Semana de 03 a 09 de fevereiro de 2014
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Na semana passada, esta coluna destacou a repercussão das ações do Federal Reserve, banco central dos EUA, sobre a economia mundial. Agora é a vez de olharmos para a atividade produtiva do nosso país, a partir dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do recorde de vendas de colheitadeiras, em todo o ano de 2013, estimuladas pelos subsídios do BNDES, em janeiro de 2014, as montadoras venderam 28,87% a menos do que no mesmo mês do ano passado. No caso da comercialização de tratores, a queda foi ainda maior, apresentando vendas 31,05% menores na comparação entre o primeiro mês de 2014 e janeiro de 2013. Isto, porém, já era de se esperar. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI) diminuiu seus estímulos ao elevar os juros do financiamento de máquinas e equipamentos.
Ao analisar a indústria de uma maneira geral, podemos afirmar que 2013 foi uma verdadeira montanha russa, pois, dos doze meses do ano, sete foram de crescimento e cinco de decrescimento, já com o ajuste sazonal.
Temos uma ideia da amplitude das variações quando comparamos um mês com o imediatamente anterior. Em janeiro de 2013, a indústria cresceu 3,2%, mas em fevereiro caiu 2,9% e em março e abril subiu 0,8% e 1,5%, respectivamente. Nos três últimos meses daquele ano a coisa piorou de vez: o crescimento foi de 0,3% em outubro, mas em novembro e dezembro as quedas foram de 0,6% e 3,5%. Inclusive, a queda expressiva, no último mês de 2013, foi o pior resultado desde 2008, quando o país foi atingido pela crise econômica mundial conhecida como “marolinha”. O desempenho mensal foi tão ruim que o índice da produção industrial, medido pela Pesquisa Mensal da Indústria, regrediu a patamares de dezembro de 2009. Nem as piores previsões dos “melhores analistas do mercado” esperavam tal queda.
Desagregando por categorias de uso, todos os setores da indústria apresentaram dados negativos em dezembro, em relação a novembro: Bens de Capital, queda de 11,6%, Bens Intermediários, -3,9%, Bens de Consumo Duráveis, -2,3% e Bens Semi e Não Duráveis, -2,3%. Quando comparamos o mês de dezembro de 2013 com o mesmo mês de 2012, apenas a indústria de Bens de Capital melhorou crescendo 1,8%.
O resultado da brincadeira de sobe e desce da indústria brasileira, em 2013, foi um crescimento acumulado de 1,2%, em relação ao ano de 2012. Desagregando, vemos um resultado, no mínimo, curioso: apenas a indústria de Bens Semi e Não Duráveis (-0,5%) teve redução na produção de 2013, em relação a 2012. As indústrias de Bens de Capital (13,3%) e de Bens de Consumo Duráveis (0,7%) tiveram variação positiva, enquanto a indústria de Bens Intermediários ficou estável. Por sua vez, das 14 localidades pesquisadas, apenas Goiás (8,2%), Pernambuco (3,3%) e Pará (0,9%) apresentaram crescimento.
De um total de 27 ramos pesquisados, 22 apresentaram retração na produção de dezembro, em relação a novembro de 2013. O pior setor foi o automobilístico que, dadas as “excessivas” férias coletivas concedidas aos funcionários, caiu 17,5%. Na mesma esteira seguiram os setores farmacêutico (-11,7%), máquinas e equipamentos (-6,2%) e refino de petróleo e produção de álcool (-4,3%).
Ao observar tais dados e associá-los àqueles apresentados nas análises anteriores, em especial a pressão que o Banco Central do Brasil receberá do “mercado” para aumentar a taxa básica de juros da economia, não podemos esperar muito do ainda PIBinho brasileiro. A situação chegou a tal ponto que, além da participação nos BRICS, fomos incluídos nos BIITS, novo grupo criado pelo banco Morgan Stanley, formado pelos mais frágeis países em desenvolvimento: Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África do Sul.
Na contramão segue a esperançosa presidenta Dilma, que se meteu no Fórum Econômico Mundial, em Davos, para propagandear o Brasil e seduzir o empresariado internacional a investir aqui. A questão é que não estamos sós diante dos problemas econômicos. Alemanha e França também apresentaram retração na produção de dezembro e, neste mesmo mês, os estoques nos EUA atingiram o maior patamar já registrado.
Os dados da indústria brasileira nos mostram uma montanha russa. O preocupante é que o motor que a impulsiona está usando combustível “batizado”.
[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)
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