quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O pior ficou para trás?

Semana de 13 a 19 de fevereiro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
O governo continua a berrar aos quatro cantos que já ultrapassamos o fundo do poço e que a recuperação já começou. O ministro Meirelles é o mais otimista e a nossa curta memória ajuda a esquecer das previsões anteriores feitas por ele. A recuperação já teria começado no terceiro trimestre do ano passado. Diante do fracasso ele mudou a data para o quarto trimestre. Novo fracasso e agora ele afirma que já estamos em plena recuperação.
Mesmo diante da divulgação dos péssimos resultados do comércio varejista em 2016 o sinistro manteve o seu discurso. Desta vez vamos fazer alguns registros aqui. Meirelles começou afirmando que os resultados negativos já eram esperados, mas: “O que foi negativo em 2016 será positivo em 2017. Famílias e empresas começam um processo de tomada de crédito para investir, produzir, consumir”. Disse ainda: “estamos crescendo no primeiro trimestre e mais solidamente positivo ao longo do ano”. E quais foram os dados que o ministro subestimou?
Conforme a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), em dezembro, o varejo restrito (sem veículos e materiais de construção) recuou 2,1%, em relação a novembro. No ano a redução foi de 6,2%, o pior resultado desde 2003 quando o IBGE começou a divulgar os dados. Outros analistas têm interpretações diferentes do ministro. Paulo Robilotti, economista da LCA Consultores, espera uma tímida recuperação apenas no segundo semestre, opinião compartilhada por Luciano Rostagno, estrategista-chefe para a América Latina do Banco Mizuho. Os analistas do Bradesco consideram que o mercado de trabalho continuará enfraquecido até o terceiro trimestre.
Há outros dados que mostram a gravidade da situação. O setor de serviços fechou 2016 com um recuo de 5%, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), o pior resultado desde 2012. A PMS avalia que as dificuldades continuarão em 2017. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquáticos (Antag), também em 2016, a movimentação de cargas nos portos reduziu-se 1% em relação ao ano anterior. O Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou uma queda de 3,6%, em 2016. Considerando que, em 2015, já havia caído 3,8%, juntando-se os dois anos o nível da produção voltou ao de 2011.
No mercado imobiliário a crise cobra seu preço. A incorporadora PDG Realty, depois de receber da Receita Federal uma multa de R$3,629 bilhões, recorrerá a uma recuperação judicial. Só entre julho e setembro seu prejuízo atingiu R$1,72 bilhão.
No setor de alumínio a Abal não vê melhoras nem na economia nem no setor, durante o ano de 2017. Em 2016, até setembro, o consumo de alumínio caiu 9,3%.
Nem no setor financeiro as perspectivas são melhores. O Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco calculam que, em 2017, a expansão do crédito ficará próxima de zero. Os lucros destes bancos somados ao do Santander caíram 18,8%, em 2016.
No campo político o governo continua acossado pela operação Lava-Jato que agora se volta contra os caciques do PMDB. Edison Lobão e Jader Barbalho entraram na linha de tiro com a operação Leviatã. Até Delfim Netto está sendo arrolado com as investigações sobre a hidroelétrica de Belo Monte (PA) e Angra 3 (RJ). Com o cinismo que o caracteriza o presidente Temer foi obrigado a fazer um pronunciamento a respeito da nomeação de Moreira Franco para o cargo de ministro. Citado 34 vezes nas delações premiadas da Lava-Jato, com o apelido de “Angorá”, o agora ministro estaria sendo blindado por Temer. Na defensiva, o presidente prometeu demitir qualquer auxiliar que passar à condição de réu nas investigações afirmando que não quer blindar ninguém.
Este quadro reflete-se nas pesquisas de opinião que são divulgadas. Continua a queda na avaliação do presidente e do governo enquanto sobe a aprovação à possível candidatura de Lula.
As únicas realizações que o governo se atreve a apresentar como suas são a queda da inflação e dos juros, a melhora das expectativas e o fato de conseguir aprovar seus projetos no congresso mais corrupto que o país jamais conheceu. Com exceção do conluio entre os corruptos, as demais “realizações” nada têm a ver com a ação governamental.
Será que a recuperação já começou?

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O desencontro entre realidade e confiança continua

Semana de 06 a 12 de fevereiro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho[i]

Enquanto assistimos, estupefatos, as manobras do governo e do Congresso Nacional, capitaneando a indicação de Alexandre de Moraes como Ministro do Supremo Tribunal Federal e blindando, com status de ministro, Moreira Franco, citadíssimo nas apurações da Operação Lava Jato, continuamos à espera de uma reação da nossa economia. Entretanto, poucas são as boas novas trazidas pela conjuntura econômica.
A queda da inflação e a redução dos juros deixaram os empresários e consumidores confiantes no início do ano. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) apurou melhora no Índice de Confiança Empresarial (ICE) que agrega os setores de serviços, indústria, construção civil e comércio que subiu para 82,3 entre dezembro e janeiro, alta de 3,8 pontos. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu de 73,1 pontos para 79,3 pontos no mesmo período. Apesar disso, ambos os índices continuam no campo negativo.
Mas, os poucos resultados divulgados para janeiro não evidenciam o esperado encontro entre a melhora da confiança e a recuperação da atividade econômica. Embora tenha ocorrido uma melhora do Nível de Utilização da Capacidade Instalada apurado pela FGV, que aumentou de 72,9% para 74,6%, em janeiro, a alta da produção industrial de 2,3%, observada em dezembro, não deve se repetir no começo do ano, segundo os analistas.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Fernando Pimentel, disse que os resultados de janeiro para o setor são “contraditórios”. As vendas do Natal não foram boas e a produção do setor têxtil e de confecção certamente crescerá muito pouco no primeiro trimestre em relação a igual período de 2016.
O movimento no comércio paulista, segundo a Associação Comercial de São Paulo, caiu 5% em janeiro confrontado a janeiro de 2016.
Já os pedidos de recuperação judicial caíram 43,4% em janeiro em comparação com dezembro. Este, embora pareça um dado animador, reforça a tese dos analistas de que as empresas estão apenas adiando o pedido em virtude do corte recente da taxa de juros.
Mas, é no setor automobilístico onde reside toda a preocupação. O licenciamento de veículos (automóveis, comerciais leves, motocicletas, caminhões e ônibus) apurado pela Fenabrave, caiu 3,2% em janeiro, comparado a dezembro.
A indústria automobilística produziu, em janeiro, 174 mil veículos, voltando aos níveis de agosto, setembro e outubro de 2016. E as vendas de janeiro representaram uma queda de 5,2%, comparadas a janeiro de 2016. O número de trabalhadores afastados no setor passou de 7,4 mil em dezembro, para 10,3 mil em janeiro. Do total de 104,2 mil trabalhadores, 1,6 mil estão em “layoff” e outros 8,6 mil estão no Programa Seguro Desemprego.
Houve também queda de 33,3% na venda de caminhões, comparado a janeiro de 2016. Este foi o pior janeiro para o setor desde 1997.
Com a quebra no ritmo de vendas, a Ford comunicou que dará um período de férias coletivas e de folgas na fábrica de São Bernardo do Campo em São Paulo, por 26 dias após o Carnaval. A General Motors, que já havia anunciado a parada neste período, na fábrica de São José dos Campos, anunciou folga por um mês na fábrica de São Caetano do Sul também em São Paulo. A decisão da Volkswagen é a mesma.
Os fornecedores da indústria, por sua vez, reclamam que não há novas encomendas, um sinal de que nos próximos meses, a produção deverá voltar aos níveis de outubro do ano passado.
Os números não mentem. A melhoria da confiança foi registrada, mas confiança e realidade continuam separadas por uma distância abissal.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O governo Temer em apuros

