terça-feira, 27 de agosto de 2013

Câmbio, inflação e crise



Semana de 19 a 25 de agosto de 2013


Rosângela Palhano Ramalho[i]



            Caro leitor. Ao iniciar esta análise, repetiremos o discurso de que tudo se mantém como está. A recuperação das maiores economias, Europa e Estados Unidos, continuam rastejantes, enquanto que as economias emergentes preocupam. A indecisão do Federal Reserve (Fed), BC americano, em conter o afrouxamento monetário, continua causando estragos. A migração de retorno chamada de “tsunami monetário” acabou por acentuar os problemas dos emergentes.
            Índia e Brasil, por exemplo, têm sofrido com as saídas de capital. A rúpia, moeda indiana, em agosto desvalorizou-se 4,21%. Mesmo assim, o país descartou o uso de mais medidas para conter a saída de recursos e afirmou que as reservas de US$ 279 bilhões serão suficientes para impedir a desvalorização. Entre os emergentes, o nosso real, foi a moeda que mais se desvalorizou, em agosto, 5,97%. O governo, que já admite uma alta da inflação, teme que os resultados do câmbio contribuam para o aumento dos preços.
            O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, ao comentar o índice de inflação de julho, em que o IPCA fechou com uma pequena alta de 0,03%, o menor valor mensal desde 2010, apressou-se em declarar que um valor tão pequeno não se repetirá até o fim do ano. Ou seja, a queda de preços dos transportes e dos alimentos, verificadas mês passado, não mais contribuirá para a redução do índice geral. Em sentido contrário, o mercado cambial poderá contribuir para as próximas altas. Com efeito, já está sendo registrada uma série de declarações da indústria confirmando o aumento de preços no setor, justificado pela elevação dos preços dos insumos que afetam os custos de produção.
            Boas notícias só para aqueles que sugam e vivem dos recursos oriundos do mercado financeiro e que acabam ditando os rumos da política econômica. Com a alta do dólar, as perspectivas de inflação sobem, consequentemente os juros futuros também se elevam e o pessimismo que é exagerado, segundo Delfim Netto, se concretiza.
            Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, também concorda que há um exagero de pessimismo em relação aos mercados de juros e câmbio, mas tratou de fazer as vontades do “mercado” declarando que a “adequada condução da política monetária contribui para mitigar riscos para a inflação, a exemplo dos oriundos da depreciação cambial”. Isto significa que a atual política de elevação dos juros será mantida. A declaração deve ter soado como música para os ouvidos do sistema financeiro!
            Resta então, à equipe econômica, render-se ao “mercado” e lançar seu arsenal para tentar conter a desvalorização do real. O Banco Central já fez intensas intervenções no câmbio, vendendo dólares no mercado futuro para “acalmar” os “investidores”. Guido Mantega já admitiu que, se for preciso, o Banco Central injetará um valor maior que os US$ 60 bilhões já lançados no mercado.
            Enquanto finalizo esta análise leio um discurso de Mantega que classifica o momento atual como uma “minicrise”. Uma “minicrise”, uma pequena “turbulência” que não pode ser comparada aos momentos vividos em 2011 e 2012. O fato é que o voo da economia brasileira há alguns anos, está muito baixo e as turbulências cada vez mais frequentes. Enfrentar a “turbulência” atual está saindo muito custoso para o governo. De um lado, há a pressão do sistema financeiro por juros altos; do outro, a apatia dos empresários em relação a retomada dos investimentos. E agora, o que fazer?
            Se por um lado, o governo garante os rendimentos do sistema financeiro, por outro, tem que admitir que a economia real não crescerá tanto este ano. O Ministério da Fazenda, “repensou” sua estimativa de crescimento para o PIB de 2013. A revisão derrubará o PIB de 3% para 2,5%, enquanto que a previsão do Boletim Focus já se encontra em 2,2%.
            Se dependermos, para crescer, das obras rodoviárias do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), teremos que esperar mais sete anos. As nove principais obras já apresentam atrasos que variam de dois a sete anos, se for considerado o tempo decorrente entre a previsão da conclusão no PAC I e o atual.
            Mas a eleição acontecerá no próximo ano, e o governo não pode esperar. Vamos aguardar o próximo arsenal, se ainda existir...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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