quinta-feira, 29 de março de 2018

A economia não é uma ciência



Semana de 19 a 25 de março de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
A política continua a dominar o cenário. Os escândalos de corrupção agora rondam o PSDB, diante da possibilidade de delação do Paulo Preto, acossado pela Lava Jato. Intervenção e violência no Rio de Janeiro prosseguem sem nenhuma esperança de solução. Candidatos a presidente surgem a cada dia. O próprio sinistro da Fazenda, Henrique Meirelles, lançou-se definitivamente peitando o seu chefe Temer que também quer disputar a reeleição. A tragédia Lula prossegue envolvendo o Supremo Tribunal Federal (STF) que se afoga nos debates internos traduzidos em poesias e sambinhas, fazendo jus a afirmação de que somos o país do carnaval.
Ai que vida boa ô lê lê... Só falta passar o estandarte do Sanatório Geral.
Enquanto isso, a situação econômica arrasta-se. O economista e ex-ministro Delfim Netto, também acusado de corrupção, já enrolou a bandeira. Descrente, declarou: “A economia não e uma ciência.” “É mais próxima de uma religião com várias igrejas...”. E despediu-se, encerrando a coluna que escreve há 18 anos e aos 90 anos de vida.
Mas o Meirelles prossegue, liderando sua “equipe dos pesadelos”, em direção à recuperação da economia. O governo necessita desesperadamente dessa recuperação para ajudar a segurar o MDB no planalto onde ele só conseguiu chegar com a manobrinha do impeachment (golpe).
Ora, segundo nossa teoria (que consideramos científica) foi a crise que derrubou a Dilma, e não o contrário. Agora é a reanimação que poderá dar uma chance de salvação para o Temer. O Lula habilmente soube surfar no auge do ciclo e por isso pôde agradar a gregos e troianos enchendo os cofres dos capitalistas (especialmente dos banqueiros) e aumentando um pouco a ração dos trabalhadores.
Sabemos que a economia entrou na fase de reanimação. Já temos apontado isso nas nossas Análises. No entanto, a igreja na qual rezam os economistas do governo e que formam a “equipe dos pesadelos” professa uma religião cujos mandamentos formam uma bíblia com receitas de austeridade.
É este receituário que eles tentam executar a qualquer custo. As medidas recomendadas resumem-se ao que se chama política de austeridade com equilíbrio fiscal, controle das despesas, redução dos investimentos e dos salários, corte generalizado nos gastos, aumento das receitas. Para felicidade deles, a crise, com a falência das empresas, o aumento do desemprego, a queda no consumo, produziu a desaceleração da inflação, o que tem permitido ao Banco Central (BC) reduzir os juros (taxa Selic) para 6,5%. Esta e a única ajuda que a equipe econômica tem dado (involuntariamente) à recuperação. É por estas razões que a tão desejada recuperação se arrasta e corre o risco de ser abortada.
Os dados não são muito animadores. Em janeiro, em relação a dezembro, a produção industrial diminuiu 2,4%, os serviços caíram 1,9% e o varejo ampliado 0,1%. Apenas o varejo restrito cresceu 0,9%. Para desânimo geral, o IBC-Br, indicador calculado pelo BC e que serve como previsão do PIB, mostrou uma desaceleração de 0,5%, em janeiro. O Copom, órgão do BC, na ata de sua reunião de fevereiro, falava de uma “recuperação consistente”. O IBC-Br desmentiu essa afirmação. Embora a área econômica continue mantendo a previsão de crescimento de 3% para este ano, os economistas, em sua grande maioria, revisam suas estimativas para 2,5%. Em relação ao emprego, 34,3 milhões de pessoas trabalham por conta própria ou sem carteira e apenas 33,3 milhões ocupam vagas formais. A alteração da legislação trabalhista não aumentou o número de empregados e não há esperança que venha a fazê-lo. As consultas de empréstimos ao BNDES recuaram 30% em fevereiro em relação a janeiro, o menor nível de consultas desde 1995, e os desembolsos recuaram 22%, o pior resultado desde 2000. Com este cenário e com a “equipe dos pesadelos” conspirando e lutando contra a recuperação, um pequeno acidente na economia mundial poderá reverter a tendência.
O governo que se cuide!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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quarta-feira, 21 de março de 2018

