Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor. A conjuntura econômica continua sem
novidades. A sensação de “déjà-vu” é constante, pois as estatísticas estão
repetindo quase que o comportamento dos períodos anteriores. Para nós que
acompanhamos a economia diariamente, nada está fora daquilo que era esperado.
Se o país já funcionava em câmera lenta, desde 17 de maio quando eclodiu o
escândalo das delações da JBS, o cenário de lentidão piorou. Encontrou-se um
novo bode expiatório para justificar o arrastamento da crise. Espera-se apenas,
como argumentado em nossa última análise, um alento vindo do exterior.
O governo que já foi obrigado a recuar da sua
projeção de crescimento para este ano, de 1,6%, para 0,5%, é acompanhado por
outras instituições em suas revisões. O Bradesco e o Itaú Unibanco preveem
expansão de apenas de 0,30% em 2017. Para o Bradesco, a taxa ficou estável,
quando comparada à previsão anterior e para o Itaú Unibanco, caiu 0,7%. As
instituições declararam que “o enfraquecimento da atividade apontada pelos
indicadores correntes...” e a incerteza das reformas piorou a expectativa dos
resultados para o ano. O mercado, através do apurado pelo Boletim Focus do
Banco Central, também reduziu as previsões para o PIB deste ano, de 0,50% para
0,41%.
Ainda se vive o rescaldo da divulgação do
crescimento de 1% do PIB do primeiro trimestre. Não há o que comemorar. O
investimento cai há 12 trimestres seguidos. A formação bruta de capital fixo
recuou 1,6%, comparada ao trimestre anterior, e, quando comparada ao mesmo
período do ano passado, o recuo foi de 3,7%. A taxa de investimento em relação
ao PIB caiu para 15,6%, ficando atrás da China que tem 44%, da Índia, com
31,4%, da Rússia, 25,6% e da África do Sul, 19,5%. Certamente, a taxa de
investimento brasileira não se recuperará tão cedo. A falta de planejamento
para novos investimentos e a alta capacidade ociosa da indústria contribuirão
para mais um ano de queda dos investimentos.
O comércio varejista cresceu 1% em abril, após dois
meses seguidos de queda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O volume de vendas do comércio varejista ampliado (Varejo
somado às atividades de veículos, motos, partes e peças e material de
construção), avançou 1,5% de março para abril deste ano.
Mesmo com este indicador, que reflete uma trajetória
menos ruim para a atividade econômica, os dados de maio do Indicador
Antecedente Composto da Economia (Iace) e do Indicador Coincidente Composto da
Economia (ICCE) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas
(Ibre-FGV). O Iace de maio, que apura as expectativas, recuou 0,3% frente a
abril, e o ICCE, que afere a situação atual, subiu apenas 0,4%.
E para finalizar, a “mais nova surpresa” é, pasmem,
a queda maior que a prevista, da arrecadação deste ano. A sutil recuperação das
receitas está tornando cada vez mais incerto o cumprimento da meta de déficit
primário de R$ 139 bilhões, em 2017. O rombo nas contas públicas será muito
maior. A crise contribui efetivamente para a queda da arrecadação e como não
saímos dela, não é surpresa que esta queda se acentue. E o teto dos gastos será
cumprido não pela limitação, e consequente corte dos gastos, mas pela
frustração de receitas. Além disso, analistas reforçam que este orçamento é
altamente dependente de receitas extraordinárias. Mas, como temos um bode
expiatório para tudo, o do momento também explica este “novo” problema, pois a
crise política causou impacto negativo na confiança de consumidores e
empresários e a queda mais lenta dos juros.
Para se salvar, Temer aposta na mesma saída de todos
os seus antecessores. Aumentar a gastança virou a ordem do dia e os “pacotes de
bondades” estão trazendo pesadelos à “equipe econômica dos sonhos”. Mesmo
aprovando um déficit fiscal de R$ 139 bilhões, em 2017, o dobro do deixado por
Dilma, o governo envereda no caminho contrário à austeridade pregado por ele
mesmo. Já refinanciou dívidas em condições mais que ótimas, convalidou
incentivos fiscais e está em busca de mais outras bondades, que permitam afagar
seu ego e recuperar sua popularidade. Preparemo-nos porque a conta vai chegar e
novos escândalos também. Não necessariamente nesta mesma ordem.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário