quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Em épocas de crise, bom é ser banqueiro


Semana de 29 de outubro a 04 de novembro de 2012


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Você, leitor, que acompanha a nossa coluna, deve ter percebido que as nossas últimas análises têm abordado a expectativa da economia mundial e brasileira acerca da recuperação da atividade econômica, que permanece incerta.
            A passagem da supertempestade Sandy pelos Estados Unidos provocou uma destruição tão violenta que o pífio crescimento já observado deve ficar menor no quarto trimestre. Segundo a empresa de consultoria IHS Global Insigth, com a tempestade, a economia norte-americana perderá, em crescimento, 0,6 ponto percentual.
            Na Europa, destaca-se novamente a situação crítica da Grécia, com um problema que parece não ter solução. A Grécia vê negada, pela Alemanha, qualquer possibilidade de ajuda na reestruturação da sua dívida. A Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) estuda uma recompra da dívida grega e, ao mesmo tempo, uma redução das taxas de juros pagas sobre os empréstimos de emergência, o que reduziria a dívida. Mas, o acordo só sairá em 12 de novembro, data em que se reunirão os ministros das Finanças da zona do euro.
            No Brasil, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, declarou que o país está dando uma lição ao mundo de como enfrentar a crise mundial sem impor sacrifícios à população. O ministro garantiu que a economia brasileira crescerá 4% no quarto trimestre e que o vôo de 2013 não será de galinha. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como sempre otimista, estima um crescimento, no ano que vem, entre 4% e 4,5%.
Enquanto isso, a crise continua a derrubar os lucros. Referimo-nos aos lucros das empresas produtivas, porque o setor financeiro, e em especial o bancário, vai muito bem, obrigado. Os balanços trimestrais dos bancos do mundo inteiro continuam a registrar ganhos. Apesar da crise, o lucro líquido do Deustche Bank da Alemanha, no terceiro trimestre, cresceu 3% comparado ao mesmo período do ano anterior.
            O lucro líquido do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), segundo maior banco da Espanha, caiu 82% no terceiro trimestre. A princípio o número assusta, mas o banco tem seus portos seguros nos mercados emergentes, é claro. O lucro do BBVA no México, no terceiro trimestre, cresceu 7,4% e, na América do Sul, aumentou 23%.
            O Barclays, que declarou um juro mais baixo do que aquele que realmente pagava para demonstrar “boa saúde financeira”, há um mês, virou alvo de investigação pelos órgãos britânicos por tentar manipular a taxa Libor, taxa que referencia todos os tipos de crédito às pessoas físicas e empresas. Mesmo com esta intempérie e com suas ações caindo em torno de 5%, lucrou 17% no terceiro trimestre.
            O banco suíço UBS anunciou um lucro líquido de 15,5%, mas também anunciou que vai demitir 10 mil trabalhadores, o que representa 15% do seu pessoal. A medida, segundo a instituição, visa poupar 3,6 bilhões de dólares e reflete também o prejuízo que o banco teve com a redução dos negócios com títulos. O negócio do momento para a instituição é o gerenciamento de grandes fortunas, que deverá trazer um retorno de 26%, em 2013. O UBS é o segundo, no ranking mundial, dos que mais lucraram com este tipo de operação. Socorrido no início da crise em 2008 pelo governo suíço, vai continuar lucrando se depender do governo brasileiro.
            O UBS vendeu a totalidade de suas operações brasileiras em 2009. Denominado de UBS Pactual, o banco saiu do país para voltar a operar na Europa, diante das dificuldades enfrentadas com a crise.      Mas, o governo brasileiro vai pedir brevemente, por meio de um decreto, que o UBS volte a operar como banco múltiplo no país. A volta da instituição financeira é considerada uma questão de “interesse nacional”, pois, segundo o governo, o ingresso do UBS no sistema financeiro brasileiro traria benefícios sociais, já que elevaria a concorrência do setor.
            Bem, foi por meio de um decreto que a presidente Dilma assassinou o português e passou a exigir que a chamem de “presidenta”. Agora, é também através de decreto, que se determinam os interesses nacionais?
            A verdade é que, em época de crise, o bom mesmo é ser banqueiro!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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