Semana de 03 a 09 de outubro de 2016
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Há duas semanas comentamos o manifesto das sete centrais sindicais nacionais de trabalhadores CUT, CTB, CSB, CGTB, NCST, CSP e Intersindical conclamando seus filiados à luta contra as proclamadas reformas do governo Temer, consideradas prejudiciais às conquistas dos trabalhadores.
Como resposta, os jornais desta semana publicaram o chamamento dos empresários para a defesa das propostas do governo. A declaração veio assinada pelas seguintes entidades: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Confederação Nacional das Cooperativas (CNCOOP), Confederação Nacional de Comunicação Social (CNCS), Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Confederação Nacional de Saúde (CNS), Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Confederação Nacional de Transporte (CNT) e Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta proclamação, as confederações empresariais apoiando e fazendo coro com as propostas do governo, apresentam-se como defensoras da “retomada do crescimento”, da “geração de empregos” e da “melhora das condições de vida dos brasileiros”.
A declaração de guerra agora está completa. Os dois exércitos rufam os seus tambores e preparam-se para o embate.
Há muito tempo as coisas não ficavam tão explícitas. O pacto de classes promovido pelo PT foi rompido e as contradições do sistema manifestam-se de forma aguda: burgueses x proletários.
A julgar pelas declarações divulgadas, o governo Temer representa os legítimos interesses das classes empresariais do país e nada tem a ver com os interesses do povo e dos trabalhadores. A partir desta constatação, a discussão torna-se inútil e a escolha da posição a assumir é facilitada. O problema para o governo é convencer a todos, que os interesses daquelas classes sociais que ele representa coincidem com os interesses da nação. Para isto deflagrou uma campanha usando todos os recursos possíveis e não tem qualquer escrúpulo em corromper e utilizar os métodos que ele cinicamente condena. O balcão de feira está armado no planalto com direito a jantares e mordomias para acompanhantes.
Mas, não são apenas os parlamentares que são aliciados. Sobra para os jornalistas e economistas que mentem descaradamente recorrendo a raciocínios primários, de fácil apreensão, na tentativa de iludir as pessoas.
A primeira proposta lançada para a aprovação do congresso foi a Proposta de Emenda à Constituição 241 (PEC 241/16) que estabelece um teto para a expansão dos gastos públicos durante os próximos 20 anos.
Sem entrar no mérito da questão é preocupante a pressa em submeter à aprovação uma alteração na constituição que vai afetar as próximas gerações durante 20 anos. O mínimo que se pode dizer deste tema é que é muito complexo e controverso. Considere-se ainda que a proposta vem de um governo que se esquece de sua responsabilidade pela situação atual, pois a chamada “herança maldita” foi gerada com a participação dele próprio. Por outro lado, o órgão colegiado que tomará a decisão é um dos mais corrompidos do país com mais de 50% de seus membros pendurado em processos judiciais.
Enquanto isso, o governo continua a acenar com a retomada da confiança e a recuperação da economia. No entanto, os dados objetivos apontam em outra direção. A queda de 3,8% da produção industrial, em agosto sobre julho, foi uma bomba nas previsões do governo. Dos 24 ramos estudados a produção caiu em 21 deles. Segundo a CNI, o faturamento caiu 3,9%, no mesmo período e as horas trabalhadas, 3,2%. O emprego industrial caiu 0,4%, o rendimento médio 0,3% e a massa salarial 0,6%. O emprego industrial caiu pelo 19º mês consecutivo e está no nível de 2004.
Com estes dados é difícil observar-se uma recuperação que continua a não passar de mera expectativa.
[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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