Semana de 17 a 23 de agosto de 2015
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
A conjuntura brasileira está um verdadeiro caos. Seja na política ou na economia, os acontecimentos não têm sido nada favoráveis à maior parte dos brasileiros e nem à popularidade do governo.
Quase um mês depois do vice-presidente da República, Michel Temer, ter utilizado frases que irritaram o Planalto, tais como “Crise desagradável” e “É preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos”, ele próprio abdicou do papel de articulador político. O motivo apontado seria a pouca receptividade de algumas de suas ações, pelas duas maiores figuras do governo: a presidente Dilma, por exemplo, não o teria convidado para a avaliação das manifestações pró-impeachment de 16 de agosto, e o ministro Joaquim Levy, que tem sido intransigente com as demandas advindas do Legislativo.
No dia 20 de agosto, ocorreram, em 25 estados, as manifestações convocadas por algumas centrais sindicais, partidos e entidades civis. Nelas o governo recebeu o apoio de 190 mil pessoas, segundo os organizadores, ou 73 mil, segundo a PM. Nos cartazes eram vistas palavras em defesa da democracia, manutenção da presidente, agradecimento por políticas de inclusão, etc. Mas nem tudo foram flores. Muitos dos “manifestantes pró-Dilma” (entre aspas, pois, para alguns, a manifestação não era a favor da presidente), embora por razões distintas, expuseram dois temas que têm dado força ao movimento pró-impeachment: a Petrobrás e a política econômica.
Quanto à Petrobrás, mesmo que os manifestantes pró-Dilma (sem aspas) tenham levantado a velha bandeira do “petróleo é nosso”, não se pode deixar de mencionar a Operação Lava-Jato. Segundo a investigação, a corrupção (maior bandeira dos pró-impeachment) foi tamanha que a estimativa das multas para as empresas envolvidas pode chegar a R$ 13 bilhões. A Camargo Corrêa, participante do cartel nas licitações da petroleira, resolveu colaborar com as investigações ao fechar novo acordo para pagar R$ 101,6 milhões e entregar provas que enriquecem o inquérito. Segundo as investigações, existia um “clube VIP” que fraudava as licitações das obras da Petrobrás, composto por Odebrecht, OAS, UTC, Galvão Engenharia, Andrade Gutierrez e a própria Camargo. Posteriormente, este cartel cresceu para um total de 23 participantes.
Em relação à economia, as notícias da semana são pouco animadoras. Eis algumas manchetes: “Setor de serviços no Brasil tem pior primeiro semestre desde 2012”, “Emprego na indústria tem 45ª queda seguida e registra o pior semestre da série histórica”, “Intenção de consumo recua nas cinco regiões e atinge nível mais baixo desde janeiro de 2010”, “Indicador da FGV cai pelo 9º mês e não aponta para o fim da recessão”, “‘Prévia’ indica que PIB caiu mais de 1% no 2º trimestre”, “Mercado projeta primeiro biênio de recessão em 85 anos” e “Total de desempregados cresce 56% em um ano”.
Mas a questão que provoca divergências entre os dois movimentos, pró e contra Dilma, é a política econômica, ou seja, o que o governo faz para melhorar a economia. Para os pró-impeachment, basta que se tenha menos Estado e mais mercado, a velha bandeira neoliberal. Para os “pró-Dilma”, o problema é o Ajuste Fiscal, que, além de diminuir os gastos do governo e elevar os impostos, tem reduzido os direitos trabalhistas e derrubado os investimentos públicos em infraestrutura e moradia. E por falar nisso, o “Partido dos Trabalhadores” vem mostrando novos sinais de “tucanização” (ou simplesmente neoliberalização): o governo pretende arrecadar US$ 6 bilhões, só este ano, caso deem certo as operações de abertura de capital da Caixa Seguridade, BR Distribuidora e IRB Brasil (esta última seria a venda da participação da União no capital da empresa). Além destas, estão na mira do mercado a Caixa Econômica Federal, a Infraero e as lotéricas.
Para piorar a situação dos trabalhadores, um dia antes de suas manifestações, a Ordem dos Advogados do Brasil e as Confederações Nacionais da Indústria, da Saúde e do Transporte haviam emitido a Carta à Nação, segundo a qual “O Brasil se encontra numa crise ética, política e econômica que demanda ações [...] Independentemente de posições partidárias”. Afirmando ainda que “Deve-se [...] reduzir imediatamente o tamanho do Estado”, o texto dá um claro sinal de que, para os patrões, com ou sem impeachment, o importante é que se busque “implementar [...] medidas para melhorar o ambiente de negócios no país”.
Eis o que nos espera...
[i] Doutorando do PPGE/UFBA, Professor do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com)