quarta-feira, 2 de março de 2016

Uma recuperação fora dos trilhos

Semana de 22 a 28 de fevereiro de 2016


Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Continua o agravamento, tanto da crise econômica, como da crise política. Elas interagem e se alimentam mutuamente. No campo da economia as notícias negativas multiplicam-se. As montadoras tiveram uma queda de 20% nas vendas de fevereiro e continuam a desligar as máquinas, como têm feito a Ford, a GM, a Volkswagen, a Mitsubishi, etc. Também a Marcopolo, a maior encarroçadora do país, apesar de manter as exportações, já demitiu 3,5 mil trabalhadores e agora apela para férias e lay-off, tentando reduzir a produção. Outro indicador péssimo é o da produção de embalagens que está completando 12 trimestres seguidos de queda.
A situação internacional tem feito as grandes empresas brasileiras cancelarem seus investimentos no exterior. A queda foi de 48%, em 2015, o que trouxe de volta US$ 351 milhões. Os produtores de commodities reduziram seus investimentos no país. Só a Petrobras, Vale, Gerdau, CSN e Usiminas foram responsáveis pela queda de 22% no investimento total, no ano passado. Segundo estimativas, isso correspondeu a 1,2% da retração de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2015. Só a Petrobras reduziu seus investimentos em 34,5%. Uma das consequências foi a redução do número de plataformas contratadas com a Sete Brasil, de 28 para 10. A Sete Brasil está ameaçada de pedir recuperação judicial.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre – FGV), em seu “Boletim Macro”, estima, para 2016, uma queda do PIB de 3,4% e espera-se que esta queda, em 2015, tenha sido de 3,8%. Para a consultoria inglesa Oxford Economics o Brasil terá uma década perdida. Tudo indica que a situação ainda vai piorar.
A degradação da situação econômica vem acompanhada do acirramento da crise política. A prisão do João Santana, marqueteiro das campanhas e dos governos Lula e Dilma jogou mais lenha na fogueira e a luta pela derrubada do governo elevou-se a um novo patamar. Além de ter de enfrentar a situação econômica o governo é obrigado a organizar sua defesa no TSE, no STF e na lava jato. Os partidos de direita PSDB, PPS e DEM fazem todo tipo de aliança incluindo as organizações e personalidades golpistas e reacionárias como o Jair Bolsonaro e o grupo “Vem pra rua” tentando criar o clima favorável ao “impeachment”. Parecem ter pressa e não confiar nas ações que correm normalmente nos tribunais e poderiam dar legitimidade à deposição pretendida. Prepara-se aceleradamente a manifestação anunciada para o dia 13 deste mês. Michel Temer, receoso de que a ação no TSE, ao atingir a chapa presidencial, arraste-o junto, parece mudar de tática e pretende levar o PMDB a apoiar o “impeachment” cuja deflagração precisa sair o mais rápido possível, antes da decisão do TSE.
Tudo leva a crer que a temperatura política deve se elevar muito nos próximos tempos com inevitáveis repercussões na economia.
Do mundo exterior não se pode esperar nenhum refresco. A recuperação mundial arrasta-se a taxas de crescimento em torno de 2% e há temores de que a economia dos EUA desacelere ainda mais, pois a desaceleração da indústria estendeu-se agora ao setor de serviços. A queda nos ritmos da recuperação americana vem sendo acompanhada por fenômeno semelhante na Alemanha, Japão e China.
A última reunião dos ministros das finanças e dos presidentes dos bancos centrais dos países do G-20, o grupo dos 20 países mais poderosos do mundo, realizada sexta-feira da semana passada em Xangai (China), mostrou a preocupação diante da recuperação “modesta e desigual” atualmente em curso”. O Fundo Monetário Internacional (FMI) sugeriu a adoção de medidas fortes e “ações multilaterais ousadas para estimular o crescimento”... diante dos riscos de uma “recuperação fora dos trilhos, num momento em que a economia mundial está extremamente vulnerável a choques adversos.” Mal são passados 8 anos da última crise e a economia mundial apresenta sinais preocupantes de aproximação de um novo fenômeno.
Caso isso venha a ocorrer conheceremos então o que é um verdadeiro tsunami.
Precisamos acompanhar de perto a evolução dos acontecimentos. 

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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