quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

À espera...

Semana de 23 a 29 de janeiro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho[i]

O mundo está em polvorosa com as decisões do novo governo norte-americano. Parece que Donald Trump está realmente disposto a cumprir suas promessas de campanha. Seu primeiro ato como presidente foi o de retirar os Estados Unidos da Parceria Transpacífico e reafirmar a construção do muro na fronteira com o México. Além disso, proibiu por 90 dias, a entrada no país de imigrantes do Iraque, Irã, Sudão, Somália, Síria, Iêmen e Líbia e por tempo indeterminado a entrada de refugiados de todas as nacionalidades. Os últimos acontecimentos têm fortalecido na Europa a união de renomados políticos “populistas”, da mesma estirpe de Trump, que prometem uma “primavera patriótica” ao reforçar ideias nacionalistas.
Internamente, continuamos à espera. Nos últimos dias, não houve divulgação de estatísticas econômicas significativas. Apenas algumas estimativas e os subjetivos indicadores de “humor” de consumidores e empresários foram publicados. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) prevê crescimento de 5% na receita líquida em 2017, após quatro anos consecutivos de queda. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), projeta que, com um impulso vindo do setor agropecuário, o Produto Interno Bruto (PIB) superará o campo negativo, no primeiro trimestre deste ano, com alta pouquíssimo significativa de 0,1%. A inflação foi revisada para baixo, pela terceira vez consecutiva, pelo Boletim Focus do Banco Central. As novas estimativas projetam uma alta de 4,71% este ano.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) comemora a melhora do pessimismo dos empresários do comércio. O Índice de Expansão do Comércio caiu para em 85,1 pontos em janeiro. Em dezembro havia fechado em 89,9 pontos. A comemoração fica por conta do crescimento do indicador de 18,1% em relação a janeiro de 2016. Mesmo assim, o índice permanece abaixo de 100, número que representa a fronteira entre o pessimismo e otimismo.
Confiante mesmo está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Seus subordinados, afirmam que, em dezembro, a economia brasileira deu sinais animadores. Baseando-se em dados (alguns ainda não divulgados), Meirelles chegou a afirmar que houve “... uma inflexão (do crescimento) em dezembro para valer”. Segundo o Ministério, a produção de veículos cresceu 5% na comparação com novembro, a produção de papelão ondulado, caixa, acessórios e chapas, cresceu 1,3%, a movimentação do pedágio de veículos pesados aumentou 4,8%, o consumo de energia elétrica subiu 0,6% e as importações do país se elevaram em 3,7%. E em janeiro, houve melhora da confiança da indústria, que subiu 3,1% e da confiança dos consumidores, que se elevou 6,2%. Em razão disso, um novo surto de otimismo empolgou o governo.
Mas, registre-se que o Investimento Direto no País (IDP) fechou 2016 em US$ 78,929 bilhões. O ingresso de recursos, segundo o Departamento Econômico do Banco Central, foi usado para financiar empréstimos intercompanhia, ou seja, a cifra não estimulou o investimento propriamente dito. A participação no capital caiu de US$ 56,421 bilhões em 2015 para US$ 54,021 bilhões em 2016, enquanto que as operações intercompanhia subiram de US$ 18,053 bilhões para US$ 24,908 bilhões.
Os investimentos internos também não receberão impulso dos bancos públicos. Ordenados a restringir a operação, a queda registrada no fornecimento de crédito por estas instituições no país foi de 3,7%, sendo a primeira retração desde 2001.
Portanto, não é surpresa que, mesmo diante do otimismo de Meirelles, as projeções para 2017 não deslanchem.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), prevê expansão de 0,3%, o Banco Central 0,5% e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua estimativa de 0,5% para 0,2%. O próprio Ministério da Fazenda projeta 1%, mesma previsão do Banco Itaú.
O mundo e o Brasil, por razões diferentes, continuam em compasso de espera.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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