quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A (in)dependência do Banco Central

Semana de 15 a 21 de setembro de 2014

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

Faltando poucos dias para o primeiro turno das eleições, já temos, pelo menos, um grande vitorioso. Até o momento, o vencedor de todo o processo eleitoral vem sendo a BM&F Bovespa, já que as pesquisas eleitorais continuam sendo a principal causa de suas flutuações. Desde o dia 14 de março, quando o Ibovespa (principal índice da bolsa) atingiu a mínima do ano, o ganho acumulado é de 30%. A alta é atribuída à reviravolta causada pela efetivação da candidatura de Marina Silva (PSB) às eleições presidenciais.
Duas peculiaridades marcam as próximas eleições. Desde 1994, é a primeira vez em que todos os partidos participam da eleição presidencial, e, também, que as alianças estaduais contraditórias superam as harmônicas, em chapas com a presença de pelo menos um dos nove maiores partidos. 60% das coligações a governador é composta por siglas adversárias à Presidência. No estudo desenvolvido pela cientista política Lara Mesquita, aliança estadual contraditória é aquela formada por adversários na corrida presidencial, como é o caso da Paraíba, onde o PT apoia o governador Ricardo Coutinho (PSB).
No cenário político, o Banco Central (BC) passou a ser o principal ponto de discussão das duas candidatas com maiores intenções de votos, segundo as pesquisas. Enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) declarou ser contra a independência da autoridade monetária, alegando que não se trata de um quarto poder, Marina declarara ser a favor da tão falada independência. Entretanto, nas palavras de Claudia Safatle, “um bode na cozinha tirou a atenção do elefante que está na sala. O debate sobre a autonomia/independência do BC, apesar da grande importância, “desvia a discussão da campanha eleitoral, de outros temas espinhosos para os candidatos e para os eleitores: a necessidade de o próximo governo, qualquer que seja ter que adotar medidas impopulares para recolocar a econômica, sobretudo a política fiscal, nos trilhos”.
O protagonismo do BC na campanha eleitoral gerou mal-estar entre os próprios servidores do Banco. Vale ressaltar o repúdio dos servidores do Banco Central sobre a imagem do órgão na disputa eleitoral. O presidente do Sindicato Nacional de Servidores do Banco Central (Sinal), Daro Piffer, afirmou que “somos retratados como marionetes ou de banqueiros ou de políticos e não como um órgão de Estado.”, ao avaliar a postura da atual presidente e da candidata pessebista.
No panorama econômico brasileiro, a semana foi marcada por não ter ocorrido nenhum grande acontecimento. Por aqui, nenhum dado relevante foi divulgado e, com a proximidade do dia 5 de outubro, as especulações acerca do vencedor da disputa presidencial continuam ocupando papel principal no ânimo do “mercado”.  O destaque da semana deveu-se a um erro. A gafe ficou por conta do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que após divulgar os dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) 2013, voltou atrás e admitiu ter se equivocado em seus cálculos. Inicialmente, os dados apontavam um aumento na desigualdade social no Brasil. Feitas as correções, a desigualdade apresentou um leve recuo entre 2012 e 2013.
Ao redor do globo, as atenções foram voltadas para os Estados Unidos, mais especificamente para a reunião do Federal Reserve (FED, Banco Central do país). Não houve nenhuma significativa alteração na sua política econômica, o programa de compra de títulos deve ser encerrado em outubro, mas continuou com a indicação de que os juros de curto prazo permanecerão baixos, por um “tempo considerável” depois do término do programa. Já a China está tendo desempenho abaixo do esperado. A queda na produção industrial de agosto, 6,9% em relação ao ano anterior, menor leitura desde a crise financeira mundial, fez com que o governo esboçasse algumas medidas para estimular seu crescimento. Segundo operadores e analistas locais, o banco central da China planeja injetar 500 bilhões de yuans, equivalente a 81 bilhões de dólares, no sistema bancário da segunda maior economia mundial.
Por fim, retomando o debate sobre o Banco Central, assunto mais debatido na última semana de campanha, fica uma indagação: a quem realmente interessa a independência do BC? A toda a sociedade ou a uma pequena classe de especuladores?



[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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