quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Das crises aos protestos

Semana de 10 a 16 de agosto de 2015

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Continuamos sem boas notícias para os nossos leitores, o que não é surpresa. A crise continua e se desenvolverá durante todo o ano de 2015 e 2016. O que nos revolta é a ingenuidade ou má fé das entidades oficiais quando se surpreendem e são obrigadas a admitir o que para nós é obvio. Agora é o Boletim Focus do Banco Central (BC) que já prevê uma queda de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de -0,5% no próximo. Os dados que mostram a desaceleração são abundantes. A indústria paulista fecha 30,5 mil vagas, em julho, das quais 6.661 foram da responsabilidade da indústria de veículos. No acumulado de janeiro a julho foram 92,5 mil postos de trabalho a menos. A Fiat de Betim, pela quarta vez, dará férias coletivas à parte dos trabalhadores. A Iveco, em Sete Lagoas (MG), deu férias coletivas em junho e agora pretende adotar o “layoff” por 5 meses. Até a linha de montagem do blindado Guarani pode ser paralisada por falta de encomendas do exército. O setor amarga a queda de 43,1% das vendas e 45,4% da produção, neste ano. A Mercedes-Benz comunicou ao sindicato dos metalúrgicos que demitirá a partir de 1 de setembro, cerca de 2.000 trabalhadores. A General Motors também iniciou demissões em sua fábrica de São José dos Campos e os demitidos já ultrapassam os 500, o que já corresponde a 10% do total empregado.
Esta situação reflete-se no comércio varejista que, em maio, havia reduzido de 0,9% seu volume de vendas, em relação a abril e agora, em junho, reduziu 0,3%, em relação a maio. Por outro lado o índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou pelo 8º mês consecutivo caindo agora 3,9%.
Resumindo a situação, as estimativas das consultas do Boletim Focus apontam para uma retração do PIB, ao longo de 8 trimestres, até o primeiro trimestre de 2016. O ano atual pode apresentar a maior queda do PIB nos últimos 35 anos.
É claro que, com tal ambiente dos negócios, a arrecadação dos impostos teria de cair tornando quase inútil todo o esforço fiscal que se vem tentando realizar. No período de janeiro a agosto o governo já registra um déficit de R$ 18 bilhões o que torna difícil atingir a meta de superávit de R$5,8 bilhões até dezembro.
Só os bancos continuam como os grandes beneficiários. Os quatro maiores, Santander, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco terminaram o segundo trimestre com um lucro líquido de R$15,1 bilhões, 17% maior que o do mesmo período de 2014. Só o Banco do Brasil lucrou R$ 3,01 bilhões, resultado 6,3% maior que o do ano anterior.
Avaliando a situação a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota do país de BAA2 para BAA3. É a segunda agência a fazer este rebaixamento sendo antecedida pela Standard & Poor’s. Esta nota é a última antes da perda do tal “grau de investimento” que representa o atestado de bom pagador concedido pelas agências internacionais.
No terreno político a semana ferveu com reuniões e conchavos acontecendo na tentativa de garantir a governabilidade da presidente Dilma. Sucederam-se encontros entre Renan, Levy e um grupo de senadores, entre Lula e Temer, entre Lula e vários ministros, etc. Destes encontros resultou um “acordão” que envolve (segundo as notícias) decisões do TSE, do TC e do STF bem como uma plataforma de propostas a serem votadas no congresso. Entretanto, prosseguem as investigações da lava-jato ameaçando a todos e avançando agora em direção ao ministério do planejamento e às obras das usinas de Belo Monte e Angra 3.
Este foi o combustível para as manifestações “espontâneas” convocadas pelos “movimentos independentes” que dependem de financiamentos da Fiesp, Febraban e de associações de médicos (caso da organização Vem pra Rua). No entanto as palavras de ordem centrais foram a corrupção e o “fora Dilma e o PT”. Apesar do resultado ter ficado aquém do esperado o petismo sente-se encurralado e incapaz de encontrar uma explicação para a corrupção. E é por isso que as denúncias são tão arrasadoras e comprometem a credibilidade da organização e do governo Dilma.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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