Crescimento para baixo, de novo



Semana de 12 a 18 de março de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

O assassinato da vereadora do PSOL do Rio de Janeiro, Marielle Franco, ganhou, esta semana, praticamente todo o espaço da mídia, não só pela brutalidade do ocorrido, mas também pela onda de insensatez provocada pela divulgação de fake news acerca da vida da parlamentar assassinada. As notícias de cunho econômico foram colocadas em segundo plano.
            Pesquisando os dados, no entanto, verificamos que nada mudou. A produção industrial não voltou a crescer, a capacidade ociosa e o desemprego permanecem altos e as poucas estatísticas só reforçam o marasmo econômico.
            A debilidade da economia já suscita especulações acerca de uma nova queda da taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A Selic está em 6,75% ao ano e deverá cair 0,25%. Mesmo com taxa de juros em queda, segundo levantamento de Claudia Safatle, articulista do Jornal Valor Econômico, com base em dados do Banco Central, as taxas ao tomador final de crédito continuam exorbitantes. Entre setembro de 2016 e março deste ano, o juro do cheque especial da pessoa jurídica caiu de 337,6% para 330,19% e o da pessoa física, de 324,9% ao ano para 324,7%. Os juros do cartão de crédito caíram de 491,25% para 327,92% para pessoas físicas e de 355,39% para 234,6% para as pessoas jurídicas. Proporcionalmente à queda da Selic, a queda das demais taxas é, de fato, muito tímida. Curiosamente, apenas quatro bancos dominam o mercado de crédito no país. Com inflação e Selic em queda, a concentração bancária passa a ser a única explicação para os altos juros cobrados aos brasileiros, mas esta discussão não é posta à mesa. Daí não virá estímulos ao consumo e investimento.
            Por outro lado, o desmonte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) feito propositadamente pelo governo continua, e pode ser comprovado através da perda de peso da instituição nos financiamentos do país. Em 2014, segundo a Fipe, os desembolsos do BNDES respondiam por 15,2% dos investimentos, passando para 11% em 2015, 6% em 2016 e 5,3% em 2017.
            Enquanto isso, na Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), o presidente Michel Temer, realizou um balanço de 22 meses de governo comparando-se ao seu próprio governo, enquanto era vice-presidente “decorativo”. “Modestamente”, Temer projetou que o seu governo poderá ser “o melhor governo que o Brasil conheceu nestes últimos anos”. Falando como candidato, exaltou a queda da inflação e dos juros e disse que a intervenção federal no Rio de Janeiro será concluída até setembro, quando, a partir daí, aprovará a Reforma da Previdência.
            Mas os fatos como sempre submergem todo discurso “positivo”. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) usado como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que vinha crescendo por quatro meses seguidos, recuou 0,56% em janeiro, segundo o Banco Central. É mais um balde de água fria nos arautos da recuperação. O ministro Meirelles já tinha feito um esforço incrível para justificar o resultado do PIB de 2017 e terá que explicar, de novo, porque nossa economia continua a crescer para baixo. Então, para tornar este decréscimo de janeiro, digerível, o governo desprezou este recuo calculado com base no mês anterior e passou a olhar a comparação com janeiro do ano passado, já que o PIB sobre esta base cresceu 2,97%.
A evolução dos dados por setores mostram um cenário preocupante. E aqui vamos olhar para a comparação mensal, que fornece uma ideia clara da evolução da atividade econômica. A produção industrial caiu 2,4% e os serviços recuaram 1,9%. Só o comércio apresentou alta. As vendas no varejo cresceram 0,9% e foram lideradas, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, pelo setor de hiper e supermercados. Já no varejo ampliado que engloba os setores de automóveis e material de construção, as vendas caíram 0,1%.
Preparam-se novos discursos para justificar o crescimento para baixo.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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quarta-feira, 14 de março de 2018

Soluções para a recuperação


Semana de 05 a 13 de março de 2018

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           
O governo Temer continua no sufoco com sua baixíssima aprovação indicada nas sondagens dos institutos de pesquisa. Não há alterações significativas nas percentagens apuradas apesar dos gastos em propaganda. Derrotado na reforma da Previdência, com mais dois processos em andamento e com resultados econômicos pouco convincentes, Temer agora empunha a bandeira da segurança. As forças armadas correm o risco de assumirem funções policiais para as quais não foram treinadas. Com o país entrando em um ano eleitoral, a situação torna-se ainda mais complexa e já se formam entidades e movimentos de pressão contra o que é chamado de intervenção militar.
Por outro lado, continuam a estourar novos processos e novas fases da operação Lava Jato e mais prisões estão a caminho. O caso Lula continua pendente e certamente teremos novidades em breve, o que pode lançar alguma clareza no quadro eleitoral.
Em relação à economia, os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não são muito animadores. A Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgada dia seis passado, mostrou que em janeiro, em relação a dezembro, houve uma queda de 2,4% na produção industrial. Este número foi afetado pela redução de 7,6% da produção de veículos automotores. O pior é que as perdas atingiram 19 das 24 atividades industriais. O dado para dezembro, em relação a novembro, mostrava um crescimento de 3,1%, o que justificou todo o foguetório do governo. A queda agora representa uma ducha fria nos arautos da recuperação. Agrupadas em grandes categorias, as quedas foram: bens de capital, -0,3; bens intermediários, -2,4; bens de consumo, -1,6%; bens duráveis, -7,1%. Apenas os bens semiduráveis e não duráveis tiveram crescimento de 0,5%.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera que isto é consequência “de um movimento ainda frágil de recuperação”. O IBGE, apesar dos dados, afirma que “o setor continua em sua trajetória de recuperação das perdas de 2014, 2015 e 2016”.
Recuperação rabo de cavalo, é claro. Cresce para baixo.
O que continua a preocupar é que a capacidade ociosa do potencial instalado permanece muito elevada. Na indústria automobilística, na produção de automóveis, apenas 61% da capacidade produtiva é utilizada. No setor de caminhões, o problema é mais grave, pois a utilização não ultrapassa os 30%. A existência de capacidade ociosa também se estende ao setor de autopeças. Segundo o presidente do Sindipeças, o setor trabalha com uma ociosidade de 30%. É bom lembrar que isto ocorre apesar do crescimento das exportações. Em 2017, por exemplo, elas ajudaram a elevar a produção física de 12 dos 21 setores. Para um crescimento de 2,2% da produção industrial o quantum embarcado cresceu de 1,9%. Na produção de automóveis, que cresceu 17,2%, o volume embarcado foi responsável por 28,2%.
Preocupado com a lentidão da recuperação e com o baixo nível da inflação, em parte provocado pela fraca demandada e pela existência de grande capacidade ociosa na indústria, o Banco Central (BC), na próxima reunião do COPOM, começa a admitir a possibilidade de mais uma redução da taxa Selic, atualmente em 6,75%.
Para completar a semana, assistiu-se ainda a discussão entre Meirelles (falando como candidato) e a Petrobras, por conta do preço da gasolina. Quem terminou pagando a conta foram os impostos muito elevados e os donos dos postos que não repassam as baixas quando ocorrem.
A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) resolveu dar sua contribuição ao crescimento do país e apresentou um interessante documento “Mapa estratégico da Indústria” com 60 metas para resolver o problema do crescimento e o Banco Mundial (BM) também compareceu com outro documento “Emprego e crescimento: A Agenda da Produtividade”. Enquanto a CNI esforça-se para apresentar suas metas, o BM resolve o problema culpando o elevado salário mínimo existente. Tudo se resume em reduzir o salário mínimo principalmente para os jovens.
Viva o Banco Mundial!!!


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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segunda-feira, 12 de março de 2018

Fundamentos das Ideias Econômicas


Unidade 1
Questionário para primeira unidade do curso de Fundamentos das Ideias Econômicas, ministrado pela Professora Rosângela.
 
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quarta-feira, 7 de março de 2018

E o troféu cara de pau vai para... Henrique Meirelles!



