Semana de 09 a 15 de junho de 2008
Há mais de uma década o Brasil cresce aquém de quase todos os países emergentes e alguns desenvolvidos. Houve anos em que só não ficou em último lugar porque o Haiti conseguiu ser pior,deixando-o na penúltima posição das Américas. No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 5,7%, uma taxa bastante elevada se comparada com taxas de anos anteriores, porém, quando comparada com outras economias, em 2007, o Brasil, mais uma vez, ficou atrás.
Apesar disto, 2008 começou com o otimismo em alta, na expectativa de que o resultado de 2007 será repetido por um longo período de tempo e que o “vôo de galinha” dará lugar ao “vôo da águia”, iniciando o crescimento sustentável tão prometido pelo governo Lula. Mas, os resultados do PIB no primeiro trimestre já começam a indicar que a galinha não virará águia.
No primeiro trimestre de 2008, em comparação com o mesmo período de 2007, a economia brasileira cresceu 5,8%, sendo esta a maior expansão desde 1996. No acumulado de 12 meses, o resultado também foi recorde. Porém, o ritmo de crescimento já dá sinais de desaceleração, pois, de janeiro a março,o PIB cresceu 0,7%, em relação ao último trimestre de 2007, resultado que projeta uma taxa anualizada de 3% contra um esultado anualizado de mais de 6% no quarto trimestre de 2007. Isto mostra que, no primeiro trimestre, houve uma forte desaceleração, já que um crescimento de 6% ao ano (com base nos dados dos 3 últimos meses de 2007), caiu pela metade (quando a referência são os 3 primeiros meses de 2008).
Segundo o IBGE, o crescimento da indústria (6,9%), dos investimentos (15,2%) e do consumo das famílias (6,9%) liderou a expansão do PIB no primeiro trimestre de 2008, em relação a igual período de 2007. O consumo das famílias foi puxado pela continuidade do aumento do crédito (33,7%) e de uma elevação de 6,9% da massa salarial. O resultado da indústria deveu-se ao crescimento da construção civil e de alguns ramos da indústria de transformação como: máquinas e equipamentos, utomobilística, metalurgia, gás e petróleo e material elétrico. Embora o consumo das famílias tenha crescido 6,6% no primeiro trimestre, o indicador já denota sinais de desaceleração, já que a alta foi de apenas 0,3% na comparação com o quarto trimestre de 2007.
O emprego industrial de abril sofreu queda de 0,2% em relação a março, e a folha de pagamento caiu 1,3%. Apesar do resultado, o emprego fechou o primeiro quadrimestre com alta de 3%.
O governo mostrou-se satisfeito com estes resultados, apresentando como positiva a desaceleração verificada, interpretada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como “um pouco de água fria na fervura”. A influência do BC no governo leva-o a acreditar que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda é o principal responsável pela aceleração dos preços. Na ata do Copom, embora reconheça que o aumento internacional do preço das commodities e dos alimentos afeta a inflação, o BC aponta um excesso de demanda sobre a oferta como o principal responsável por ela. Com a intenção de restabelecer o equilíbrio, o BC afirma que continuará elevando a taxa de juros.
Sob esta alegação, a taxa básica de juros, que já era a maior do mundo, voltou a ser elevada passando a 12,25%. Pode-se constatar, porém, dois grandes absurdos cometidos na execução desta política econômica.
O primeiro é diagnosticar a inflação brasileira como excesso de demanda. Em que dados o Banco Central está se baseando para tal? A expansão das importações é menos um efeito do crescimento da renda doméstica e mais um efeito-preço, ou seja, reflexo da valorização cambial provocada pela própria política de juros altos do BC, o que, somado a uma taxa de crescimento do investimento superior ao crescimento do consumo, não permite concluir que o país está enfrentando grandes dificuldades para atender a sua demanda.
O segundo grande erro é elevar a taxa de juros para combater uma inflação que atualmente é mundial, causada em grande medida pela especulação em torno das commodities, nas bolsas mundiais. O preço das commodities continua batendo recordes na bolsa de Chicago, aumentando a pressão sobre os preços mundiais. Desde janeiro, os contratos de soja e milho subiram 34,67% e 45,59%, respectivamente. O preço do trigo também teve alta expressiva de 7,2% e o açúcar de 5,3%.
No Brasil, o IPCA subiu 0,79% em maio (acima do 0,55% de abril), tendo sido os alimentos os principais vilões deste resultado. No ano, o IPCA acumulou alta de 2,88%, sendo o grupo alimentos e bebidas o responsável por 1,34%, ou seja, 48% do índice.