Semana de 30 de janeiro a 05 de fevereiro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Os acontecimentos políticos atropelaram a economia. Continuamos a assistir o assalto do PMDB ao poder, em aliança com o PSDB. Já não há nenhuma vergonha. No congresso foi estabelecida a paz com Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara e Eunício Oliveira (PMDB) na presidência do Senado, coadjuvado pelo corrupto cassado Cunha Lima (PSDB), na vice. Um novo ministro para o STF também já foi indicado: Alexandre de Moraes (PSDB), antigo ministro da justiça. São todos íntimos colaboradores do presidente Temer, que continuou na ofensiva. Contrariando o que prometeu, criou mais dois ministérios: o da Secretaria Geral, entregue ao Moreira Franco, ameaçado pela Lava-jato, e agora blindado com o foro privilegiado, atitude condenada no caso da nomeação de Lula, no governo Dilma. O outro ministério criado foi o dos Direitos Humanos, doado ao PSDB, com a jurista Luislinda Valois. A indicação do Moreira Franco para ministro já está provocando várias ações de impugnação na Justiça. A situação política fica, nessas circunstâncias, muito longe de qualquer estabilidade. Se a Lava-jato não for enterrada corremos o risco de ficar, de uma hora para outra, sem o presidente da República e sem os presidentes das duas casas legislativas.
O cenário político roubou as atenções e as notícias econômicas ficaram em segundo plano. Passaram despercebidos certos aspectos do déficit fiscal primário de 2016. Foi o maior rombo da história: R$154,255 bilhões. E o Henrique Meirelles teve o descaramento de contar vantagem, pois ficou abaixo dos R$170,5 bilhões que eles haviam previsto. Claro que a culpa foi colocada na “herança maldita” e no “rombo da previdência”. Esconderam que houve um aumento real dos gastos que cresceram 11,2%, comparados com 2015. O austero governo Temer aumentou as despesas em relação ao PIB e a taxa atingiu o valor mais elevado da história.
Apesar de toda a gastança a situação da economia não se apresentou promissora.
Nos bastidores continua a pressão para fazer crer que a recuperação já começou. O desespero aumenta na grande imprensa capitaneada pela Globo, mas se reflete até em órgãos de alguma credibilidade. A teoria das “expectativas” continua em voga e os mais realistas lamentam timidamente que elas não conseguem influenciar a realidade. Alguns indicadores melhoraram, apesar de continuarem no campo negativo. É o caso do Índice de Confiança Empresarial (ICE) e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), ambos calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). No entanto os dados da economia não são animadores. O licenciamento de veículos (dados da Fenabrave) recuou 3,2%, em janeiro, sobre dezembro, segundo cálculos da MCM Consultores. As vendas de veículos, em janeiro, foram as mais baixas dos últimos 11 anos. Em relação a 2016 houve uma queda de 5,18%. O setor produtor de veículos de carga trabalhou com 75% de ociosidade e o de carros com 50%. Segundo a consultoria Markitt, no setor industrial, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) atingiu o menor nível em sete meses.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) apurou que o movimento das lojas na cidade, em janeiro, comparado a 2016, caiu 3,8%, nas compras a prazo, e 6,2% nas compras à vista. Para a entidade, o primeiro trimestre será de retração. Para Aloísio Campelo, superintendente de estatísticas públicas do Ibre-FGV não é possível afirmar que a economia já saiu da recessão.
Preocupado, o presidente da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb, declarou: “É preciso olhar os números friamente e tirar um pouco das ilusões provocadas pela bolha do fim do ano”.
Concluindo, as notícias da semana nos permitem afirmar que nem de longe a situação política estabilizou-se e a economia continua no fundo do poço. O ano promete ser muito rico em acontecimentos.
Quem viver verá.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

À espera...

