quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Soluços da recuperação


Semana de 02 a 08 de outubro de 2017
Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
Foi jogado um balde de água fria nos arautos da recuperação. Em agosto, em relação a julho, a produção industrial diminuiu 0,8%, superando as piores estimativas dos analistas. E logo se ouviu o coro dos torcedores a minimizar o acontecimento. O setor de alimentos teve o pior desempenho com queda de 5,5% e o setor de máquinas e equipamentos caiu 3,8%. Isso ocorreu apesar da utilização da capacidade instalada subir 0,3% e atingir 77,8%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda segundo esta entidade as horas trabalhadas aumentaram 0,2% mas o faturamento real caiu 1%. A CNI foi obrigada a reconhecer que a tendência de recuperação “perdeu um pouco de sua força”.
Esta realidade parece não ter abalado a confiança dos empresários. As sondagens de confiança realizadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam para um resultado favorável, entre julho e agosto. Os índices subiram: na indústria de transformação, de 91 para 92 pontos; nos serviços, de 83,6 para 83,9 pontos; na construção civil, de 74,9 para 76 pontos. Só no comércio a confiança caiu de 87,9 para 76 pontos.
Quem continua dando alento à situação é a indústria automobilística. Segundo a Fenabrave, entidade que representa os fabricantes de veículos, o licenciamento de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, em setembro, atingiu 199 mil unidades com um avanço de 24,5% em relação ao mesmo mês do ano passado.
A tão falada recuperação do emprego fez cair a taxa de desemprego de 13,7%, em março, para 12,6%, em outubro e ainda existem 13,1 milhões de desempregados no país. No entanto, 70% das novas vagas criadas foram no mercado informal.
Enquanto a “recuperação” se arrasta uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) veio fazer um diagnóstico da implementação do Novo Regime Fiscal a convite do governo Temer. O seu relatório acabou de ser divulgado com recomendações: fazer a reforma da previdência, reduzir as despesas obrigatórias, rever as indexações das despesas e reduzir a rigidez do orçamento, aumentar o investimento público, remover a indexação dos gastos, reduzir as despesas dos ministérios, etc. Tudo de acordo com o receituário da austeridade coisa que o FMI não recomenda para os países desenvolvidos.
Na contra mão das recomendações, o governo vem aumentando as despesas, as contratações e a liberação de verbas para a compra dos votos dos deputados na tentativa de salvar o seu mandato. O governo está paralisado e toda a ação volta-se para a defesa do presidente e a rejeição da denúncia do Ministério Público. Para não desagradar sua base de apoio, Temer engavetou o pacote de medidas que anunciou há dois meses. Dessas medidas quatro eram para o aumento das receitas e cinco para a redução de despesas. Entre elas estavam a elevação de impostos, a reoneração da folha de pagamentos das empresas e o aumento da alíquota previdenciária dos servidores.
Por outro lado, o parlamento desfigurou a Medida Provisória do Refis, perdoando ou reduzindo os juros e multas cobradas aos devedores de impostos e tentando perdoar totalmente as dívidas das igrejas e instituições de ensino vocacional, o que obriga o Ministério do Planejamento a rever os cálculos da receita do orçamento.
Bloqueado por todos os lados e preocupado com as contas do governo o ministro Meirelles voltou-se contra o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além dos R$33 bilhões que o banco já devolveu ao Tesouro e dos R$17 que ele devolverá até o fim do ano, Meirelles passou a exigir mais R$130 bilhões no ano de 2018.
O impasse está criado, pois o presidente do banco, Rabello de Castro, recusa-se a pagar argumentando que o caixa do banco não comporta. Há fundo de terceiros no caixa que o banco não pode disponibilizar. Apesar do apelo patriótico do Meirelles de que é “necessário considerar a situação do país como um todo”, o argumento não parece comover Rebello de Castro.
O desafio está lançado. Quem vencerá a queda de braço?


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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