quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Mais uma dose amarga

Semana de 26 de julho a 02 de agosto de 2015

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. A semana foi coroada por mais um ato insano do Copom (Comitê de Política Monetária). Pela sétima vez consecutiva, o Comitê aumentou a taxa básica de juros que passou de 13,75% para 14,25%. De presente, o consumidor brasileiro deve continuar pagando 48,4% ao ano pelo crédito pessoal e aproximadamente 372% ao ano de juros para financiar o cartão de crédito. Os juros anuais do cheque especial chegam a 241,3%. Estes números foram divulgados pelo próprio Banco Central. Uma verdadeira extorsão. Os bancos agradecem. As projeções dão conta de que os lucros bancários no segundo trimestre serão recordes. Que o diga o Bradesco, primeiro a divulgar os resultados. Com lucro líquido de R$ 4,47 bilhões no trimestre, 18,4% a mais que no segundo trimestre de 2014, o banco comemora, via aumento dos spreads, a má fase da economia brasileira.
O esforço do governo segue no sentido de domar uma inflação indomável. A teoria econômica dominante continua a afirmar que a inflação é de demanda, mas a realidade insiste em não se encaixar no padrão definido nos escritórios dos economistas. Levantamento feito pelo professor Ernesto Lozardo da Fundação Getúlio Vargas e divulgado no jornal Valor Econômico, mostra que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação brasileira, é composto por dois grandes grupos: preços livres e administrados. Os primeiros representam 76% do IPCA e os últimos, os 24% restantes. Segundo o autor, de janeiro a maio de 2015, o IPCA subiu 5,23% em virtude da alta de 3,36% dos preços livres e de 11,21% dos administrados. Só a energia elétrica residencial subiu, neste período, 37,6%.
Mesmo com todos os indícios, a equipe econômica insiste em continuar receitando o mesmo purgante para uma doença que ela própria ajuda a propagar. Desde o início do ano já aconteceram cinco reuniões do Copom e a decisão foi a mesma: precisamos de mais juros pois a inflação é “resiliente”. A taxa passou de 11,75%, em janeiro, para os 14,25% atuais.
A decisão foi recebida com indignação pela Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) que se apressou em afirmar que “... a alta dos juros significa uma verdadeira catástrofe para o já combalido setor produtivo...”. Pois bem. O faturamento líquido da indústria brasileira de máquinas e equipamentos caiu 13,5% em junho comparado a junho de 2014 e 2,9% comparado a maio do ano atual. A utilização da capacidade instalada do setor, segundo a Abimaq, foi 65,3% em junho, 10,4% menor que o verificado em junho do ano anterior e o número de trabalhadores empregados recuou 8,4%.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) acaba de divulgar que o nível da atividade da indústria paulista caiu 1,3% comparado a maio. Dos 20 setores pesquisados, 14 apresentaram queda. Para o segundo semestre, a instituição afirma que o cenário tende a piorar. As vendas de veículos continuam definhando e fecharão julho com queda de 22%. Já a Associação Brasileira do Papelão Ondulado, afirmou que as vendas de papelão cairão 2,5%, em 2015, o que significa produção menor de caixas, acessórios e chapas, essenciais para a produção de embalagens.
A contração da atividade, segundo o Boletim Focus do Banco Central, será de 1,76% e não para de piorar. O Banco Fibra já rebaixou sua projeção de queda de 1,7% para 3,1%. Alheia à realidade, a equipe econômica continua a perseguir seus objetivos por mais incompatíveis que sejam. Enquanto ajuda a minar a atividade produtiva, turbina sua dívida com juros altos e tenta levar adiante o ajuste fiscal. Porém, a queda na arrecadação e o aumento nas despesas geraram déficit primário nas contas do Governo Central de 0,06% do PIB, no primeiro semestre do ano. O compromisso com a nova meta de 0,15% do PIB, para o superávit primário, parece cada vez mais distante. Mas, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, continua na torcida. Com fé, ele afirma que a recuperação começará no último trimestre.
É fé demais!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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