quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Juros, estagnação e inflação

Semana de 18 a 24 de janeiro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Caro leitor. Está em andamento o Fórum Econômico Mundial. As autoridades de vários países estão reunidas sob o pretexto de discutir os efeitos produzidos pela quarta revolução industrial, mas, certamente, os participantes sairão daquela reunião com muito mais perguntas que respostas, pois, a situação econômica atual rouba a cena. Os Estados Unidos afirmaram através de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve, que a realidade do crescimento baixo, em média 2%, se impôs por sete anos seguidos. Gestor algum consegue apresentar alternativas que difiram daquelas já apresentadas. O dinheiro injetado na economia sumiu pelo ralo sem produzir qualquer estímulo econômico. E agora o gigante chinês tombou.
Qual a saída? Por que razão a economia mundial não se recupera? Como lidar com a baixa inflação dos países desenvolvidos? O que fazer se todas as esperanças de recuperação estavam nos emergentes? Como sanar o excesso de oferta de petróleo e a queda vertiginosa dos seus preços?
Enquanto cresce este oceano de dúvidas, por cá a nova equipe econômica, através do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, assegura que a situação brasileira irá melhorar, com a estabilização da economia no terceiro trimestre e o crescimento a partir do quarto trimestre de 2016. Mas, um passado recente assombra 2016. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), no último trimestre de 2015, o número de empregados por conta própria cresceu 4,2%, o que revela a deterioração do nível de emprego no Brasil. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) confirmam esta trajetória. No ano passado, 1,5 milhão de postos formais foi fechado, número que representa queda de 3,7% no total de carteiras assinadas no país. Estima-se que ao somar os resultados do biênio 2015-2016, perderemos 2,5 milhões de empregos formais. As demissões foram maiores na indústria, com aumento de 19,2%, e na construção civil, com a redução do emprego em 13,6%. A Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) com base no Caged, concluiu que o total de estabelecimentos com vínculos empregatícios vem caindo e este número diminuiu 12,4% nos 12 meses encerrados em novembro. Em 2015, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) apurou o maior número de fechamento de empresas em mais de uma década. O percentual de empresas que fechou as portas foi de 77,9% das 388,5 mil empresas abertas, de janeiro a outubro de 2015, período de disponibilidade das informações.
Como 2016 se inicia reproduzindo 2015, a atividade econômica continua a descer no poço sem fundo e o Banco Central, capitaneado pelo seu presidente Alexandre Tombini, planejava enterrá-la ainda mais aumentando a taxa de juros em 0,5%. Mas, por quatro votos a dois, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa em 14,25%. O mercado recebeu com “surpresa” a decisão, embora Tombini tenha divulgado uma nota na véspera da reunião. Segundo a nota, as revisões das previsões do FMI (para 2016, a recessão passou de 1% para 3,5% e o crescimento, em 2017, foi corrigido de 2,3% para zero), “seriam levadas em conta pelo Copom”. Recado mais claro ao “mercado” não poderia existir. Houve tempo suficiente para que os especuladores “reposicionassem” seus ativos e ganhassem um pouco mais. Após a decisão final, automaticamente, o Copom foi soterrado por críticas. Dizem que a “comunicação tardia” provocará danos à economia e que a “mudança repentina do discurso” aponta um Banco Central “dependente” que abriu mão dos critérios técnicos e cedeu às pressões políticas, ou pior, ao “monstro heterodoxo”.
No entanto, muito mais importante que estas questões é o quadro de estagflação, estagnação e inflação, pelo qual passa a economia brasileira. Sinal de que a política de juros altos não remedia a inflação e ainda prejudica o crescimento.
Mas, hipnotizados pela cartilha econômica comum, com purgantes prontos, as autoridades econômicas sequer consideram as diferenças entre a evolução da economia brasileira e a mundial, que, curiosamente, padece do “mal” de sinal oposto: a deflação.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Visão crítica ou apaixonada?

