quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

2015 – O superlativo de péssimo

Semana de 15 a 21 de dezembro de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

O final do ano aproxima-se rapidamente e nós aproveitamos para desejar aos nossos leitores um Feliz Natal e muita sorte em 2015. Recomendamos a todos que aproveitem as festividades com moderação e evitem dívidas, pois, como afirma a colunista Claudia Safatle do jornal Valor Econômico, a situação em 2015 será “o superlativo de péssima”.
De fato, há uma conjugação de fatores adversos que complicam a economia mundial e amplificam os problemas internos. 2014 está tendo um fim melancólico. A desaceleração da economia (a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deverá situar-se próxima à zero) e o aumento da inflação (que ameaça estourar o teto da meta) começam a ter repercussão no desemprego e na elevação do custo de vida, o que reduz o poder aquisitivo dos salários.
Para azar nosso a natureza não está colaborando e a falta de chuvas vem provocando a crise hídrica e do setor elétrico. Também nada se pode esperar do exterior, pois continua a desaceleração da União Europeia (UE) e da China, agrava-se a crise no Japão e na Rússia que caminha para o crescimento negativo. Isto tudo afeta as exportações brasileiras que estão em queda. Até a esperança no lento crescimento dos EUA apresenta-se como uma ameaça, pois vem provocando a valorização do dólar com a consequente desvalorização do real. O aspecto positivo que a esta desvalorização poderia ter para as nossas exportações é em boa parte, anulado pela queda da demanda internacional e dos preços das commodities.
É sobre este tumultuado ambiente econômico que desaba o escândalo da Petrobras afetando a credibilidade da nossa maior empresa e arrastando as maiores empreiteiras do país. Como elas são responsáveis pela grande maioria dos contratos das obras públicas em andamento a situação tem desdobramentos perigosos. Outro processo que está em marcha é o que atinge os altos escalões da política. Pairam no ar as denúncias aguardadas para os primeiros meses do ano que se aproxima.
A fase de crise do ciclo econômico que vem se desenvolvendo nos últimos dois anos no Brasil, tem sido enfrentada pelo governo Dilma com medidas de política anticíclica. Estas medidas, que envolvem aumento das despesas, vêm comprometendo a formação dos superávits primários (reservas para pagamento dos juros da dívida). O governo tenta esconder o efeito perverso do aumento das despesas com manobras contábeis que contribuíram para o descrédito do ministro Mantega. Durante o ano de 2014, ano de eleições, a situação agravou-se ainda mais e era evidente que o superávit prometido pelo governo não seria atingido. Em vez de assumir a responsabilidade pela política anticíclica adotada, que tem garantido o alto nível de emprego e renda, e anunciar que iria reduzir ou zerar o superávit primário do ano, o governo preferiu tentar enganar os agentes econômicos escondendo os dados. O resultado foi a desgastante correria dos últimos dois meses para aprovar um projeto que autorizava o governo, a posteriori, a reduzir o superávit para R$ 10 bilhões. O governo conseguiu aprovar o seu projeto, mas a crise está em marcha acelerada. A nova equipe econômica (Levy na Fazenda, Barbosa no Planejamento e Tombini no Banco Central), liderada pelo homem da tesoura (Levy), prepara o seu programa de austeridade, para reduzir a retalhos a economia do país. E os prejudicados não serão apenas os trabalhadores assalariados. Com desemprego não há consumo. Sem consumo não há produção. Preparem-se todos para as falências e o choro das madames desmamadas, com o corte dos financiamentos dos bancos estatais, com o aumento das taxas de juros (comandado pela SELIC) e das subvencionadas (como a TJLP), com a alteração dos programas, como o PSI, que estimulava os investimentos em máquinas e equipamentos, etc. Isto já começou.
E ainda nos vem o presidente do PT, Rui Falcão, declarar, em uma entrevista, que “Não vamos cancelar direitos, não vamos promover arrocho e não vamos promover o desemprego.”
A quem ele pensa que vai enganar?
Cuidado companheiro! Diz a sabedoria popular que a mentira tem pernas curtas!



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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