Nelson Rosas Ribeiro[i]
A situação da economia do país continua na
mais completa indefinição. Os leitores
já sabem que as nossas análises de conjuntura têm por base uma teoria: a teoria
dos ciclos econômicos. Segundo esta teoria todas as economias capitalistas se
desenvolvem em períodos de crescimento e crises que se alternam, repetindo o
movimento em quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. O que muda são
as características que cada uma dessas fases apresenta. São essas diferenças
que exigem estudos mais detalhados.
A nossa economia entrou na fase de crise na
segunda metade de 2014 e esta crise acentuou-se nos anos de 2015 e 2016, quando
o Produto Interno Bruto (PIB), indicador do movimento cíclico, teve queda de
3,8% e 3,6% respectivamente.
Esta crise prolongada é uma particularidade
do atual ciclo no Brasil. Outra particularidade é que o movimento está defasado
em relação ao ciclo mundial.
No início de 2017, a desaceleração da
economia começou a reduzir-se o que mostrou que havíamos chegado ao fundo do
poço, ou seja, à depressão. É claro que a retomada do crescimento vai ser
iniciada. O problema é descobrir quando.
As estatísticas mostram que esta retomada
vem encontrando grandes dificuldades diante da política de austeridade
praticada pelo governo Temer. Alguns indicadores para o mês de maio, chamados
de antecedentes, dão sinais de recuperação. Em relação ao mês de abril, as
vendas de papelão ondulado cresceram 2,4% e as de veículos 2,2%. A produção de
veículos aumentou 9%, o fluxo de veículos pesados 2,7% e as consultas ao SPC,
0,6%. A confiança da indústria cresceu 1,2% e a dos consumidores 2,4%.
Todos apontam como causas destas melhoras,
a queda da inflação, a liberação das contas inativas do FGTS e o corte dos
juros. Outra ajuda tem vindo do comércio exterior e do setor agropecuário, com
as safras recordes.
No entanto, há outros indicadores que estão
apontando na direção contrária. A pior notícia vem da queda da arrecadação
tributária. Em maio, a arrecadação foi a pior em sete anos. Foram arrecadados
R$96 bilhões, 0,96% abaixo de maio do ano passado. O chefe do Centro de Estudos
Tributários e Aduaneiros da Receita Federal atribui isso ao quadro recessivo da
economia, à fraca atividade da indústria e do comércio e ao baixo consumo
causado pelo endividamento das famílias e pelo elevado desemprego.
O ministro da Fazenda, Meirelles, já
começou a reduzir suas previsões para o crescimento da economia, dos 2,7%, para
2,2%, no quarto trimestre, em comparação ao mesmo período de 2016. Para o PIB
do ano, as previsões do Banco Central (BC) já caíram para 0,5% de crescimento.
O BC estima ainda que o crescimento do consumo das famílias será zero e os
investimentos cairão 0,6%.
Sobre este panorama econômico espalha-se a
tempestade política. O presidente Temer, retornado de uma viagem ao exterior,
quando chamou a Rússia de União Soviética e colocou o rei da Suécia no trono da
Noruega, chegou com a mala vazia. Depois de um puxão de orelhas na Noruega por
causa do desmatamento da Amazônia, viu cortada pela metade a contribuição desse
país para o Fundo Amazônia. Dos R$400 milhões previstos para este ano o país só
liberará R$200 milhões.
Na chegada, as boas vindas não foram muito
agradáveis. Temer foi presenteado com a denúncia do procurador geral da
República, Rodrigo Janot, com a acusação de corrupção passiva e o pedido de
abertura de inquérito ao STF. Além dessa, o procurador geral prepara dois novos
pedidos com as acusações de obstrução da justiça e formação de organização
criminosa.
Para completar o STF validou a delação dos
irmãos Batista da JBS e manteve o ministro Edson Fachin como relator da
Lava-Jato. Na UTI e tentando manter-se a qualquer custo, a recuperação da
economia tornou-se a única taboa de salvação para o governo Temer, sem
legitimidade, impopular e agora legalmente acusado de corrupção, obstrução da
justiça e formação de quadrilha.
O esquema de PowerPoint exibido pelo
procurador Dallagnol precisa de uma atualização substituindo alguns nomes e
principalmente o nome que se encontra no centro pelo do Temer, coisa que os irmãos
Batista já o fizeram.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).