sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O governo Temer em apuros

Semana de 30 de janeiro a 05 de fevereiro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Os acontecimentos políticos atropelaram a economia. Continuamos a assistir o assalto do PMDB ao poder, em aliança com o PSDB. Já não há nenhuma vergonha. No congresso foi estabelecida a paz com Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara e Eunício Oliveira (PMDB) na presidência do Senado, coadjuvado pelo corrupto cassado Cunha Lima (PSDB), na vice. Um novo ministro para o STF também já foi indicado: Alexandre de Moraes (PSDB), antigo ministro da justiça. São todos íntimos colaboradores do presidente Temer, que continuou na ofensiva. Contrariando o que prometeu, criou mais dois ministérios: o da Secretaria Geral, entregue ao Moreira Franco, ameaçado pela Lava-jato, e agora blindado com o foro privilegiado, atitude condenada no caso da nomeação de Lula, no governo Dilma. O outro ministério criado foi o dos Direitos Humanos, doado ao PSDB, com a jurista Luislinda Valois. A indicação do Moreira Franco para ministro já está provocando várias ações de impugnação na Justiça. A situação política fica, nessas circunstâncias, muito longe de qualquer estabilidade. Se a Lava-jato não for enterrada corremos o risco de ficar, de uma hora para outra, sem o presidente da República e sem os presidentes das duas casas legislativas.
O cenário político roubou as atenções e as notícias econômicas ficaram em segundo plano. Passaram despercebidos certos aspectos do déficit fiscal primário de 2016. Foi o maior rombo da história: R$154,255 bilhões. E o Henrique Meirelles teve o descaramento de contar vantagem, pois ficou abaixo dos R$170,5 bilhões que eles haviam previsto. Claro que a culpa foi colocada na “herança maldita” e no “rombo da previdência”. Esconderam que houve um aumento real dos gastos que cresceram 11,2%, comparados com 2015. O austero governo Temer aumentou as despesas em relação ao PIB e a taxa atingiu o valor mais elevado da história.
Apesar de toda a gastança a situação da economia não se apresentou promissora.
Nos bastidores continua a pressão para fazer crer que a recuperação já começou. O desespero aumenta na grande imprensa capitaneada pela Globo, mas se reflete até em órgãos de alguma credibilidade. A teoria das “expectativas” continua em voga e os mais realistas lamentam timidamente que elas não conseguem influenciar a realidade. Alguns indicadores melhoraram, apesar de continuarem no campo negativo. É o caso do Índice de Confiança Empresarial (ICE) e o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), ambos calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). No entanto os dados da economia não são animadores. O licenciamento de veículos (dados da Fenabrave) recuou 3,2%, em janeiro, sobre dezembro, segundo cálculos da MCM Consultores. As vendas de veículos, em janeiro, foram as mais baixas dos últimos 11 anos. Em relação a 2016 houve uma queda de 5,18%. O setor produtor de veículos de carga trabalhou com 75% de ociosidade e o de carros com 50%. Segundo a consultoria Markitt, no setor industrial, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) atingiu o menor nível em sete meses.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) apurou que o movimento das lojas na cidade, em janeiro, comparado a 2016, caiu 3,8%, nas compras a prazo, e 6,2% nas compras à vista. Para a entidade, o primeiro trimestre será de retração. Para Aloísio Campelo, superintendente de estatísticas públicas do Ibre-FGV não é possível afirmar que a economia já saiu da recessão.
Preocupado, o presidente da Ford para a América do Sul, Rogelio Golfarb, declarou: “É preciso olhar os números friamente e tirar um pouco das ilusões provocadas pela bolha do fim do ano”.
Concluindo, as notícias da semana nos permitem afirmar que nem de longe a situação política estabilizou-se e a economia continua no fundo do poço. O ano promete ser muito rico em acontecimentos.
Quem viver verá.

[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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