Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Os resultados apresentados pela conjuntura econômica
têm gerado grande euforia no mercado, entre membros do governo e economistas. O
Banco Central reviu a projeção para o crescimento interno deste ano de 0,5%
para 0,7%. No Relatório Trimestral de Inflação, destaque para as “surpresas
positivas”, como a recuperação do consumo e a redução do nível de desemprego.
Segundo o Ministério do Trabalho, o país registrou, em agosto, o quinto mês
seguido de criação de empregos. Foram 35.457 postos de trabalho com carteira
assinada, com 23.299 no setor de serviços, 10.721 no comércio e 12.873 na
indústria da transformação. A geração de empregos no acumulado do ano foi de
163.417 vagas. Mas, nos 12 meses encerrados em agosto, a perda ainda supera a
geração no total de 544.658 vagas.
A depender dos desembolsos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a recuperação econômica não se
concretizará. Em agosto, o banco liberou R$ 4,7 bilhões em recursos, queda de
29,7% na comparação com julho. Os pedidos da indústria caíram 45% e os da
infraestrutura, 41%. O banco atribuiu o cenário à recessão econômica, mas a
redefinição dos objetivos do banco com a substituição da TJLP pela TLP,
certamente contribuiu para a queda.
A equipe econômica continua confiante e, embora
tenha demonstrado entusiasmo com os últimos resultados, preferiu não arriscar e
informou que vai manter a previsão de crescimento para este ano em 0,5%. O
chefe maior da equipe econômica, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
resolveu pedir uma ajudinha aos céus e, de olho na candidatura à presidência em
2018, lançou um vídeo que circula no WhatsApp e que foi enviado aos pastores da
Assembleia de Deus em Madureira, no Rio de Janeiro. Em tom performático,
Meirelles declara: “Nunca houve uma recessão como essa. Nossa meta é fazer com
que esse País volte a ter emprego. Por isso, preciso contar com a colaboração
de vocês. Me sinto à vontade falando com vocês, porque temos os mesmos valores,
a lei de Deus e dos homens. Preciso da oração de todos.” E finaliza: “Outubro,
mês da oração pela economia.”
E o ministro não está só. A recuperação se resumiu a
uma questão de fé. O coordenador de estatísticas do Ministério do Trabalho,
Mario Magalhães, ao comentar os últimos resultados do mercado de força de
trabalho, afirmou que a melhora do emprego continuará em setembro e outubro,
mas que não pode afirmar o mesmo para os últimos meses do ano. E apelou: “Quem
tiver uma vela pode acender, quem tiver uma Ave Maria pode rezar. Não dá para
dizer que não vai ser negativo. Em nenhum momento poderemos dizer isso”.
Já o presidente Michel Temer embora pareça
necessitar de oração, ainda não a solicitou. Denunciado mais uma vez ao Supremo
Tribunal Federal, agora pelos crimes de organização criminosa e obstrução de
Justiça, Temer fez discurso chocho na Assembleia da ONU (Organização das Nações
Unidas) e não quis comentar os resultados da pesquisa de sua avaliação pessoal
e do seu governo divulgados pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) em
parceria com a MDA Pesquisa. Comparada a fevereiro, data da pesquisa anterior,
a aprovação do governo caiu de 10,3% para 3,4%, a desaprovação cresceu de 44,1%
para 75,6% e a avaliação pessoal do presidente caiu de 24,4% para 10,1%.
Para as eleições de 2018, o fantasma de Lula
continua a assombrar o Planalto. Segundo a pesquisa CNT/MDA, o petista lidera
em todos os cenários e simulações de primeiro e segundo turno, acompanhado em
segundo lugar pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No cenário principal, em
primeiro turno, Lula venceria com 32% das intenções de voto e Bolsonaro ficaria
com 19,4%. Na sequência teríamos Marina com 11,4%, Alckmin com 8,7% e Ciro
Gomes com 4,6%. No segundo turno, Lula venceria com 40,5% ante 28,5% de
Bolsonaro.
Enquanto o cenário político domina as manchetes
jornalísticas, novas estatísticas sobre o aumento da desigualdade de renda
chamam a atenção. Segundo o World Wealth and Income Database (WID.world), a
renda total da população brasileira cresceu 7,2% entre 2007 e 2015 mas, 60,5%
desse aumento foi recebido pelos 10% mais ricos. Os 50% mais pobres auferiram
apenas 19,1% desse crescimento. Ou seja, enquanto a renda aumentava no período,
os pobres ficaram menos pobres, enquanto os ricos tornaram-se mais ricos.
Pelo jeito não há oração que barre a distribuição
desigual da riqueza econômica.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br