Assim, o preço que teremos que pagar pela tentativa de conter uma inflação, causada por motivos exógenos, será o aumento da dívida pública e o comprometimento ainda maior da competitividade da indústria brasileira (com a valorização cambial), o que coloca em xeque a manutenção da atividade econômica.
Graças a esta política, a galinha não vira águia e, agora, num cenário internacional totalmente desfavorável (ao contrário dos anos anteriores em que tal política equivocada ocorria num contexto de crescimento mundial), a conjunção dos erros do BC levará a uma metamorfose contrária, ou seja, a galinha não virará águia e sim voltará a ser uma franga (que nem sequer um pequeno vôo é capaz de fazer).
O quadro de estagflação rompe as fronteiras da economia norte-americana e se alastra pelo mundo inteiro. As últimas vítimas são o Japão e a Argentina. No Japão os preços recordes do petróleo e das matérias-primas desencorajaram as empresas a fazerem contratações e investirem, conforme relatório do governo. A produção da indústria de transformação está caindo e os lucros se deteriorando.
A economia da Argentina também demonstra sinais de desaceleração, tendo a venda de máquinas agrícolas caído em 50%, em decorrência de uma greve de 90 dias de milhares de agricultores, revoltados com a acentuada alta nos impostos das exportações de soja e outros alimentos. O diretor da consultoria Ecolatina, Ricardo Delgado, destacou: “o agravamento do conflito (agrário) começa a funcionar como um catalisador de um processo gradual e permanente de deterioração da economia”.
Na Venezuela, a inflação disparou no mês de maio, pois enquanto o BC venezuelano projetava uma variação de 1,9% para o tradicional índice de preços que mede a inflação em Caracas, o índice variou 3,5%, impulsionado por uma alta geral nos preços no país.
E, nos Estados Unidos, os sinais da crise são cada vez mais fortes. De acordo com Livro Bege (relatório do Banco Central – Fed), a atividade econômica se mantém fraca, com uma desaceleração do consumo devido à disparada dos preços do petróleo e dos alimentos. De um lado, o mercado de trabalho está em declínio, limitando aumentos salariais. De outro, os custos dos alimentos e combustíveis continuam subindo. O desemprego no país atingiu a maior marca em 20 anos, chegando a 5,5%. Há uma perda de postos de trabalho em cinco meses seguidos. Os empregadores fazem cortes para proteger lucros, em um momento em que os preços das matérias-primas disparam e as vendas desaceleram. O panorama da economia mundial continua a mover-se em um quadro de agravamento da crise que se alastra cada vez mais.
Apesar disto, 2008 começou com o otimismo em alta, na expectativa de que o resultado de 2007 será repetido por um longo período de tempo e que o “vôo de galinha” dará lugar ao “vôo da águia”, iniciando o crescimento sustentável tão prometido pelo governo Lula. Mas, os resultados do PIB no primeiro trimestre já começam a indicar que a galinha não virará águia.
No primeiro trimestre de 2008, em comparação com o mesmo período de 2007, a economia brasileira cresceu 5,8%, sendo esta a maior expansão desde 1996. No acumulado de 12 meses, o resultado também foi recorde. Porém, o ritmo de crescimento já dá sinais de desaceleração, pois, de janeiro a março,o PIB cresceu 0,7%, em relação ao último trimestre de 2007, resultado que projeta uma taxa anualizada de 3% contra um esultado anualizado de mais de 6% no quarto trimestre de 2007. Isto mostra que, no primeiro trimestre, houve uma forte desaceleração, já que um crescimento de 6% ao ano (com base nos dados dos 3 últimos meses de 2007), caiu pela metade (quando a referência são os 3 primeiros meses de 2008).
Segundo o IBGE, o crescimento da indústria (6,9%), dos investimentos (15,2%) e do consumo das famílias (6,9%) liderou a expansão do PIB no primeiro trimestre de 2008, em relação a igual período de 2007. O consumo das famílias foi puxado pela continuidade do aumento do crédito (33,7%) e de uma elevação de 6,9% da massa salarial. O resultado da indústria deveu-se ao crescimento da construção civil e de alguns ramos da indústria de transformação como: máquinas e equipamentos, utomobilística, metalurgia, gás e petróleo e material elétrico. Embora o consumo das famílias tenha crescido 6,6% no primeiro trimestre, o indicador já denota sinais de desaceleração, já que a alta foi de apenas 0,3% na comparação com o quarto trimestre de 2007.
O emprego industrial de abril sofreu queda de 0,2% em relação a março, e a folha de pagamento caiu 1,3%. Apesar do resultado, o emprego fechou o primeiro quadrimestre com alta de 3%.
O governo mostrou-se satisfeito com estes resultados, apresentando como positiva a desaceleração verificada, interpretada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como “um pouco de água fria na fervura”. A influência do BC no governo leva-o a acreditar que o desequilíbrio entre a oferta e a demanda é o principal responsável pela aceleração dos preços. Na ata do Copom, embora reconheça que o aumento internacional do preço das commodities e dos alimentos afeta a inflação, o BC aponta um excesso de demanda sobre a oferta como o principal responsável por ela. Com a intenção de restabelecer o equilíbrio, o BC afirma que continuará elevando a taxa de juros.
Sob esta alegação, a taxa básica de juros, que já era a maior do mundo, voltou a ser elevada passando a 12,25%. Pode-se constatar, porém, dois grandes absurdos cometidos na execução desta política econômica.
O primeiro é diagnosticar a inflação brasileira como excesso de demanda. Em que dados o Banco Central está se baseando para tal? A expansão das importações é menos um efeito do crescimento da renda doméstica e mais um efeito-preço, ou seja, reflexo da valorização cambial provocada pela própria política de juros altos do BC, o que, somado a uma taxa de crescimento do investimento superior ao crescimento do consumo, não permite concluir que o país está enfrentando grandes dificuldades para atender a sua demanda.
O segundo grande erro é elevar a taxa de juros para combater uma inflação que atualmente é mundial, causada em grande medida pela especulação em torno das commodities, nas bolsas mundiais. O preço das commodities continua batendo recordes na bolsa de Chicago, aumentando a pressão sobre os preços mundiais. Desde janeiro, os contratos de soja e milho subiram 34,67% e 45,59%, respectivamente. O preço do trigo também teve alta expressiva de 7,2% e o açúcar de 5,3%.
No Brasil, o IPCA subiu 0,79% em maio (acima do 0,55% de abril), tendo sido os alimentos os principais vilões deste resultado. No ano, o IPCA acumulou alta de 2,88%, sendo o grupo alimentos e bebidas o responsável por 1,34%, ou seja, 48% do índice.
Assim, o preço que teremos que pagar pela tentativa de conter uma inflação, causada por motivos exógenos, será o aumento da dívida pública e o comprometimento ainda maior da competitividade da indústria brasileira (com a valorização cambial), o que coloca em xeque a manutenção da atividade econômica.
Graças a esta política, a galinha não vira águia e, agora, num cenário internacional totalmente desfavorável (ao contrário dos anos anteriores em que tal política equivocada ocorria num contexto de crescimento mundial), a conjunção dos erros do BC levará a uma metamorfose contrária, ou seja, a galinha não virará águia e sim voltará a ser uma franga (que nem sequer um pequeno vôo é capaz de fazer).
O quadro de estagflação rompe as fronteiras da economia norte-americana e se alastra pelo mundo inteiro. As últimas vítimas são o Japão e a Argentina. No Japão os preços recordes do petróleo e das matérias-primas desencorajaram as empresas a fazerem contratações e investirem, conforme relatório do governo. A produção da indústria de transformação está caindo e os lucros se deteriorando.
A economia da Argentina também demonstra sinais de desaceleração, tendo a venda de máquinas agrícolas caído em 50%, em decorrência de uma greve de 90 dias de milhares de agricultores, revoltados com a acentuada alta nos impostos das exportações de soja e outros alimentos. O diretor da consultoria Ecolatina, Ricardo Delgado, destacou: “o agravamento do conflito (agrário) começa a funcionar como um catalisador de um processo gradual e permanente de deterioração da economia”.
Na Venezuela, a inflação disparou no mês de maio, pois enquanto o BC venezuelano projetava uma variação de 1,9% para o tradicional índice de preços que mede a inflação em Caracas, o índice variou 3,5%, impulsionado por uma alta geral nos preços no país.
E, nos Estados Unidos, os sinais da crise são cada vez mais fortes. De acordo com Livro Bege (relatório do Banco Central – Fed), a atividade econômica se mantém fraca, com uma desaceleração do consumo devido à disparada dos preços do petróleo e dos alimentos. De um lado, o mercado de trabalho está em declínio, limitando aumentos salariais. De outro, os custos dos alimentos e combustíveis continuam subindo. O desemprego no país atingiu a maior marca em 20 anos, chegando a 5,5%. Há uma perda de postos de trabalho em cinco meses seguidos. Os empregadores fazem cortes para proteger lucros, em um momento em que os preços das matérias-primas disparam e as vendas desaceleram. O panorama da economia mundial continua a mover-se em um quadro de agravamento da crise que se alastra cada vez mais.
Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida - Professora da faculdade IESP e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira(progeb@ccsa.ufpb.br)
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