quarta-feira, 28 de junho de 2017

Governo na UTI e economia estagnada


Semana de 19 a 25 de junho de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
A situação da economia do país continua na mais completa indefinição. Os  leitores já sabem que as nossas análises de conjuntura têm por base uma teoria: a teoria dos ciclos econômicos. Segundo esta teoria todas as economias capitalistas se desenvolvem em períodos de crescimento e crises que se alternam, repetindo o movimento em quatro fases: crise, depressão, reanimação e auge. O que muda são as características que cada uma dessas fases apresenta. São essas diferenças que exigem estudos mais detalhados.
A nossa economia entrou na fase de crise na segunda metade de 2014 e esta crise acentuou-se nos anos de 2015 e 2016, quando o Produto Interno Bruto (PIB), indicador do movimento cíclico, teve queda de 3,8% e 3,6% respectivamente.
Esta crise prolongada é uma particularidade do atual ciclo no Brasil. Outra particularidade é que o movimento está defasado em relação ao ciclo mundial.
No início de 2017, a desaceleração da economia começou a reduzir-se o que mostrou que havíamos chegado ao fundo do poço, ou seja, à depressão. É claro que a retomada do crescimento vai ser iniciada. O problema é descobrir quando.
As estatísticas mostram que esta retomada vem encontrando grandes dificuldades diante da política de austeridade praticada pelo governo Temer. Alguns indicadores para o mês de maio, chamados de antecedentes, dão sinais de recuperação. Em relação ao mês de abril, as vendas de papelão ondulado cresceram 2,4% e as de veículos 2,2%. A produção de veículos aumentou 9%, o fluxo de veículos pesados 2,7% e as consultas ao SPC, 0,6%. A confiança da indústria cresceu 1,2% e a dos consumidores 2,4%.
Todos apontam como causas destas melhoras, a queda da inflação, a liberação das contas inativas do FGTS e o corte dos juros. Outra ajuda tem vindo do comércio exterior e do setor agropecuário, com as safras recordes.
No entanto, há outros indicadores que estão apontando na direção contrária. A pior notícia vem da queda da arrecadação tributária. Em maio, a arrecadação foi a pior em sete anos. Foram arrecadados R$96 bilhões, 0,96% abaixo de maio do ano passado. O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal atribui isso ao quadro recessivo da economia, à fraca atividade da indústria e do comércio e ao baixo consumo causado pelo endividamento das famílias e pelo elevado desemprego.
O ministro da Fazenda, Meirelles, já começou a reduzir suas previsões para o crescimento da economia, dos 2,7%, para 2,2%, no quarto trimestre, em comparação ao mesmo período de 2016. Para o PIB do ano, as previsões do Banco Central (BC) já caíram para 0,5% de crescimento. O BC estima ainda que o crescimento do consumo das famílias será zero e os investimentos cairão 0,6%.
Sobre este panorama econômico espalha-se a tempestade política. O presidente Temer, retornado de uma viagem ao exterior, quando chamou a Rússia de União Soviética e colocou o rei da Suécia no trono da Noruega, chegou com a mala vazia. Depois de um puxão de orelhas na Noruega por causa do desmatamento da Amazônia, viu cortada pela metade a contribuição desse país para o Fundo Amazônia. Dos R$400 milhões previstos para este ano o país só liberará R$200 milhões.
Na chegada, as boas vindas não foram muito agradáveis. Temer foi presenteado com a denúncia do procurador geral da República, Rodrigo Janot, com a acusação de corrupção passiva e o pedido de abertura de inquérito ao STF. Além dessa, o procurador geral prepara dois novos pedidos com as acusações de obstrução da justiça e formação de organização criminosa.
Para completar o STF validou a delação dos irmãos Batista da JBS e manteve o ministro Edson Fachin como relator da Lava-Jato. Na UTI e tentando manter-se a qualquer custo, a recuperação da economia tornou-se a única taboa de salvação para o governo Temer, sem legitimidade, impopular e agora legalmente acusado de corrupção, obstrução da justiça e formação de quadrilha.
O esquema de PowerPoint exibido pelo procurador Dallagnol precisa de uma atualização substituindo alguns nomes e principalmente o nome que se encontra no centro pelo do Temer, coisa que os irmãos Batista já o fizeram.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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