Semana de 18 a 24 de maio de 2015
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Há dias anunciamos que vem por aí uma tempestade econômica. E não virá alento de fora. Enquanto a OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima 201 milhões de desempregados em 2014, 30 milhões a mais que antes do início da crise, novos dados confirmam o arrastamento da crise internacional. O Federal Reserve (Fed), Banco Central Americano, jogou um balde de água fria naqueles que acreditavam no aumento da taxa de juros em junho. Fatores como o inverno severo e o conflito trabalhista nos portos da Costa Oeste, foram, segundo o texto da ata do Fed, os responsáveis pela desaceleração econômica no primeiro trimestre. No Japão, o crescimento trimestral anualizado foi de 2,4%, mas o governo não comemora, pois se forem excluídos das estatísticas os estoques, o resultado cai para 0,7%. A Europa registrou crescimento de 0,2% no primeiro trimestre comparado ao trimestre anterior.
E os problemas econômicos europeus são engrossados pelos políticos. A Grécia continua a gerar impasses sobre sua capacidade de pagamentos dos empréstimos concedidos pelos credores e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, comunicou que fará, em 2017, um referendo sobre a permanência do país na União Europeia.
Enquanto o mundo amarga maus resultados, o Brasil continua a registrar o agravamento dos seus. Como já sabemos, o governo continua a atirar, deliberadamente, a economia para o fundo do poço. E está conseguindo. A ocupação caiu 0,7% em abril, comparado a abril de 2014, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE. A pesquisa detectou que, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, mais de 500 mil pessoas entraram como desempregados no primeiro quadrimestre do ano. O rendimento médio real caiu pela terceira vez consecutiva, acumulando retração de 4,6%, pior registro desde 2009.
A depender da produção industrial a situação vindoura será bem pior. Segundo a Sondagem Industrial realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice de produção industrial caiu de 48,2, em março, para 39,7 pontos, em abril, indicando queda de produção, pois está abaixo de 50 pontos. Em média, no mês de abril, a indústria utilizou apenas 67% da capacidade instalada, o que indica uma ociosidade industrial de 33%! Segundo a CNI, na pesquisa de abril não houve “dados azuis” na sondagem que aconteceu entre quatro e 13 de março e que ouviu 956 pequenas empresas, 817 médias e 554 de grande porte. Os estoques continuam a crescer e o número de empregados continua a cair.
Na indústria automobilística, as vendas e a produção estão em queda vertiginosa enquanto que as demissões e os estoques não param de crescer. No primeiro quadrimestre de 2015, comparado ao mesmo período do ano passado, as vendas caíram, segundo a Anfavea, 19,2% e a produção recuou 17,5%. Já foram demitidos 4,9 mil trabalhadores e o giro dos estoques, que em nível normal deveria estar em 30 dias de venda, aumentou para 50 dias.
E se depender do consumidor, o cenário não melhorará. Segundo pesquisa da CNC (Confederação Nacional de Comércio, Bens e Serviços), a intenção de consumo das famílias recuou em maio 6,3% comparado a abril e não se recuperará até o final do ano. O Banco Central certamente aumentará em mais 0,5% os juros, sinal já bem dado ao mercado.
Enquanto isso, o homem da tesoura continua em ação. Foi anunciado um corte de R$ 69,9 bilhões dos gastos previstos no Orçamento deste ano. Os maiores foram no Ministério das Cidades (de R$ 31,74 bilhões para R$ 14,51 bilhões), Ministério da Saúde (de R$ 103,27 bilhões para R$ 91,5 bilhões) e Ministério da Educação (de R$ 48,81 bilhões para R$ 39,38 bilhões). Como alento, o governo sinaliza aumentar a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), de 15%, para um percentual que ficará entre 17 e 20% e ainda promete lançar um projeto que tributará as grandes fortunas.
Os resultados certamente serão colhidos. Todos sabem que a atividade econômica vai pro buraco. Principalmente os economistas que propuseram a solução milagrosa para o país. Com um aperto fiscal associado a uma política campeã de juros iremos chegar lá: austeridade em período de crise, segundo esta visão leva inevitavelmente ao crescimento.
Convido o leitor a cruzar os dedos, fazer figa, mandinga, promessa, a apelar para todos os santos. Talvez assim, a crença se confirme.
Pois: austeridade = crescimento = lenda.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)