Semana de 11 a 17 de janeiro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
O objetivo desta coluna, como o próprio nome indica, é analisar os movimentos da economia no curto prazo, o que chamamos de conjuntura econômica. Todos os estudiosos sabem que a economia não se move em linha reta, mas aos zigue-zagues, e que estas oscilações não são caóticas, mas descrevem movimentos que se repetem, chamados de ciclos econômicos. É preciso muito subjetivismo, cegueira ideológica, ignorância, interesses políticos ou má fé para desconhecer estes fenômenos que há mais de cem anos são observados, medidos e estudados por centenas de pesquisadores em todo o mundo.
Já mostramos nesta coluna que cada ciclo é formado por quatro fases que se sucedem: crise, depressão, reanimação e auge. É este movimento que é conhecido como ciclo de Juglar, um dos primeiros economistas que o estudou de forma sistemática.
O mérito do analista está em identificar em qual ponto do movimento se encontra uma economia determinada, em dado tempo. É este o esforço que empreendemos aqui e é o nosso objetivo. Não pretendemos estabelecer normas nem dar conselhos para a formulação de políticas econômicas. Não somos nenhuma consultoria econômica e apenas fornecemos elementos para a compreensão da realidade atual e indicações para uma possível evolução futura. Somos forçados a trabalhar com as estatísticas que são disponibilizadas pelos órgãos especializados, embora reconhecendo a sua fragilidade, tendenciosidade e a falta de rigor científico na sua elaboração. O problema não é de falta de dados, mas de seleção dos existentes e de maior confiabilidade deles.
Para quem analisa a conjuntura os dados mais importantes são os referentes aos movimentos do Produto Interno Bruto (PIB) que medem a soma de tudo o que é produzido no país. A observação é facilitada se em vez dos dados brutos usarmos as taxas de variação que mostram a percentagem do crescimento em relação ao ano, mês, trimestre, anteriores. Estas taxas podem ser positivas (quando há crescimento) ou negativas (quando ha decrescimento).
Além destes, há vários outros indicadores que devem ser levados em consideração como produção industrial, produção de bens de capital, emprego e desemprego, vendas e estoques, falências e concordatas, níveis de salários e rendimentos, etc.
Com tais dados podemos caracterizar uma economia em crise ou expansão sem com isto querer apontar culpados ou inocentes. Para falar a verdade, eles não existem, pois os movimentos da economia são inerentes a ela, são o resultado de leis econômicas do capitalismo que ninguém criou nem conseguirá revogar enquanto o sistema existir. O mais que se consegue com a política econômica é suavizar ou agravar, retardar ou antecipar o fenômeno e aí sim, podem haver culpados por ignorância, erro ou  oportunismo político.
Com os dados atualmente disponíveis, dizer que a crise não existe é, no mínimo, querer tapar o sol com uma peneira. A título de exemplo listamos alguns divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A produção industrial, que em 2014, já havia diminuído 3,2%, entre outubro e novembro diminuiu 2,4% e no acumulado do ano, 8,1%. Esta queda atingiu 25 dos 26 ramos estudados e 71 dos 79 grupos. O setor usa apenas 74,6% da capacidade instalada. O setor de bens de capital teve uma retração de 25,1%, no acumulado de janeiro a novembro. O mesmo ocorreu com os setores de bens de consumo duráveis (18,3%), eletrodomésticos (22%), bens de consumo semi e não duráveis (6,9%), bens intermediários (4,9%), etc. Há uma desaceleração em toda a cadeia produtiva, com aumento do desemprego e queda na renda.
Será que isto não basta para caracterizar uma situação de crise?
Enquanto isso, a inflação continua fora de controle caracterizando um quadro típico de estagflação. Mesmo assim, a próxima reunião do Copom anuncia um novo aumento das taxa de referência Selic. A ideologia econômica do Banco Central parece que o torna cego como uma toupeira. E com o cérebro igual ao dela.
É lamentável! 

