Nelson Rosas Ribeiro[i]
Foi jogado um balde de água fria nos
arautos da recuperação. Em agosto, em relação a julho, a produção industrial
diminuiu 0,8%, superando as piores estimativas dos analistas. E logo se ouviu o
coro dos torcedores a minimizar o acontecimento. O setor de alimentos teve o
pior desempenho com queda de 5,5% e o setor de máquinas e equipamentos caiu
3,8%. Isso ocorreu apesar da utilização da capacidade instalada subir 0,3% e
atingir 77,8%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda
segundo esta entidade as horas trabalhadas aumentaram 0,2% mas o faturamento
real caiu 1%. A CNI foi obrigada a reconhecer que a tendência de recuperação
“perdeu um pouco de sua força”.
Esta realidade parece não ter abalado a
confiança dos empresários. As sondagens de confiança realizadas pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV) apontam para um resultado favorável, entre julho e agosto.
Os índices subiram: na indústria de transformação, de 91 para 92 pontos; nos
serviços, de 83,6 para 83,9 pontos; na construção civil, de 74,9 para 76
pontos. Só no comércio a confiança caiu de 87,9 para 76 pontos.
Quem continua dando alento à situação é a
indústria automobilística. Segundo a Fenabrave, entidade que representa os
fabricantes de veículos, o licenciamento de carros, comerciais leves, caminhões
e ônibus, em setembro, atingiu 199 mil unidades com um avanço de 24,5% em
relação ao mesmo mês do ano passado.
A tão falada recuperação do emprego fez
cair a taxa de desemprego de 13,7%, em março, para 12,6%, em outubro e ainda
existem 13,1 milhões de desempregados no país. No entanto, 70% das novas vagas
criadas foram no mercado informal.
Enquanto a “recuperação” se arrasta uma
missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) veio fazer um diagnóstico da
implementação do Novo Regime Fiscal a convite do governo Temer. O seu relatório
acabou de ser divulgado com recomendações: fazer a reforma da previdência,
reduzir as despesas obrigatórias, rever as indexações das despesas e reduzir a
rigidez do orçamento, aumentar o investimento público, remover a indexação dos
gastos, reduzir as despesas dos ministérios, etc. Tudo de acordo com o
receituário da austeridade coisa que o FMI não recomenda para os países
desenvolvidos.
Na contra mão das recomendações, o governo
vem aumentando as despesas, as contratações e a liberação de verbas para a
compra dos votos dos deputados na tentativa de salvar o seu mandato. O governo
está paralisado e toda a ação volta-se para a defesa do presidente e a rejeição
da denúncia do Ministério Público. Para não desagradar sua base de apoio, Temer
engavetou o pacote de medidas que anunciou há dois meses. Dessas medidas quatro
eram para o aumento das receitas e cinco para a redução de despesas. Entre elas
estavam a elevação de impostos, a reoneração da folha de pagamentos das
empresas e o aumento da alíquota previdenciária dos servidores.
Por outro lado, o parlamento desfigurou a
Medida Provisória do Refis, perdoando ou reduzindo os juros e multas cobradas
aos devedores de impostos e tentando perdoar totalmente as dívidas das igrejas
e instituições de ensino vocacional, o que obriga o Ministério do Planejamento
a rever os cálculos da receita do orçamento.
Bloqueado por todos os lados e preocupado
com as contas do governo o ministro Meirelles voltou-se contra o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além dos R$33 bilhões que o
banco já devolveu ao Tesouro e dos R$17 que ele devolverá até o fim do ano,
Meirelles passou a exigir mais R$130 bilhões no ano de 2018.
O impasse está criado, pois o presidente do
banco, Rabello de Castro, recusa-se a pagar argumentando que o caixa do banco
não comporta. Há fundo de terceiros no caixa que o banco não pode
disponibilizar. Apesar do apelo patriótico do Meirelles de que é “necessário
considerar a situação do país como um todo”, o argumento não parece comover
Rebello de Castro.
O desafio está lançado. Quem vencerá a
queda de braço?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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