quarta-feira, 30 de março de 2016

Impeachment e crise econômica

Semana de 21 a 27 de março de 2016

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Para nós e nossos leitores não é nenhuma surpresa constatar que a situação econômica continua a se deteriorar. Podemos agora afirmar que ainda não chegamos ao fundo do poço e, como é normal, as grandes empresas passam a sentir o peso da desaceleração e reduzir ou encerrar as suas atividades. Citaremos apenas algumas manchetes dos noticiários para confirmar nossa observação.
As grandes empreiteiras, diante do jejum de obras públicas, encerram atividades e demitem trabalhadores. Só no ano passado isto significou 175 mil vagas eliminadas, reduzindo o contingente de trabalhadores ao menor nível desde 2008. Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, afirmou: “Ou muda a política econômica ou a indústria de construção pesada no país vai para o ralo”. A indústria de autopeças perdeu 18% do faturamento no ano passado. A Petrobrás teve, em 2015, o pior prejuízo da sua história: R$ 34,83 bilhões, causado em parte pela “baixa contábil” de R$ 48,3 bilhões, em seu balanço. As tais “baixas contábeis” atingiram não só a Petrobrás, mas a Vale, Usiminas, Gerdau e BM&FBovespa. Todas juntas apresentaram um montante das perdas que somou mais de R$ 90 bilhões. O mesmo ocorreu com Grendene, Embraer, Natura, Tractebel, Senior Solution e Mills. São bilhões de reais destruídos pela crise o que é um efeito esperado e necessário, inerente a este fenômeno.
Entre as montadoras a Randon parou a construção de nova fábrica em Araraquara (SP) e a produção de semirreboques rodoviários em Guarulhos. A Mercedes-Benz suspendeu a programada operação do segundo turno de sua fábrica de carros de luxo em Iracemápolis (SP).
No setor de eletrodomésticos e eletroeletrônicos a situação não é mais favorável. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), em janeiro, referido a janeiro de 2015, caíram as vendas nas seguintes percentagens: TVs 45%, eletroportáreis 50%, ar condicionado 58%, micro-ondas 34%, móveis e eletrodomésticos 24,3%. A Whirlpool, fabricante das marcas Brastemp, cônsul e Kitchen Aid, projeta uma retração de 10% nas suas atividades. A Mabe, dona das marcas Continental e Dako, pediu falência.
A situação no comércio e nos serviços levou ao fechamento de 104,6 mil empregos, em fevereiro. Os serviços encolheram 2,5%, em 2015.
Em relação à economia mundial, as notícias continuam preocupantes. O Banco Central Europeu (BCE) e os agentes econômicos ainda consideram insuficientes as recentes medidas de “relaxamento monetário” e redução dos juros (atualmente entre zero e -0,4). Também se considera difícil mais flexibilização fiscal diante do exagerado endividamento. A solução encontrada foi apelar para medidas que estimulem investimentos em pesquisa e desenvolvimento, melhorias do “capital humano”, aumento de salários, mais contratações e aprimoramento dos recursos humanos, melhorias no ambiente de trabalho, assistência aos filhos dos empregados, etc. Medidas semelhantes têm sido propostas pelo Banco Central do Japão (BoJ).
Todo este ambiente econômico adverso, que tende a se agravar, não aplaca a ira dos agentes políticos engalfinhados em uma luta de vida ou morte para roer os ossos do país e usufruir as benesses do poder. Como diz o cientista político alemão Jens Borchert, da Universidade de Frankfurt, em visita ao Brasil “A democracia brasileira está se desintegrando.”.
Em meio a tudo isto estoura mais um escândalo: o listão da Odebrecht. E desta vez estão arrolados mais de 200 nomes de políticos de quase todos os partidos. O descaramento é de tal ordem que as empreiteiras tinham constituído cartéis que tinham nomes e estatutos: “Sport Clube Unidos Venceremos” e o “Tatu Tênis Clube”. Estava para concluir quando explodiu a notícia do desembarque do PMDB do governo. Uma vibrante reunião com a participação ativa de um dos mais corruptos políticos do país, o presidente da Câmara, que, ao mesmo tempo, comanda o processo de impeachment da presidente e impede o andamento de seu próprio processo de cassação.
É inacreditável!         

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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