Semana de 17 a 23 de outubro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Após quatro anos de alta, finalmente, a taxa básica de juros caiu. O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), na reunião da semana passada, decidiu reduzi-la, de 14,25%, para 14%. O governo, contrariando suas próprias teses sobre a independência do BC, usou sua influência para provocar a queda. O ministro das Relações Exteriores, José Serra, na cúpula dos BRICS, já havia antecipado a redução. Os 0,25% de queda não satisfizeram o mercado que esperava mais. O comunicado do BC, emitido após a reunião, esfriou ainda mais os ânimos. Considerado “conservador” pelo mercado, deixou aberta a possibilidade de retrocesso ou lentidão na queda ao falar em política monetária “gradual e moderada”.
A satisfação do “mercado” foi ainda mais abalada pela prisão do Eduardo Cunha que ameaçou com a delação premiada. Finalmente a Polícia Federal (PF) bateu em sua porta, desta vez, não com o “japonês”, mas com o “lenhador”. O nervosismo instalou-se no Planalto. Temer antecipou seu retorno da conferência dos BRICS dizendo-se tranquilo. Novo escândalo explodiu com as operações da PF que anunciou a delação do Cavendish, da construtora Delta e efetuou a prisão de quatro membros da polícia do Senado, entre os quais o seu chefe, acusados de atrapalhar as investigações da Lava-Jato. Foi demais. O presidente do Senado, Renan Calheiros, perdeu sua conhecida moderação e chamou um juiz de “juizeco de 1ª instância” e o Ministro da Justiça de “chefete de polícia”. Está nervoso o Renan, pois parece que a coisa caminha para o seu lado e do presidente Temer. A semana promete ser boa.
Entretanto o governo obteve uma importante vitória. Conseguiu aprovar na Câmara a famigerada PEC-241 que limita os gastos públicos durante 20 anos. Aproveitando-se da maioria eventual que tem no parlamento, o governo, escondendo sua incompetência administrativa para preparar um orçamento de acordo com as necessidades do país, resolve comprar no atacado um congresso corrupto até com a oferta de jantares às vésperas da votação. Agora ele não precisa mais negociar apoio no varejo para as solicitações dos deputados de sua base. A bancada da Paraíba votou em bloco com o governo apenas escapando o deputado Luiz Couto. É bom ir preparando o cipó de aroeira, pois vão sobrar lombos para bater nas próximas eleições.
Tudo isto, porém, não é o mais grave. As notícias da economia é que foram abundantes e confirmam nossos prognósticos. O governo começa a recuar em suas projeções. Como já dissemos, “expectativas” não enchem barriga. A realidade econômica não perdoa as teorias furadas que baseiam as propostas oficiais. Em agosto, o índice IBC-Br do BC mostrou um recuo de 0,91%, em relação a julho, mostrando que o PIB apresentará queda no terceiro trimestre. No mesmo intervalo o Monitor do PIB calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou queda de 1,6%. Na produção industrial o setor de alimentos caiu 8%, o automobilístico 10,4%, a indústria do petróleo 1,9%. O fluxo de veículos pesados nas estradas recuou 2,5% e o de veículos leves 5%, segundo a Associação Brasileira das Concessionárias das Rodovias (ABCR). A Pesquisa Mensal de Serviços feita pelo IBGE mostrou uma queda de 1,6% nos serviços prestados. Os transportes terrestres diminuíram 3,3% e o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), calculado pela CNI, caiu em outubro. Para o presidente da CNI o crescimento da produção industrial deve começar somente em 2018. Segundo estimativas de 22 instituições financeiras, as vendas no varejo restrito (sem automóveis e construção civil) caíram 0,5% e do varejo ampliado 0,9%, em agosto. Segundo pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apenas 27,9% pretendem investir para o Natal e 13,9% contratarão mais funcionário temporários. Segundo a Serasa Experian a demanda dos consumidores por crédito caiu 3,6% em setembro e a sondagem industrial feita pela CNI mostrou igualmente queda na produção e emprego.
Analistas e governo já começam a admitir que confiança e expectativas não estão resultando em crescimento econômico e as projeções para a recuperação estão sendo adiadas para 2017 ou 2018.
Finalmente caíram na real.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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