Semana de 23 a 29 de janeiro de 2017

Rosângela Palhano Ramalho[i]

O mundo está em polvorosa com as decisões do novo governo norte-americano. Parece que Donald Trump está realmente disposto a cumprir suas promessas de campanha. Seu primeiro ato como presidente foi o de retirar os Estados Unidos da Parceria Transpacífico e reafirmar a construção do muro na fronteira com o México. Além disso, proibiu por 90 dias, a entrada no país de imigrantes do Iraque, Irã, Sudão, Somália, Síria, Iêmen e Líbia e por tempo indeterminado a entrada de refugiados de todas as nacionalidades. Os últimos acontecimentos têm fortalecido na Europa a união de renomados políticos “populistas”, da mesma estirpe de Trump, que prometem uma “primavera patriótica” ao reforçar ideias nacionalistas.
Internamente, continuamos à espera. Nos últimos dias, não houve divulgação de estatísticas econômicas significativas. Apenas algumas estimativas e os subjetivos indicadores de “humor” de consumidores e empresários foram publicados. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) prevê crescimento de 5% na receita líquida em 2017, após quatro anos consecutivos de queda. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), projeta que, com um impulso vindo do setor agropecuário, o Produto Interno Bruto (PIB) superará o campo negativo, no primeiro trimestre deste ano, com alta pouquíssimo significativa de 0,1%. A inflação foi revisada para baixo, pela terceira vez consecutiva, pelo Boletim Focus do Banco Central. As novas estimativas projetam uma alta de 4,71% este ano.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) comemora a melhora do pessimismo dos empresários do comércio. O Índice de Expansão do Comércio caiu para em 85,1 pontos em janeiro. Em dezembro havia fechado em 89,9 pontos. A comemoração fica por conta do crescimento do indicador de 18,1% em relação a janeiro de 2016. Mesmo assim, o índice permanece abaixo de 100, número que representa a fronteira entre o pessimismo e otimismo.
Confiante mesmo está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Seus subordinados, afirmam que, em dezembro, a economia brasileira deu sinais animadores. Baseando-se em dados (alguns ainda não divulgados), Meirelles chegou a afirmar que houve “... uma inflexão (do crescimento) em dezembro para valer”. Segundo o Ministério, a produção de veículos cresceu 5% na comparação com novembro, a produção de papelão ondulado, caixa, acessórios e chapas, cresceu 1,3%, a movimentação do pedágio de veículos pesados aumentou 4,8%, o consumo de energia elétrica subiu 0,6% e as importações do país se elevaram em 3,7%. E em janeiro, houve melhora da confiança da indústria, que subiu 3,1% e da confiança dos consumidores, que se elevou 6,2%. Em razão disso, um novo surto de otimismo empolgou o governo.
Mas, registre-se que o Investimento Direto no País (IDP) fechou 2016 em US$ 78,929 bilhões. O ingresso de recursos, segundo o Departamento Econômico do Banco Central, foi usado para financiar empréstimos intercompanhia, ou seja, a cifra não estimulou o investimento propriamente dito. A participação no capital caiu de US$ 56,421 bilhões em 2015 para US$ 54,021 bilhões em 2016, enquanto que as operações intercompanhia subiram de US$ 18,053 bilhões para US$ 24,908 bilhões.
Os investimentos internos também não receberão impulso dos bancos públicos. Ordenados a restringir a operação, a queda registrada no fornecimento de crédito por estas instituições no país foi de 3,7%, sendo a primeira retração desde 2001.
Portanto, não é surpresa que, mesmo diante do otimismo de Meirelles, as projeções para 2017 não deslanchem.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), prevê expansão de 0,3%, o Banco Central 0,5% e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua estimativa de 0,5% para 0,2%. O próprio Ministério da Fazenda projeta 1%, mesma previsão do Banco Itaú.
O mundo e o Brasil, por razões diferentes, continuam em compasso de espera.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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