Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Caro leitor, na última sexta-feira, 1º de setembro,
o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgou o resultado
do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre. O indicador cresceu 0,2%
no segundo trimestre do ano, quando comparado ao primeiro trimestre deste ano,
e 0,3% quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Em nota à imprensa, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejou o resultado, já que havia declarado
que esperava uma queda trimestral.
Mas, há alguns pontos relacionados ao resultado do
PIB do segundo trimestre que devemos considerar.
Primeiro, após dois anos consecutivos de queda, este
é o segundo resultado positivo do PIB, pois no primeiro trimestre, o indicador
cresceu 1% em virtude da safra recorde na agricultura. A coordenadora do estudo
foi muito mais comedida do que a equipe econômica ao comentar os resultados.
Segundo Rebeca Palis, do IBGE, ainda não é possível afirmar que a economia brasileira
está em recuperação. Afinal, o crescimento é sempre bem vindo, mas um
crescimento de 1% no primeiro trimestre que se reduz para 0,2% no segundo
trimestre significa decrescer!
Segundo, mais importante que o número fechado, é a
desagregação deste. Por setores, o resultado se apresentou assim: a
agropecuária cresceu 0%, a indústria teve queda de 0,5% e os serviços cresceram
0,6%. O efeito da safra recorde na agricultura foi dissipado. Restaurado o
“padrão normal”, a indústria continua apresentando quedas e pressionando o
resultado para baixo. Tal constatação é reforçada pela Formação Bruta de
Capital Fixo que caiu 6,5%, pela 13ª vez consecutiva e a taxa de investimento
que continua baixa, em 15,5% do PIB.
Terceiro, com este resultado, o PIB fecha o primeiro
semestre do ano nulo se comparado ao mesmo semestre do ano anterior e, no
acumulado nos quatro últimos trimestres do ano, comparados aos quatro
trimestres imediatamente anteriores, o PIB foi negativo em 1,4%.
E, por último, segundo o IBGE, se não fosse o
crescimento do consumo das famílias de 0% para 1,4% entre os trimestres, não
haveria crescimento. Justamente o indicador condenado pela atual equipe
econômica ao bombardear a gestão de Dilma Roussef por apostar no crescimento
pelo consumo.
Segundo Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central,
só restou o mea culpa. Disse ele, que, ao contrário do previsto, a retomada da
atividade não está ocorrendo pelo investimento e sim pelo consumo. De parte do
ministro Henrique Meirelles, nenhuma modéstia. Em sua nota à imprensa, após
sair o resultado do PIB, ele reforçou: “As medidas que adotamos para recolocar
o Brasil no caminho do crescimento sustentável começam a mostrar seus efeitos.
(...)” E se apressou em prometer: “Esta retomada da atividade irá se fortalecer
nos próximos meses. Entraremos em 2018 num ritmo forte e constante.
Continuaremos a trabalhar para garantir que essa expansão seja longa e
duradoura, gerando emprego e renda para os brasileiros”.
O ministro contraria o próprio órgão oficial de
pesquisa e fala em retomada da atividade. Infelizmente para a equipe econômica,
os primeiros números divulgados para o terceiro trimestre não são promissores.
E 2018 com ritmo forte e constante parece cada vez mais distante. Embora o
desemprego tenha caído entre junho e julho, de 13% para 12,8%, segundo a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), foi por meio do avanço das
ocupações precárias. De 1,4 milhão de vagas criadas, 819 mil representaram
empregos sem carteira assinada e trabalho por conta própria. Outro fato que
pode reverter a alta do consumo reside na queda da confiança do comércio e
também do consumidor, em agosto, apuradas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Além disso, segundo levantamento encomendado pelo Jornal Valor Econômico, o
fôlego através do consumo pode ser abortado, pois em 15,2 milhões de domicílios
no Brasil, ninguém trabalha, ou seja, em um a cada cinco lares, não há
residentes ocupados.
Mais uma vez, nada a comemorar...
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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