Semana de 26 de fevereiro a 04 de março de 2018

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Em maio de 2016, Michel Temer tomava posse na presidência do país e, com ele, emergiu a figura de uma equipe econômica dos sonhos, alcunhada assim pela imprensa e presidida por Henrique Meirelles, nomeado ministro da Fazenda. A “equipe econômica dos pesadelos” (título considerado o mais adequado e adotado pelos redatores desta coluna), após infinidade de promessas realizadas, teve que assumir, em novembro de 2016, que o crescimento econômico só viria em 2017. Meirelles então passou o ano se esforçando em vão para aprovar a Reforma da Previdência e tentando convencer os brasileiros de que o crescimento econômico depende diretamente da austeridade. Por fim, apelou aos céus, pedindo que a população orasse pela recuperação econômica e, no momento em que houve discreta melhoria dos indicadores econômicos, pré candidatou-se à presidência da República.
Pois bem, esta semana, finalmente, o resultado do PIB de 2017 foi divulgado. A economia brasileira cresceu 1%, no ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por setores, a agropecuária contribuiu com expansão de 13%, a indústria apresentou crescimento nulo e os serviços cresceram 0,3%. O setor agrícola teve participação de 70% no crescimento de 2017 e, se não fosse a bondade de São Pedro (que não depende da vontade de Meirelles), a alta seria de apenas 0,3%. O economista Marcio Pochmann chama a atenção para o vazamento de renda do PIB para o exterior. As importações aumentaram 5% e as exportações cresceram 5,2%. O saldo positivo acabou escondendo o crescimento acelerado das importações. Também ficamos aquém do crescimento dos emergentes. O PIB da China cresceu 6,9%, o da Turquia, 6,8% e o da Rússia, 1,5%. Portanto, há pouco o que comemorar.
No quarto trimestre, o crescimento foi bem modesto e a desaceleração da economia, ao longo do ano, pode ser constatada pelos resultados trimestrais já revisados pelo IBGE: 1º trimestre: 1,3%, 2º trimestre: 0,7%, 3º trimestre e 4º trimestres: 0,1%. O resultado do quarto trimestre foi especialmente amargo para o ministro da Fazenda, que havia prometido crescimento modesto para o ano, mas robusto para o final do ano. Em vários discursos, Meirelles apontou que a economia cresceria no final do ano, a um ritmo próximo de 3%. Mas, na comparação com o terceiro trimestre, o resultado foi apenas 0,1%. Em termos anualizados, cresceu 0,5% e comparado a igual período de 2016, a alta foi de 2,1%. Confrontado, em entrevista coletiva, o ministro não se fez de rogado e usando sua cara de pau e conversa mole, minimizou o erro nas projeções e, no intuito de sinalizar otimismo, disse que o PIB crescerá 3%, em 2018. Mais uma vez, o número contraria as previsões dos analistas. Segundo estes, a herança estatística deixada por 2017, permitirá crescimento de apenas 0,3%, caso a economia não avance além dos resultados do ano passado.
            Dados internos mais recentes mostram que 2018 não começou bem. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego no trimestre concluído em janeiro, foi de 12,2%. Não houve neste período geração de novas vagas com carteira assinada e o número ficou um pouco acima dos 11,8% apresentados no trimestre terminado em dezembro. Na indústria, o uso da capacidade instalada subiu de 74,7%, em janeiro, para 75,6%, em fevereiro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que o índice ainda não superou os valores de 2015. Além disso, o Índice de Situação Atual e o Índice de Estoques pioraram no período.
            A desaceleração da economia internacional aos poucos é registrada. Os Estados Unidos revisaram a projeção de crescimento do PIB do quarto trimestre de 2017 para 2,5%, após terem crescido 3,2% no terceiro trimestre. E a China apresentou crescimento próximo de zero em fevereiro de 2018. É o que indica o levantamento do índice de gerente de compras do setor industrial da Agência Nacional de Estatísticas da China.
Então, a onda de otimismo que o ministro Meirelles quer levantar corre o sério risco de se transformar numa marolinha.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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