Nelson Rosas Ribeiro[i]
As tendências de evolução da economia, que
temos apontado nas últimas análises, continuam se mantendo. Tudo indica que
ultrapassamos o fundo do poço e foi iniciada uma recuperação lenta e penosa. Se
a “equipe dos pesadelos” comandada pelo banqueiro Henrique Meirelles não
atrapalhar com sua política econômica de austeridade o processo, embora
contraditório, deve manter-se.
Os dados confirmam nossas observações. Em
nove meses as montadoras criaram quatro mil vagas. A fábrica da General Motors
(GM), em Gravataí (RS), pretende criar mais 700 empregos e a MAN (RJ), 300. Com
os novos empregos a GM iniciará o 3º turno, passando a operar 24 horas. Na
indústria automobilista como um todo, os trabalhadores em layoff e no Programa
Seguro Desemprego foram reduzidos à metade, caindo de 12,2 mil, para 6,3 mil,
entre julho e agosto.
O Sindipeças, sindicado dos Produtores de
Autopeças, está revendo suas estimativas de crescimento neste ano, de 10% para
20%. A ociosidade, que era de 50%, caiu para 34% no início do semestre.
O Conselho de Política Monetária (Copom),
órgão do Banco Central (BC), na ata da reunião em que reduziu a taxa Selic para
8,25%, assinalou que “já são perceptíveis os primeiros sinais dessa
recuperação”. O IBC-Br, Índice antecedente do BC, que é uma estimativa do PIB,
apontou, em julho, um crescimento de 0,41%. O BC corrigiu a estimativa de
junho, de 0,50% para 0,55%. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do
Ibre-FGV reconheceu que “O PIB está vindo com velocidade um pouco mais forte do
que estávamos esperando”. A FGV estima, para 2017, um crescimento do PIB de
0,7%.
Estes dados positivos têm como base o
estímulo da agroindústria graças à safra recorde de grãos. As exportações
subiram 18,5%, em agosto, em relação a agosto de 2016 e as importações caíram
4% aumentando o saldo da balança comercial.
Outro indicador antecedente, as vendas de
papelão, subiram 8,05%, em agosto, em relação ao mesmo mês de 2016 e 7,66% em
relação a julho deste ano. Os números não são muito significativos, pois, ao
ser feito o ajuste sazonal, os 7,66% caem para 0,61%, e mesmo este número pode
significar recomposição de estoques, de acordo com Jairo Lorezatto, diretor da
Rigesa, um dos maiores produtores do setor.
Outro dado desalentador é o recuo dos
serviços. O volume caiu 0,8%, em julho sobre junho, e 3,2% em relação ao mesmo
mês de 2016. E isto graças ao consumo das famílias, pois em relação às empresas
os serviços de informação caíram -0,8%, os profissionais e administrativos -2%
e os de transportes -0,9%.
Mais um dado negativo é fornecido pela FGV.
O indicador de intenção de investimento da indústria elaborado pela entidade
caiu 2,8 pontos, no terceiro trimestre, em relação ao segundo. Cerca de 63% das
empresas preveem a estabilidade dos investimentos. Ainda no campo negativo, o
número de famílias endividadas em São Paulo cresceu 2,8% chegando a 53,4% do
total, segundo a Federal do Comércio de Bens e Serviços do Estado de São Paulo
(Fecomercio SP).
Estes dados mostram a delicadeza e
debilidade da recuperação. Apesar disso são suficientes para o presidente
Temer, tentando driblar as denúncias de corrupção que o atingem, trombetear
pelos quatro cantos o sucesso de sua administração. E descaradamente
acrescentar como obra do seu governo a queda dos juros (ação do BC) e da
inflação e até a super safra agrícola (resultado das condições climáticas
favoráveis), bem como os saldos da balança comercial (resultado do comércio
mundial). Claro que a reversão do ciclo econômico que estamos vivendo, e é
resultado das leis objetivas da economia, é atribuída às medidas tomadas pelo
seu corrupto ministério. Mais corrupto que na semana passada diante da denúncia
do ministro da agricultura Blairo Maggi em consequência da delação do
ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa, também do PMDB.
O próprio presidente Temer foi atingido por
uma nova denúncia durante a semana e certamente pegará na caneta e no cofre
para conseguir o seu engavetamento pela Câmara.
É isso que nos espera além do fundo do
poço.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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