Semana de 03 a 09 de março de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor. Mal conseguimos vislumbrar a recuperação da atual crise da economia mundial, e já há rumores de que um novo problema está prestes a eclodir. Não cessam as notícias relacionadas à desaceleração da economia chinesa e em particular, do seu problemático sistema financeiro.
Este ano, espera-se uma taxa de crescimento para a China próxima a 7,5%, o mesmo número do ano passado. Vale ressaltar que a média do crescimento chinês dos últimos 30 anos foi de 9,9% anuais. Os altos níveis de crescimento observados neste país têm provocado sérios problemas estruturais como o excesso de crédito, alta utilização da capacidade na indústria, altos níveis de poluição e elevado êxodo rural, problemas que condicionaram o governo chinês a pôr o pé no freio. Mas, o freio não será tão grande. O governo, segundo declaração oficial no 14º Congresso Nacional do Povo, tentará garantir os 7,5% e tolerará um mínimo de até 7,2%.
A desaceleração na China certamente reduzirá os números do comércio global e o crescimento mundial, já que o país ocupa o primeiro lugar no ranking mundial em termos do volume de comércio, além de ser a segunda maior economia.
Associado à questão da desaceleração está outro problema: o sistema financeiro chinês. O país que, como todos os demais, para fugir dos efeitos da crise, injetou recursos na economia, sofre uma expansão violenta do crédito e convive com o crescimento de um monstro: o sistema financeiro paralelo.
Os meios de pagamento em conceito amplo, chamado M2 e que inclui aplicações financeiras, títulos do governo, poupança e depósitos à prazo, além do dinheiro em poder do público, alcançaram 110,7 trilhões de yuans, ou US$ 18 trilhões, quase o dobro do PIB do país, em 2013. A China então passou a limitar o papel dos intermediários financeiros dos bancos comerciais. A medida acabou estimulando o crescimento do setor bancário não regulamentado e como as pequenas e médias empresas não conseguem crédito formalmente, o setor financeiro paralelo não para de crescer.
A taxa de juros que remunera estes empréstimos, como é de se esperar, é bastante alta, chegando em média a 10%. Como muitas empresas, principalmente as do ramo imobiliário estão financiando suas atividades no setor paralelo, cresce a inadimplência e os riscos de uma “bolha” financeira. Dados mostram que pelo menos 250 empresas apresentam uma relação dívida/patrimônio maior que 200%, sendo que em 65 delas, esta relação ultrapassa 400%.
Outra realidade pode reduzir o pânico em relação à possível crise chinesa. A recuperação das economias dos Estados Unidos e da Europa, se garantida, revigoraria a demanda externa, o que elevaria as exportações chinesas em mais de 10%, em 2014. Tal condição garantiria o crescimento do PIB deste ano, entre 7,5% e 8%.
Num mundo em que a economia é globalizada, globalizados também são os seus problemas. Impossível partilhar a opinião de alguns economistas brasileiros de que a nossa pífia taxa de crescimento seja culpa exclusiva das irresponsabilidades do governo. Nenhuma das economias afetadas pela crise se recuperará, sem que haja a recuperação americana e europeia. Basta para isso olhar os efeitos mundiais do “tapering” dos Estados Unidos e da desaceleração chinesa.
Mas a emissão desenfreada de papéis que é feita no mercado financeiro, a intervenção governamental de crédito realizada por todas as economias afetadas pela crise, a desaceleração econômica da China e sua “bolha financeira” lançam dúvidas de como a economia mundial se recuperará. Por causa destas questões, alguns analistas já consideram a proximidade de uma nova crise, que pode vir novamente das bolhas financeiras geradas no período pós-crise.
Segundo o economista francês François Chesnais, “as sementes de uma nova crise estão postas”, garantidas principalmente pela alta desregulamentação do sistema financeiro mundial. A prevalecer esta opinião, a situação chinesa é que está mais propícia para impulsionar tal processo.
Será que o gigante chinês tombará?
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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