio crescimento de 2,7%, em 2011, mostrou que o fenômeno está mais vivo que nunca e, apesar dos esforços do governo, o cenário este ano tende a se repetir.
            Mesmo assim não faltam fórmulas mágicas para acabar com a crise. Paul Krugman, em seu novo livro intitulado “Acabem com esta depressão, agora!” determina sua extinção. Mas, a História Econômica tem mostrado que não é tão simples assim. Certamente não escaparemos dela, assim como não escapamos em 2009. Enganam-se os economistas que acham que domam a Economia.
            Pior que está, vai ficar!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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sábado, 2 de junho de 2012

E o circo ainda pega fogo


Semana de 21 a 27 de maio de 2012


Lucas Milanez de Lima Almeida[i]




            Há algumas semanas que estamos batendo no mesmo ponto: o circo está pegando fogo. Os artistas são: PIIGS adestrados, que, revoltados contra seus adestradores, vão parar na corda bamba; Tigres Asiáticos, que se parecem cada vez mais com gatinhos de madame; malabaristas se transformando em “desequilibristas”; mágicos que não conseguem tirar coelhos da cartola; contorcionistas que não podem se virar. Uma tragédia! O pior é que a situação desta semana que passou não melhorou nada. Pelo contrário, tudo se agravou.
            A Grécia está com apenas um dedinho na corda bamba do Euro. Analistas de todo o mundo garantem que é apenas uma questão de tempo para que o país abandone a moeda. Questão de tempo mesmo, pois se espera que ela saia nas 46 horas que separam o fechamento da última bolsa no ocidente, numa sexta-feira, e a abertura da primeira bolsa no oriente, na segunda-feira seguinte. O objetivo é aproveitar o fim de semana para não haver uma propagação dos problemas gregos para o “mercado”, pelo menos por alguns dias...
            Mas, a União Europeia já sinalizou que não quer a saída da Grécia do espetáculo. O problema é no mínimo curioso: se, por um lado, for muito dolorosa a saída, a moeda única pode perder sua credibilidade e força; por outro lado, se for muito fácil abandonar o Euro, existe o temor de que outros países, seguindo o exemplo, façam a mesma coisa e a união monetária se enfraqueça. De qualquer maneira, há uma perda para a moeda.
            E a solução dos problemas parece um globo da morte, onde cada um vai para um lado, se arriscando a bater no outro. A indignação do povo, que inventou de reagir aos planos de socorro que se apoiam nos ombros dos trabalhadores, resultou na eleição de vários políticos que defendem o estímulo da demanda, ao invés da supressão, como saída da crise. Por sua vez, a Alemanha, que já quis dominar a Europa através das guerras e agora quer dominá-la através do Euro, não admite qualquer tipo de política econômica que não seja de austeridade. Apesar da OCDE pedir o uso de “bazucas” aos policymakers europeus para resolver os problemas por lá, novas medidas financeiras estão sendo dificultadas. Semana passada, tentou-se organizar uma forma de financiamento dos países europeus por meio do chamado Eurobônus, um título de dívida que ficaria sob a responsabilidade dos países do grupo. O problema é que, além da Alemanha, Holanda, Suécia e Finlândia não aceitaram o rebaixamento ao nível de países com alto risco de calote, como Itália, França e Grécia. Por exemplo, enquanto a Espanha captou recursos a 6%, a Alemanha conseguiu vender títulos a uma taxa de juros de 0,07% ao ano.
            A situação é tão ruim que até os asiáticos estão sofrendo. Na China, já é dada c’omo certa a redução da taxa de crescimento do PIB em 2012, de 8,4%, para “apenas” 8,2%. Diante desta expectativa, o governo chinês já admite “adotar de maneira pró-ativa políticas e medidas para expandir a demanda”. No Japão, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da divida pública para A+, e com perspectivas futuras negativas.
            Andando um pouquinho mais para a direita no mapa, chegamos às Américas. Lá (quer dizer, aqui) a situação não é muito diferente. Nos EUA, como em qualquer lugar do mundo, a economia é a principal preocupação. Em pesquisa realizada pelo Washington Post e ABC News, os estadunidenses colocaram a atividade econômica como sua maior preocupação para as eleições de novembro. Não é para menos. A taxa de desemprego está em 8,1%, três pontos acima do nível registrado no início da crise, em 2008.
            Descendo até o Brasil, vemos que nossa economia parece um trapezista, que sobe, desce, cai, mas não cai: os estoques da indústria estão subindo, as empresas demitindo e concedendo férias coletivas, as exportações caindo, o consumo diminuindo, etc., ou seja, a crise está novamente se manifestando. Diante disto o pistoleiro Guido Mantega diz ter “bala na agulha” para encarar o momento adverso. A presidente Dilma, por sua vez, garantiu que o país está 300% preparado. O tiroteio, que já havia começado com a redução dos spreads, se intensificou com as já criticadas medidas de estímulo ao setor automobilístico, que, neste final de semana, bateu recordes de vendas.
            O circo está armado. O problema é que ele ainda está pegando fogo. A diferença é que agora, alheios a toda esta tormenta, estão os palhaços, que deveriam dar alegria ao público, mas estão em Brasília, trabalhando como pizzaiolos nas investigações que ocorrem por lá.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com.)
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