Semana de 18 a 24 de janeiro de 2016
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Caro leitor. Está em andamento o Fórum Econômico Mundial. As autoridades de vários países estão reunidas sob o pretexto de discutir os efeitos produzidos pela quarta revolução industrial, mas, certamente, os participantes sairão daquela reunião com muito mais perguntas que respostas, pois, a situação econômica atual rouba a cena. Os Estados Unidos afirmaram através de Janet Yellen, presidente do Federal Reserve, que a realidade do crescimento baixo, em média 2%, se impôs por sete anos seguidos. Gestor algum consegue apresentar alternativas que difiram daquelas já apresentadas. O dinheiro injetado na economia sumiu pelo ralo sem produzir qualquer estímulo econômico. E agora o gigante chinês tombou.
Qual a saída? Por que razão a economia mundial não se recupera? Como lidar com a baixa inflação dos países desenvolvidos? O que fazer se todas as esperanças de recuperação estavam nos emergentes? Como sanar o excesso de oferta de petróleo e a queda vertiginosa dos seus preços?
Enquanto cresce este oceano de dúvidas, por cá a nova equipe econômica, através do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, assegura que a situação brasileira irá melhorar, com a estabilização da economia no terceiro trimestre e o crescimento a partir do quarto trimestre de 2016. Mas, um passado recente assombra 2016. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), no último trimestre de 2015, o número de empregados por conta própria cresceu 4,2%, o que revela a deterioração do nível de emprego no Brasil. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) confirmam esta trajetória. No ano passado, 1,5 milhão de postos formais foi fechado, número que representa queda de 3,7% no total de carteiras assinadas no país. Estima-se que ao somar os resultados do biênio 2015-2016, perderemos 2,5 milhões de empregos formais. As demissões foram maiores na indústria, com aumento de 19,2%, e na construção civil, com a redução do emprego em 13,6%. A Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC) com base no Caged, concluiu que o total de estabelecimentos com vínculos empregatícios vem caindo e este número diminuiu 12,4% nos 12 meses encerrados em novembro. Em 2015, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SMPE) apurou o maior número de fechamento de empresas em mais de uma década. O percentual de empresas que fechou as portas foi de 77,9% das 388,5 mil empresas abertas, de janeiro a outubro de 2015, período de disponibilidade das informações.
Como 2016 se inicia reproduzindo 2015, a atividade econômica continua a descer no poço sem fundo e o Banco Central, capitaneado pelo seu presidente Alexandre Tombini, planejava enterrá-la ainda mais aumentando a taxa de juros em 0,5%. Mas, por quatro votos a dois, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu manter a taxa em 14,25%. O mercado recebeu com “surpresa” a decisão, embora Tombini tenha divulgado uma nota na véspera da reunião. Segundo a nota, as revisões das previsões do FMI (para 2016, a recessão passou de 1% para 3,5% e o crescimento, em 2017, foi corrigido de 2,3% para zero), “seriam levadas em conta pelo Copom”. Recado mais claro ao “mercado” não poderia existir. Houve tempo suficiente para que os especuladores “reposicionassem” seus ativos e ganhassem um pouco mais. Após a decisão final, automaticamente, o Copom foi soterrado por críticas. Dizem que a “comunicação tardia” provocará danos à economia e que a “mudança repentina do discurso” aponta um Banco Central “dependente” que abriu mão dos critérios técnicos e cedeu às pressões políticas, ou pior, ao “monstro heterodoxo”.
No entanto, muito mais importante que estas questões é o quadro de estagflação, estagnação e inflação, pelo qual passa a economia brasileira. Sinal de que a política de juros altos não remedia a inflação e ainda prejudica o crescimento.
Mas, hipnotizados pela cartilha econômica comum, com purgantes prontos, as autoridades econômicas sequer consideram as diferenças entre a evolução da economia brasileira e a mundial, que, curiosamente, padece do “mal” de sinal oposto: a deflação.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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