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Notícias da China

Semana de 04 a 10 de janeiro de 2015

Raphael Correia Lima Alves de Sena[i]

A China assustou o mercado global nos primeiros dias de janeiro. A divulgação de um índice da atividade manufatureira do país, mostrando uma queda pelo décimo mês consecutivo, provocou um declínio brusco das bolsas chinesas. A derrubada das ações, juntamente com a desvalorização do Yuan, abalaram os centros financeiros internacionais. As cotações do minério de ferro e do petróleo foram, mais uma vez, pressionadas para baixo, atingindo um dos menores preços dos últimos anos. No Brasil, o dólar ultrapassou a barreira dos quatro reais e a Bovespa seguiu o baque ocorrido do outro lado do mundo. A percepção de que o crescimento chinês está desacelerando mais do que era previsto, está provocando uma tensão generalizada.
Se não bastasse o pífio desempenho da economia brasileira, o setor externo, impulsionado, principalmente, pela China, não se apresenta como uma fonte de esperança para a recuperação brasileira. Mesmo com o resultado positivo da balança comercial no ano passado, a baixa das cotações das commodities vem dificultando o saldo das exportações nacionais. O que poderia ser visto como uma alternativa à crise econômica encontra-se cada vez mais distante.
Internamente, os resultados do sombrio ano de 2015 começam a aparecer. A produção industrial apresentou no acumulado de 12 meses queda de 7,7%, em novembro. O destaque negativo é da indústria de bens de capital, com contração de 24,1%. A redução da participação dos bens de capital nacionais já era apontada por estudos do Progeb desde o início da década passada e vem acentuando-se cada vez mais. No setor automobilístico houve uma diminuição da produção de 26,6%, em relação ao ano de 2014, maior tombo em 28 anos. Foram fechadas 1.047 concessionárias e cerca de 32 mil postos de trabalhos foram eliminados. Já a inflação, medida pelo IPCA, encerrou o ano passado com alta de 10,67%, maior taxa desde 2002. Os preços administrados tiveram avanço de 18,08%, com a eletricidade e gasolina subindo 51% e 20,1%, respectivamente.
 Algumas medidas para “reativar” a economia começam a ser ensaiadas pelo governo e pelo setor privado. Novamente, o alvo passa a ser o setor habitacional e o automobilístico. No que concerne à construção civil, o governo estuda a possibilidade de utilizar os valores pagos aos bancos estatais e ao FGTS, com o intuito de quitar as “pedaladas”, para criar novas linhas de crédito. Como o impacto fiscal já ocorreu no ano de 2014, essa situação não iria, inicialmente, ter efeito sobre a as contas públicas no corrente ano. Já o setor automobilístico analisa a criação de um plano de renovação de frota. A ideia é retirar de circulação os carros de passeio com mais de 15 anos e os caminhões com mais de 30 anos. Esses automóveis seriam transformados em sucatas e seus proprietários receberiam uma carta de crédito para a obtenção de um novo veículo. Essa situação ainda é discutida entre a Fenabrave, entidade que representa o setor, e o Ministério do Desenvolvimento.
No que se refere ao ajuste das contas públicas, o Planalto continua a mirar a Previdência Social. Considerando que as suas contas são sistematicamente deficitárias a ideia é elevar a idade mínima de aposentadoria. Vale ressaltar que a Previdência brasileira possui uma característica muito especial. Com a criação da Previdência rural, pós-Constituição de 1988, o sistema de aposentadoria brasileiro passa a suportar o custo de uma medida de assistencialismo. Nessa situação, na qual parte dos beneficiários não realizaram nenhum tipo de contribuição, apresenta-se, de fato, como um tipo de Assistência Social, comparado ao Bolsa Família. Assim, a Previdência urbana, sistematicamente superavitária, possui a difícil tarefa de arcar com uma irresponsabilidade legislativa de manter um auxílio governamental. Nesse caso, se houvesse uma separação, a Previdência, pelo menos inicialmente, não se encontraria com necessidade de correção.
Enquanto isso, os delatores da operação Lava-Jato continuam a complicar cada vez mais o governo e a oposição. Os últimos nomes a aparecerem foram o de Jaques Wagner (PT), ministro-chefe da Casa Civil e Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB. Ainda foi apontada a distribuição de propina no governo FHC.
Fevereiro promete!

