terça-feira, 22 de março de 2016

Por cima de queda, coice!

Semana de 14 a 20 de março de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Como é de conhecimento do leitor, o cenário interno continua a deteriorar-se, tanto do ponto de vista político, quanto econômico. E o resto do mundo, principalmente o desenvolvido, em frangalhos, tenta a todo custo reanimar a atividade econômica. Dados recentes da Eurostat apuraram que a produção industrial na zona do euro subiu 2,1% em janeiro. Embora seja o maior aumento mensal desde setembro, a cautela tomou conta dos comentários, pois a desaceleração da economia mundial é uma realidade da qual não se pode fugir. Por isso, o Banco Central Europeu adotou mais uma rodada de afrouxamento monetário. Nos EUA, a prudência, que sempre esteve presente nos comentários sobre os dados da economia americana, permanece. O Departamento de Comércio apurou que as vendas de fevereiro caíram 0,1% e a revisão dos resultados de janeiro transformou uma alta de 0,2% deste indicador, em queda de 0,4%.
No Brasil, a retração econômica continua a agravar-se. A indústria foi o setor que mais perdeu trabalhadores, no quarto trimestre de 2015, comparado ao quarto trimestre de 2014. A queda da população ocupada foi de 14,5% para 13,4% e a indústria paulista registrou o fechamento de 12.000 postos de trabalho, em fevereiro. Segundo a Pesquisa de Nível de Emprego do Estado de São Paulo, em 12 meses, a taxa de desemprego que era de 8,27%, entre os anos de 2014 e 2015 passou a 10,18%.
Os pedidos de recuperação judicial se estendem agora, às empresas de tubos, conexões e forros de PVC, que foram atingidas pela desaceleração do setor de construção civil e pela paralisação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A Majestic e a PVC Brazil pediram recuperação em janeiro e, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), os efeitos já vêm sendo sentidos pela indústria desde 2015. A produção de componentes plásticos caiu 8,7%, pior resultado desde 2009 e a ociosidade média do setor alcançou 37%.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou um recuo de 0,61%, em janeiro, e frustrou as expectativas dos analistas que esperavam uma queda de 0,5%. Algumas instituições já preveem que o PIB deste ano cairá 4,4%.
Enquanto a economia derrete, a presidente Dilma vai perdendo com velocidade máxima, os apoios políticos antes “conquistados”. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), na pessoa do seu presidente Robson Braga de Andrade, lançou na imprensa um “Comunicado à Nação”, externando claramente o posicionamento a favor do impeachment da presidente. Sob a argumentação de dar “...um basta a esse impasse para que o país possa retomar o rumo”, a instituição pede punição aos que afastaram o país “...do caminho do crescimento, provocando o aumento do desemprego, a elevação da inflação e o fechamento de empresas.”
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que serviu almoço com filé mignon aos manifestantes da Avenida Paulista e pôs o seu pato amarelo nas ruas, comunicou que a instituição também apoia o impeachment da presidente. Paulo Skaf, presidente da instituição, assumiu que fará lobby entre os parlamentares pela aprovação do impedimento no Congresso. Críticas também partiram da Associação Comercial de São Paulo, da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo e da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
A Bancada ruralista do Congresso Nacional, autointitulada Frente Parlamentar da Agropecuária, também passou a defender o impeachment. A ruralista-mor, Kátia Abreu, ministra da Agricultura, permanece em cima do muro esperando o momento em que o seu partido, o PMDB, dará a rasteira final na presidente.
Sem nada para mostrar em termos de negociação política e também em termos da política econômica, a presidente Dilma Rousseff, parece estar à espera de um milagre, depositado na figura do ex-presidente Lula que, no momento, oscila entre estar e não estar ministro.
Como diz o nordestino: por cima de queda, coice!

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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