Semana de 24 a 30 de novembro de 2014
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Não se vislumbra nenhuma esperança de uma retomada na economia mundial.
A desaceleração da China se agrava e já se fala no fim do milagre econômico no país. Os resultados no terceiro trimestre mostraram um crescimento de 7,3% e já surge o temor de que esta taxa fique abaixo dos 7%, no final do ano. Não foi por outra razão que o Banco Central chinês anunciou um corte nas taxas de juros.
Outros bancos também estão agindo na mesma direção. O Banco Central do Japão vai aumentar a compra de títulos da dívida (Q.E.) diante da ameaça de entrada da economia do país em recessão. O Banco Central Europeu (BCE), nas palavras de seu presidente Mario Draghi, também deverá aumentar sua compra de títulos europeus. O Federal Reserve (Fed), BC americano, encerrou as operações mensais de compras de títulos, em outubro, e agora teme que uma elevação das taxas de juros (atualmente próximas à zero) prejudique as exportações dos EUA graças à valorização do dólar, e comprometa a lenta recuperação do país.
A este panorama junta-se a queda nos preços das commodities e particularmente do petróleo e do ferro. O petróleo, que em junho rondava os US$ 107, caiu, em novembro, para US$ 73,25 o barril, no Texas. A estes preços as explorações do xisto em algumas regiões dos EUA estão comprometidas bem como em algumas regiões do mundo. No entanto, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não parece interessada em reduzir a produção. A queda de 30% nos preços, desde junho, já afeta bancos, empresas e países. Em relação ao minério de ferro, a queda no preço da tonelada já chegou aos US$70 e os três grandes, Vale, Rio Tinto e BHPP Billiton, pretendem manter a produção com o intuito de retirar do mercado empresas mais fracas, o que significa que os preços continuarão em baixa.
Nessas circunstâncias, a economia brasileira não poderá contar com nenhum estímulo vindo de fora. Pelo contrário, continuaremos a sofrer a pressão das importações de bens de consumo da China e das novas estrelas asiáticas Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnam onde os salários dos trabalhadores são ainda mais baixos.
Mas há uma boa notícia. Segundo o IBGE, o PIB que vinha caindo há dois trimestres consecutivos, no terceiro trimestre, cresceu 0,1% graças à colaboração da indústria, com 1,7% e dos investimentos, com 1,3%. A agropecuária, no entanto, teve uma queda de 1,9%. O consumo das famílias cresceu apenas 0,1%, o que é péssimo, e o do governo cresceu 1,3%, contribuindo para corroer o nosso superávit primário, que mal chegará aos R$10 bilhões. Apesar do crescimento, a situação da indústria continua preocupante, pois as montadoras, por exemplo, estão parando, dispensando trabalhadores, antecipando férias e a indústria de máquinas estima uma queda de 15% no consumo aparente.
Entretanto, não foram estes acontecimentos que ocuparam os espaços na mídia. Todas as atenções se concentraram na indicação dos nomes que irão constituir o comando econômico do novo governo do PT, após a vitória nas urnas. Os três nomes anunciados, Joaquim Levy para a Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento e Alexandre Tombini para o Banco Central, finalmente acalmaram o “mercado” e receberam elogios entusiásticos dos setores financeiros e empresariais.
Diante das pressões, Dilma cedeu e resolveu dar uma guinada na política econômica. Espera-se agora um período de “austeridade” com uma política fiscal restritiva, elevação de juros, superávit primário de 1,2% em 2015, restauração do tripé macro econômico, contenção das despesas e gastos sociais, etc. Com razão tem protestado o candidato derrotado Aécio Neves ao afirmar que Dilma roubou o seu plano econômico. A equipe não foi empossada, mas anunciada, em um ato que não contou com a presença, nem da presidente Dilma, nem do ex-ministro Mantega. Os nomes escolhidos provocaram protestos de setores do PT, de intelectuais e movimentos sociais que se consideram traídos e prometem ações de resistência.
E a austeridade já começou. Na quarta feira passada, na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central, foi decidido o aumento da taxa básica de juros (Selic) em 0,5%, elevando-a de 11,25% para 11,75%. Um ponto para o Tombini. Quem será o próximo a marcar?
Ainda bem que o perigo, por enquanto, é “levytarmos” em direção à austeridade. Imaginem se estivessem atacando com um “Trabuco”!
Preparemo-nos para 2015. A barra vai pesar!
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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