quarta-feira, 10 de setembro de 2014

“Neste momento” o Copom mantém Selic em 11%

Semana de 01 a 07 de setembro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]

Novamente coube-me a vez de escrever na semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC). O resultado da reunião foi o esperado, ou seja, a manutenção da taxa básica Selic em 11% ao ano, assegurando ao país a posição de campeão das maiores taxas de juros do mundo. Embora envergonhado por não obedecer aos patrões, os banqueiros, a taxa foi mantida diante do quadro de desaceleração da economia e mesmo de “recessão técnica” como eles mesmos afirmam.
Os dados comprovam a gravidade da situação. A economia continua desacelerando com taxas negativas de crescimento o que significa crescer como rabo de cavalo, isto é, para baixo. Cai o grau de utilização do potencial produtivo instalado e a produção, as vendas se reduzem e os estoques crescem. A produção é superior à capacidade de consumo da população, ou seja, a oferta é maior que a demanda. E aí surge a questão: por que os preços continuam a subir?
A ciência econômica oficial fica de quatro diante deste problema para o qual não encontra explicação. Só resta aos bons meninos do BC brincar com as palavras e expressões para enrolar o “mercado”. Desta vez eliminaram do comunicado oficial a expressão “neste momento” usada em comunicados anteriores. Agora os analistas se divertem debatendo o significado desta eliminação e com isto fazem suas conjecturas e apostas sobre a evolução futura a fim de maximizar a possibilidade de sucesso de suas especulações financeiras.
Mais uma vez, agindo em sentido contrário, o governo tenta estimular o consumo facilitando o crédito e procurando obrigar os bancos a aumentar a oferta de dinheiro. O que ninguém consegue é convencer uma população endividada a contrair novas dívidas.
Enquanto isso, a situação piora. A queda na venda de carros, em agosto, foi de 7,8%, em relação a julho. No acumulado do ano, já atinge 10%. A Volkswagen teme entrar no prejuízo no próximo ano. Em relação ao emprego, a situação também se agravou, em agosto. O setor de veículos e máquinas agrícolas demitiu mais de 1,4 mil trabalhadores. Desde o inicio do ano já foram liquidados 8.1 mil postos de trabalho, segundo a Anfavea, associação dos fabricantes de veículos. Isto sem contar outros 3,7 mil que estão afastados no regime de layoff. O setor de aços longos já estima uma retração de 3% nas vendas, no total do ano. A produção de aço deverá cair 2,5%, quando comparada com 2013. Em relação ao segundo trimestre de 2013, o deste ano mostrou uma queda de 8,7% na construção civil e de 5,5% na indústria de transformação. Se compararmos o segundo trimestre com o primeiro deste ano as quedas são de 2,4% para a construção civil e de 2,4% para a indústria de transformação.
As estimativas feitas por economistas consultados pelo jornal Valor Econômico, para o Produto Interno Bruto (PIB), ficaram em 0,4%, para este ano. Até o setor de serviços caiu 0,5%, na passagem do primeiro para o segundo trimestre.
O agravante é que os investimentos também se encontram em queda, o que compromete a retomada futura. A formação bruta de capital fixo, indicador que mede os investimentos, caiu 5,3%, no segundo trimestre, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isto a taxa de investimento caiu para 16,5% do PIB, a menor desde 2006.
Por outro lado, diante das eleições, agosto mostrou que o governo vem elevando os gastos, e a meta de 1,9% do PIB, para o superávit primário, por ele mesmo estabelecida, está comprometida, mesmo com a utilização das “receitas extraordinárias”.
Outro agravante da situação é a conjuntura internacional que não apresenta melhora principalmente na União Europeia e na zona do euro. A piora da situação com queda na produção e deflação levou o Banco Central Europeu (BCE) a tomar medidas como a redução das taxas de juros e a compra de títulos ABS (lastreados em ativos) e “covered bonds” (lastreados em hipotecas e empréstimos). É um QE (afrouxamento monetário) envergonhado.
O quadro que tende a se deteriorar cria uma séria dificuldade para a campanha de reeleição da presidente Dilma.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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