quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Além do fundo do poço


Semana de 11 a 17 de setembro de 2017

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
As tendências de evolução da economia, que temos apontado nas últimas análises, continuam se mantendo. Tudo indica que ultrapassamos o fundo do poço e foi iniciada uma recuperação lenta e penosa. Se a “equipe dos pesadelos” comandada pelo banqueiro Henrique Meirelles não atrapalhar com sua política econômica de austeridade o processo, embora contraditório, deve manter-se.
Os dados confirmam nossas observações. Em nove meses as montadoras criaram quatro mil vagas. A fábrica da General Motors (GM), em Gravataí (RS), pretende criar mais 700 empregos e a MAN (RJ), 300. Com os novos empregos a GM iniciará o 3º turno, passando a operar 24 horas. Na indústria automobilista como um todo, os trabalhadores em layoff e no Programa Seguro Desemprego foram reduzidos à metade, caindo de 12,2 mil, para 6,3 mil, entre julho e agosto.
O Sindipeças, sindicado dos Produtores de Autopeças, está revendo suas estimativas de crescimento neste ano, de 10% para 20%. A ociosidade, que era de 50%, caiu para 34% no início do semestre.
O Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC), na ata da reunião em que reduziu a taxa Selic para 8,25%, assinalou que “já são perceptíveis os primeiros sinais dessa recuperação”. O IBC-Br, Índice antecedente do BC, que é uma estimativa do PIB, apontou, em julho, um crescimento de 0,41%. O BC corrigiu a estimativa de junho, de 0,50% para 0,55%. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV reconheceu que “O PIB está vindo com velocidade um pouco mais forte do que estávamos esperando”. A FGV estima, para 2017, um crescimento do PIB de 0,7%.
Estes dados positivos têm como base o estímulo da agroindústria graças à safra recorde de grãos. As exportações subiram 18,5%, em agosto, em relação a agosto de 2016 e as importações caíram 4% aumentando o saldo da balança comercial.
Outro indicador antecedente, as vendas de papelão, subiram 8,05%, em agosto, em relação ao mesmo mês de 2016 e 7,66% em relação a julho deste ano. Os números não são muito significativos, pois, ao ser feito o ajuste sazonal, os 7,66% caem para 0,61%, e mesmo este número pode significar recomposição de estoques, de acordo com Jairo Lorezatto, diretor da Rigesa, um dos maiores produtores do setor.
Outro dado desalentador é o recuo dos serviços. O volume caiu 0,8%, em julho sobre junho, e 3,2% em relação ao mesmo mês de 2016. E isto graças ao consumo das famílias, pois em relação às empresas os serviços de informação caíram -0,8%, os profissionais e administrativos -2% e os de transportes -0,9%.
Mais um dado negativo é fornecido pela FGV. O indicador de intenção de investimento da indústria elaborado pela entidade caiu 2,8 pontos, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Cerca de 63% das empresas preveem a estabilidade dos investimentos. Ainda no campo negativo, o número de famílias endividadas em São Paulo cresceu 2,8% chegando a 53,4% do total, segundo a Federal do Comércio de Bens e Serviços do Estado de São Paulo (Fecomercio SP).
Estes dados mostram a delicadeza e debilidade da recuperação. Apesar disso são suficientes para o presidente Temer, tentando driblar as denúncias de corrupção que o atingem, trombetear pelos quatro cantos o sucesso de sua administração. E descaradamente acrescentar como obra do seu governo a queda dos juros (ação do BC) e da inflação e até a super safra agrícola (resultado das condições climáticas favoráveis), bem como os saldos da balança comercial (resultado do comércio mundial). Claro que a reversão do ciclo econômico que estamos vivendo, e é resultado das leis objetivas da economia, é atribuída às medidas tomadas pelo seu corrupto ministério. Mais corrupto que na semana passada diante da denúncia do ministro da agricultura Blairo Maggi em consequência da delação do ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa, também do PMDB.
O próprio presidente Temer foi atingido por uma nova denúncia durante a semana e certamente pegará na caneta e no cofre para conseguir o seu engavetamento pela Câmara.
É isso que nos espera além do fundo do poço.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog