quarta-feira, 3 de setembro de 2014

E agora o “mercado” “marinou”

Semana de 25 a 31 de agosto de 2014

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Com a proximidade das eleições, as campanhas eleitorais passam a assumir um papel cada vez mais relevante no comportamento do mercado financeiro. A bola da vez é a candidata Marina Silva (PSB). Após a divulgação das pesquisas eleitorais que apontaram Marina como vitoriosa na disputa eleitoral, o “efeito marina” fez com que o mercado se apresentasse de forma mais otimista. A confiança dos gestores na equipe econômica que a assessora, Eduardo Giannetti e André Lara Resende, é o argumento principal para tamanha euforia. Já se escuta falar em “kit Marina”, aqueles setores e empresas que possivelmente irão se beneficiar com uma eventual eleição da candidata do PSB. Nesse “kit” encontram-se empresas como Petrobras, JBS e sucroalcooleiras.
Do outro lado da briga, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) buscam meios de conter o avanço conquistado por Marina desde a efetivação da sua candidatura à presidência da república. A reviravolta ocorrida na disputa presidencial pegou todos de surpresa, fazendo com que novas estratégias sejam utilizadas nos próximos debates. O que, sem sombra de dúvidas, é ponto comum na cartilha dos candidatos do PT e PSDB é a tentativa de desconstrução de Marina Silva, a responsável pela sacudida no cenário eleitoral.
Para a presidente Dilma há uma dificuldade a mais: a economia apresentou um fraquíssimo resultado, no segundo trimestre.
O panorama econômico nacional apresenta um quadro que é definido como de “recessão técnica”, caracterizado por uma queda por dois trimestres consecutivos do Produto Interno Bruto (PIB). O primeiro trimestre apresentou recuo de 0,2%, enquanto que no segundo trimestre o PIB retraiu 0,6%, em relação aos períodos imediatamente anteriores. Os economistas não chegam a um consenso se tal situação é realmente caracterizadora de recessão técnica. Os que defendem essa posição seguem a tese de que dois semestres consecutivos de queda do PIB já configuram recessão. No entanto, os que se opõem, se apegam ao argumento de que tais quedas necessitam de percentuais mais altos e com desemprego, o que não ocorre atualmente. De qualquer forma, é visível que, na melhor das hipóteses, o Brasil se encontra em um quadro de estagnação.
Outra importante notícia no cenário econômico foi o reajuste, para o ano de 2015, de 8,8% no salário mínimo. A alteração, proposta pelo Governo, já consta no Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2015, que, se aprovado, garantirá ao salário mínimo o valor de R$ 788,06 a partir de janeiro do próximo ano. Na avaliação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que leva em conta os preceitos constitucionais no estabelecimento do salário mínimo vigente, ou seja, aquele capaz de atender as necessidades básicas e vitais do trabalhador e sua família, o mínimo necessário deveria ser de R$2.915,07, bem longe dos R$ 724,00 pagos atualmente.
A economia mundial ainda escorrega. Enquanto bons sinais emergem da economia americana, como a estimativa de crescimento de 4,2% para o PIB, no segundo trimestre, a estagnação é a tônica da zona do euro. A situação internacional pode ser resumida, nas palavras da Claudia Safatle, da seguinte forma: “A economia americana prossegue avançando na recuperação, a Europa patina, o Japão decepciona e a China, com crescimento estável na casa de 7,5%, saiu do primeiro plano”.
As especulações e previsões acerca do futuro presidente do Brasil ocupam papel principal no humor dos especuladores financeiros. O mercado financeiro elegeu Marina como uma “boa” presidente, mais pela real possibilidade de derrotar Dilma do que por suas propostas de governo. Um dos setores que possivelmente será beneficiado com uma eventual vitória da ex-senadora é o de bancos comerciais, uma vez que Neca Setubal, herdeira do Itaú, é a responsável por comandar o seu programa de governo, que defenderá mudança da política de crédito do governo federal, salvaguardando os interesses dos bancos privados.
E, como “o mercado não elege ninguém, mas é difícil eleger alguém contra o mercado”, frase cunhada por um dirigente de um grande banco, a vida do PT não será nada fácil nas próximas semanas.



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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