[i]Advogado e Pesquisador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Definitivamente sombrio, chega 2016!

Semana de 28 de dezembro de 2015 a 03 de janeiro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Estimado leitor, um novo ano se inicia sem boas novas. Como todos os prognósticos ruins para 2015 foram extrapolados, 2016, como já anunciado, nasce sombrio. No início de 2015, esperava-se que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegaria a 6,75%, mas a previsão atual é de alta de 10,8%! Todas as projeções, no início de 2015, apuravam que a taxa Selic fecharia em 12,5%, mas os juros já estão em 14,25%! Por fim, o governo, cabisbaixo, assumia no início do ano que a economia cresceria apenas 0,5%, mas, o quadro se reverteu e o decréscimo da atividade econômica ficará em torno de 3,7%, segundo o Boletim Focus do Banco Central.
2015 efetivamente foi um ano para esquecer.
E os indicadores recém-divulgados mostram que a projeção para o decrescimento econômico do ano passado se confirmará. Em todo o país, as vendas no varejo da semana de 18 a 24 de dezembro, caíram 6,4%, em relação à mesma semana de 2014, segundo o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio – Natal 2015. Foi, segundo a instituição, o pior desempenho para as vendas de Natal desde 2003, primeiro ano de divulgação deste indicador. Inflação e desemprego altos, crediário caro, queda da renda e da confiança dos consumidores, fizeram os mesmos fugirem das lojas no final de 2015.
Um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que 30,7% dos lojistas entrevistados apresentam estoques acima do adequado. Na Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, o resultado anual do setor será o pior da história com queda de 4,1%, em relação a 2014.
Já o tombo da indústria automobilística será gigante, com queda das vendas em torno de 27% e com nível baixo de utilização da capacidade instalada. Segundo a Tendências Consultoria, o uso da capacidade do setor automotivo é de apenas 53%. Com um cenário desses, é impossível que bons ventos soprem em 2016. As montadoras projetam queda média das vendas em 12% com continuidade dos cortes de mão de obra.
Os investimentos não se recuperarão. Segundo levantamento realizado pelo Valor Econômico, no biênio 2014-2016, a formação bruta de capital fixo, cairá em mais de 30%. E, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a recessão econômica brasileira que ocorre desde o segundo trimestre de 2014 será, provavelmente, a mais longa já registrada no país e durará 11 trimestres consecutivos. A previsão é que a crise se estenda até o final de 2016.
Todas as projeções indicam então, que 2016 será semelhante a 2015. A pressão inflacionária continuará e o teto da meta será rompido novamente. O IPCA fechará o ano em torno de 7%. O Boletim Focus também estima que a Selic permanecerá alta em 15,25% e as projeções de “decrescimento” do PIB se mantém em torno de 3%.
O consumidor de baixa renda continuará a pagar o pato. Segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de 1980 até 2014, a carga tributária brasileira, referida ao Produto Interno Bruto (PIB), aumentou 9,1 pontos percentuais. Em 2014, a carga chegou a 33,5% do PIB, tendência que permanecerá em 2015 em virtude das medidas de ajuste fiscal já implantadas. De acordo com o levantamento, famílias que ganham até dois salários mínimos gastam 46% da renda para pagar os tributos relativos ao consumo de bens e serviços. Para aquelas que recebem entre seis e 10 salários mínimos, o comprometimento é de 27% e as famílias que ganham acima de 25 salários usam 18% da renda para pagar tributos sobre o consumo.
Com tantas notícias ruins só restou ao consumidor tentar comemorar. As vinícolas brasileiras projetam expansão de 10% nas vendas de espumantes, em 2015, em comparação com 2014. Segundo o Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) até novembro, foram vendidos 17,45 milhões de litros.
Só mesmo afogando as mágoas é possível esquecer 2015 e enfrentar 2016.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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