Semana de 17 a 23 de março de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor. A economia brasileira “não está à beira do abismo”. Ufa! É o que diz Paul Krugman, economista renomado em visita ao Brasil. O país que ficou de joelhos com a visita de Lisa Schineller (quem?) vai sobreviver à crise, assim como todos os outros. Mesmo que as agências estrangeiras de rating (aquelas que avaliam os riscos dos países) rebaixem a nota do Brasil, o mundo não vai acabar por causa disso e um acontecimento é certo: sobreviveremos a elas. Dentre os emergentes, segundo Krugman, o foco não deveria estar no Brasil já que, a China, é quem está em permanente desequilíbrio. Se o gigante chinês tombar, teremos problemas, já que exportamos para lá commodities e o peso deste item é duas vezes maior que o peso das exportações de manufaturados. Mas, o leitor assíduo da nossa análise já sabia disso.
Claro que o governo brasileiro pode amenizar os efeitos da crise ou simplesmente agravá-los. Vimos, acompanhando a gestão de Dilma e testemunhamos todos os esforços possíveis e inimagináveis que foram feitos para fazer repetir o PIBão de 2010. Mas, com a crise mundial e a corrida ascendente dos juros, tem sido impossível repetir o feito.
Nesse clima, a grande “novidade” da semana concentrou-se nas especulações sobre a próxima decisão do Copom. Bastou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ir à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) para que o “mercado” ficasse em polvorosa. A autoridade monetária logo anunciou a escalada do preço dos alimentos. Esta alta, provocada pela seca, foi detectada através da divulgação da segunda prévia do IGP-M de março que registrou inflação de 1,41%, puxada pelos preços dos alimentos no atacado e também pelo IPC da Fipe, que, na segunda quadrissemana deste mês, subiu 0,68%, com os alimentos respondendo pela metade da variação.
Sobre esta questão, foram estas as palavras de Tombini: “Em princípio, trata-se de um choque temporário e que tende a se reverter nos próximos meses. Mesmo assim, a política monetária deve atuar de modo a garantir que os efeitos desse choque se circunscrevam ao curto prazo”. Os analistas do português e das mensagens subliminares do Banco Central, logo se puseram a “decifrar” o comunicado, desta vez, oral, da autoridade monetária. Conclusão: fica em aberto o fim do ciclo de aperto monetário. Outra frase dita reforça esta conclusão: “em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação persistam no horizonte relevante para a política monetária”.
Os termos atuação e vigilância deram o tom do discurso de Tombini. O “mercado” feliz comemora a provável elevação dos juros e elogia a independência do Banco Central. Antes mesmo do término da fala de Tombini, as perspectivas sobre o juro futuro começaram a subir. Prestes a comemorar um ano, o arrocho monetário deve continuar e a expectativa é de uma nova elevação dos juros em 0,25 pontos percentual, o que nos manterá no pódio de economia com os maiores juros do mundo e local mais atrativo para especular.
O curioso é que, mesmo considerando a elevação do preço dos alimentos, que seria temporária, fato que logicamente provocaria uma inflação de oferta, o Banco Central continuará a usar o aumento da taxa de juros como remédio para evitar que esta alta se dissemine para o restante da economia. O purgante usado para combater a inflação de demanda, também combate a de oferta embora comprometa seriamente o crescimento, já débil, da economia brasileira.
Tombini ainda frisou que a política de juros altos tem efeitos retardados e cumulativos, por esta razão, a resposta dos preços ainda não aconteceu. Esta observação contradiz o novo aperto. Parece-nos mais sensato que o Banco Central espere a manifestação dos efeitos antes de divulgar uma nova decisão. E se não há nada que nos condene por termos uma inflação fora do centro da meta, segundo o próprio Tombini, a decisão torna-se ainda mais insensata.
Mas lembre, caro leitor, que a instituição está sob os olhares inquisidores do “mercado” e de um batalhão de Lisa’s. E se estes forem contrariados, o discurso inflamado de que o Banco Central não é independente e não é claro em seus comunicados, retorna.
E o crescimento? Que crescimento?
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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