quinta-feira, 27 de junho de 2013

Protestos contra as tarifas dos transportes públicos?

Semana de 17 a 23 de junho de 2013


Nelson Rosas Ribeiro[i]




Os gritos dos protestos continuam a ecoar nas ruas e nas praças. Toda a imprensa, falada e escrita, repete as notícias e já não sabemos se são manifestações de ontem, de hoje ou de amanhã. Políticos envergonhados escondem-se em seus gabinetes, de onde dizem e desdizem o que disseram com total descaramento à medida que crescem os protestos. A realidade tem obrigado todos a reconhecerem a legitimidade das manifestações. Mas, de imediato, passam a criticar, denunciar e ameaçar os “baderneiros, vândalos”, etc., responsáveis pelos atos de violência e depredações do patrimônio público e privado.
É claro que em manifestações que envolvem a participação de milhares de pessoas, a possibilidade de violências estará sempre presente, mais ainda quando a multidão se confronta com forças de repressão agressivas e despreparadas para enfrentar tais situações, ou melhor, treinadas para a repressão brutal e indiscriminada. As violências vão se generalizando diante dos olhos da nação e dos políticos incapazes de compreender o que se está passando.
Embora muitas conclusões possam ser tiradas dos acontecimentos e muitos estudos ainda sejam necessários, gostaríamos de destacar duas grandes lições que daí se derivam.
A primeira é o fato de que nenhum político, partido, entidade sindical ou associação de qualquer natureza esteja convocando ou liderando as manifestações. Isto demonstra a falência da “democracia” tal como a conhecemos no Brasil. A multidão não se sente representada por nenhuma organização ou instituição das existentes no país e, nestas circunstâncias, explode em ações de revolta.
A segunda lição é que, embora deflagradas contra o aumento das passagens de ônibus, as ações mostram o descontentamento com a ação do estado em relação à saúde, educação, saneamento, mobilidade, segurança, etc., e com a corrupção e impunidade dos que ocupam cargos públicos nos poderes legislativo, executivo, judiciário, nacionais ou locais.
A grande conclusão que podemos tirar é que a “democracia” em funcionamento no país hoje faliu. É preciso, com urgência, criar outra antes que seja tarde demais.
Excluindo-se os atos criminosos, as ações das quadrilhas, que realizam roubos, arrastões, assaltos diariamente, e com mais facilidade passaram a agir no meio dos protestos, a maioria dos atos chamados de vandalismo não passaram de formas de manifestação violenta, da fúria reprimida das pessoas, em desespero e sem conseguir atingir os responsáveis pelos desmandos, bem protegidos pelas togas, gravatas, carros blindados, forças armadas, etc.
Na impossibilidade de atingir os responsáveis, a multidão atira-se contra os símbolos do poder. É só mostrar onde podem ser encontrados os Renans, Sarneys da vida, e o povo não mais destruirá assembleias, câmaras, tribunais, palácios, etc.
O pior é que tudo está ocorrendo em um momento de grande instabilidade da economia mundial, agravado pela ameaça de mudança da política monetária do Banco Central dos EUA (Fed), anunciada em um pronunciamento de seu presidente Ben Bernanke. Segundo ele, o Fed prepara-se para encerrar o afrouxamento quantitativo (QE), ou seja, reduzirá suas emissões de dólares que tem enchido os cofres dos bancos e alimentado a especulação. Isto foi o bastante para provocar o desespero dos especuladores e o deslocamento de vultosas quantias de dólares em busca de maiores rendimentos, provocando alterações cambiais no mundo inteiro e quedas nas bolsas.
É claro que esta situação agrava a instabilidade da economia brasileira que vem desacelerando seus ritmos de crescimento e revivendo o fantasma da inflação, o que se soma à ameaça da desaceleração da China, um dos nossos maiores parceiros comerciais.
Incapaz de dar uma solução satisfatória para os problemas apresentados pelas multidões enfurecidas, entre os quais destaca-se a corrupção que corrói o seu próprio partido, está ficando difícil a situação do governo Dilma, em campanha para a reeleição.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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