terça-feira, 15 de novembro de 2016

A “equipe dos sonhos” assume o pesadelo: crescimento só em 2017

Semana de 07 a 13 de novembro de 2016

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Em meio à ressaca do resultado das eleições americanas, a economia brasileira continua a arrastar-se. O “evento improvável”, termo cunhado pelo Banco Central brasileiro, provocou efeitos sobre o mercado cambial e a instituição foi obrigada a intervir no “câmbio flutuante” suspendendo os leilões diários de compra de dólares. As bolsas do mundo caíram, mas o discurso moderado de Trump, após o resultado, diminuiu os maus prognósticos lançados inicialmente.
Enquanto isso, no Brasil proliferam más notícias. As vendas do varejo ampliado, (varejo restrito somado às vendas de veículos e material de construção) caíram 2,7%, entre julho e setembro. No segundo trimestre o indicador já havia caído 1,7%. Usando este indicador como prévia para o quarto trimestre, percebe-se que as festas natalinas deste ano serão bem magras.
A indústria automobilística, que opera com apenas 48% de utilização da capacidade instalada, fechará 2016 com o terceiro ano consecutivo de queda nas vendas. E os efeitos nefastos sobre o mercado de força de trabalho continuam. A Embraer está negociando um acordo de ‘lay-off’ para até 2.000 funcionários. A suspensão do contrato de trabalho será entre o período de dois a cinco meses. A empresa já havia anunciado férias coletivas a partir de outubro e a adesão de 1.470 funcionários ao programa de demissões voluntárias.
Portanto, a realidade se impõe. Em passado recentíssimo, a “equipe econômica dos sonhos” se gabava, sem qualquer modéstia, da sua elevada competência para produzir a recuperação econômica, acontecimento que, segundo eles, a equipe anterior foi incapaz de promover. Em junho, um mês após tomar posse, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, falava otimista sobre a quebra do ritmo de queda do PIB: “Esperava-se 0,8%, e caiu 0,3%. O que já é um indicativo de que este brevíssimo período em que nós estamos governando já produziu algum efeito positivo.”
Em setembro, Meirelles já registrava o retorno do “crescimento” econômico: “Agora, tem uma previsão de crescimento substancial. É importante mencionar que o investimento foi o primeiro setor da atividade econômica que reagiu, porque há um sinal claro de que a economia brasileira está crescendo”. O presidente Temer partilha da visão e diz vislumbrar sinais positivos no horizonte. Segundo ele, os “... indicadores de confiança, tanto no agronegócio como na indústria, cresceram enormemente (...). A confiança está crescendo e, quando a confiança cresce, o emprego começa a aumentar”.
Mas, o passeio do governo pelo Fantástico Mundo de Bobby terminou. Os tons dos discursos vêm mudando. Tornou-se insustentável reproduzir uma linda imagem de um cenário econômico tão cinza. Toda a cúpula do governo participou, esta semana, de um seminário de título “Infraestrutura e Desenvolvimento do Brasil”, promovido pelo Jornal Valor Econômico e patrocinado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Lá, ao discursar para empresários, Meirelles afirmou que a retomada está mais lenta do que o esperado. Mas há uma boa notícia, “... devemos crescer em 2017, não será crescimento exuberante, mas será sólido”.
O milagre prometido para 2016, só vai rolar ano que vem. O milagre, que vai acontecer, foi apenas adiado. E vai acontecer assim: vai “... haver uma redução estrutural da taxa de juros, a taxa de investimento e crescimento potencial serão aumentados; a política monetária será mais eficaz, os ciclos monetários e dos negócios serão mais suaves e o emprego, salário, lucro e o bem estar das famílias aumentados.” Estas são as novas previsões na bola de cristal do bruxo a serem confirmadas.
O presidente Michel Temer, acuado, disse que os empregos (que segundo ele, já cresciam em setembro) só tornarão a crescer apenas no segundo semestre do ano que vem. E em tom acusatório, reclamou: “Querem que o governo assuma e, dois meses depois, o céu esteja azul. Não é assim, leva tempo”.
Pois é. Em tempos de crise, quem semeia sonhos, colhe pesadelos.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog