quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O Brasil na contramão

Semana de 01 a 07 de dezembro de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Caro leitor. Como de praxe, reforço que as perspectivas econômicas continuam péssimas. A estimativa oficial de crescimento da economia brasileira para 2014, que já havia sido revisada para 0,5%, se junta a mais uma: o crescimento de 2015 ficará próximo dos 0,8%. A previsão anterior era de 2%.
       Os sinais de fraqueza econômica surgem a todo o momento. Nem mesmo o crescimento do PIB de 0,1% e de 1,7% da indústria no terceiro trimestre foi animador. Se a evolução da atividade industrial não mudar drasticamente no quarto trimestre, a indústria fechará o ano com retração de 3%. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, apurou que o nível de estoques da indústria de transformação ainda é muito alto. A indústria automobilística, por exemplo, continua ladeira abaixo. Em novembro, as vendas do setor, segundo a Fenabrave, caíram 4% em relação a outubro e 2% quando comparadas a novembro de 2013. A produção caiu, o desemprego aumentou e o estoque automotivo permanece alto, ultrapassando 40 dias. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) informou que o setor reduziu pelo oitavo mês seguido o total de trabalhadores empregados. E a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) já adiantou que o ano está perdido para a indústria paulista, que fechará o ano com retração de 5,4%.
           As más perspectivas se alastram. A Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) prevê crescimento de apenas 0,2% para o Brasil e de 1,1% para a região. Pesquisa realizada pela Markit mostra que o mundo está longe da recuperação. China, Estados Unidos e Zona do euro, apresentaram baixos índices de gerentes de compras (PMI). Na Zona do euro, o PMI ficou em 50,1 pontos, em novembro, mais baixo que outubro, que foi de 50,6 pontos. Um valor igual a 50 expressa o limite entre contração e expansão da atividade econômica. A Alemanha, principal responsável pelo crescimento, ainda que baixo, da zona monetária europeia, apresentou queda do PMI do setor manufatureiro, de 51,4 pontos em outubro, para 49,5 pontos em novembro, o que indica contração econômica. Segundo o economista-chefe da Markit “A situação da indústria na zona do euro é pior do que se imaginava”. Também na China, o indicador caiu. De 50,8 pontos em outubro, para 50,3 pontos em novembro. Nos EUA, o indicador caiu de 55,9 pontos para 54,8 pontos e, mesmo estando numa zona considerada de expansão da atividade, os gastos dos consumidores e os investimentos empresariais apresentaram números pífios, em novembro. Este número sinaliza que, daquela economia, não se deve esperar um grande impulso à economia mundial. A pasmaceira toma conta do mundo. Crescem desta forma, as pressões para que a autoridade monetária europeia adote medidas de estímulo à economia, seguindo o exemplo das decisões já tomadas pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos e pelo Banco do Japão. Segundo a presidente do Fed, Janet Yellen, “dada a natureza lenta e irregular da recuperação, as políticas de apoio continuam sendo necessárias”. Tudo indica então, que o Fed não irá se desfazer totalmente dos ativos que comprou.
         O mundo não vislumbra recuperação econômica, por isso, perduram as ações de estímulo das economias e adoção de taxas de juros muito baixas. Mas estas questões parecem estranhas, no Brasil. O Comitê de Política Monetária (Copom), em sua última reunião, elevou a taxa de juros de 11,25% para 11,75%, a maior desde agosto de 2011. O “mercado” aplaudiu e vê a decisão como o primeiro passo do governo rumo à reconquista da “credibilidade” a culpada pela intensificação da crise. Economistas renomados permanecem alheios à realidade e rasgam elogios à nomeação da nova equipe econômica. Todos acreditam que as medidas futuras da nova equipe econômica “prepararão” os caminhos para um “novo ciclo de crescimento”. Basta resgatar o que se perdeu, através da austeridade. Chamo a atenção neste ponto para a coluna publicada, em fevereiro de 2013, na Folha de São Paulo, pelo economista Paul Krugman. Lá Krugman põe o desafio: Onde estão os sucessos da austeridade? Denominando a austeridade como uma dor benéfica, os austerianos se esforçam em apontar os sucessos desta, adotada por alguns nos últimos três anos, mas segundo Krugman, é impossível encontrá-los.
    E o Brasil, ao caminhar novamente na contramão do mundo, certamente, engrossará a lista dos fracassos.




[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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