quarta-feira, 19 de março de 2014

Um país de joelhos



Semana de 10 a 16 de março de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Ela vem aí! Tremei, senhores! Preparei vossas bundas que Lisa acaba de chegar e com a schinella na mão. È visível o nervosismo geral. Correm esbaforidos ministros, secretários, diretores, funcionários (até o encarregado do cafezinho). O governo está em polvorosa. Mas, quem será a Lisa? Garanto que não é a presidenta dos EUA, nem a secretária geral da ONU, nem a generala comandante das forças atômicas da OTAN, nem uma ET que aterrou distraída. Então por que ela põe um país de joelhos?
Por mais inacreditável que pareça, e para vergonha nossa, Lisa Schineller é uma reles economista da agência de rating Standard & Poor’s que vem “dissecar as contas do Tesouro” e “conversar” com as autoridades locais ameaçando rebaixar a classificação do Brasil, de BBB e retirar o “grau de investimento” que nos concederam desde 2008. Como os leitores sabem, existem três grandes agências que fazem a classificação do risco que os países apresentam para pagar seus compromissos: a Fitch (que já enviou seus fiscais) a Moody’s (que os enviará em abril) e a Standard & Poor’s que se encontra em pleno processo de fiscalização comandada pela temida Lisa. Aos pés dessa senhora derrete-se o ministro Mantega e toda a sua equipe prestando contas do dever de casa realizado. O Banco Central também é chamado à ordem. Seu presidente, o Tombini, Insaciável, Schineller continua seu périplo por Brasília, São Paulo e Rio ouvindo economistas, banqueiros, executivos, diretores de empresas e do setor financeiro. Nem a Petrobrás e o BNDES escapam das schinelladas da madame.
Esta é uma demonstração do poder do capital financeiro. É preciso dar garantias aos especuladores que todos continuarão pagando os juros a fim de obter novas esmolas. Temos um país vergonhosamente de joelhos ante o novo deus do planeta. Estamos todos pagando as penitências e prometendo um bom comportamento futuro para que, uma empresa de idoneidade duvidosa, não rebaixe a classificação do país.
Enquanto oramos e trememos o velho mundo continua a sua marcha. Nos Estados Unidos, o novo vice-presidente do Federal Reserve (Fed) banco central americano, Stanley Fischer, recomenda a manutenção de uma política monetária expansionista para não prejudicar a claudicante recuperação. No Japão, com medo da recente elevação do IVA (imposto sobre valor acrescentado), de 5% para 8%, o BC manteve a compra de ativos no valor de 60 a 70 bilhões de ienes, apesar do volume em carteira já ultrapassar um trilhão de ienes. Na Itália, o novo primeiro ministro Matteo Renzi sinaliza para o fim da austeridade, provocando irritação nas autoridades da Comissão Europeia que exigem o cumprimento dos compromissos assumidos. Na China, a situação continua a agravar-se com a desaceleração de todos os setores da economia nos dois primeiros meses do ano e o primeiro caso de insolvência de uma empresa incapaz de pagar US$ 14,7 milhões de juros de empréstimos contraídos. Suspeita-se que este será o primeiro de uma sucessão de outros estouros pois as dívidas das empresas e governos locais ultrapassam centenas de bilhões de dólares. As consequências espalham-se pelos mercados da Ásia com a venda precipitada de ações das empresas chinesas e queda nos preços das commodities que o país importa.
Resumindo tudo isto, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) divulgou sua previsão sobre a desaceleração das economias dos emergentes e a expansão moderada da economia mundial. O Banco Internacional de Compensações (BIS) alertou para o perigo da elevação das taxas de juros nos emergentes (conselho que nosso BC não ouviu) ao mesmo tempo em que chamou a atenção para o montante global dos títulos de dívidas que já ultrapassa os US$ 100 trilhões, 42% maior que em 2007. Cálculos feitos pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) mostram que a dívida total do mundo, incluindo os setores públicos e privados, chega a US$ 223 trilhões, ou seja, 313% do PIB mundial.
No Brasil a produção industrial continua a rastejar e, em ano eleitoral, a presidente Dilma vem sendo pressionada a fazer uma política econômica de austeridade.
E no meio disto tudo, e das chantagens políticas, ela precisa ganhar as eleições!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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