Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Em maio de 2016, Michel Temer tomava posse na
presidência do país e, com ele, emergiu a figura de uma equipe econômica dos
sonhos, alcunhada assim pela imprensa e presidida por Henrique Meirelles,
nomeado ministro da Fazenda. A “equipe econômica dos pesadelos” (título
considerado o mais adequado e adotado pelos redatores desta coluna), após
infinidade de promessas realizadas, teve que assumir, em novembro de 2016, que
o crescimento econômico só viria em 2017. Meirelles então passou o ano se
esforçando em vão para aprovar a Reforma da Previdência e tentando convencer os
brasileiros de que o crescimento econômico depende diretamente da austeridade.
Por fim, apelou aos céus, pedindo que a população orasse pela recuperação
econômica e, no momento em que houve discreta melhoria dos indicadores
econômicos, pré candidatou-se à presidência da República.
Pois bem, esta semana, finalmente, o resultado do
PIB de 2017 foi divulgado. A economia brasileira cresceu 1%, no ano passado,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por setores,
a agropecuária contribuiu com expansão de 13%, a indústria apresentou
crescimento nulo e os serviços cresceram 0,3%. O setor agrícola teve
participação de 70% no crescimento de 2017 e, se não fosse a bondade de São
Pedro (que não depende da vontade de Meirelles), a alta seria de apenas 0,3%. O
economista Marcio Pochmann chama a atenção para o vazamento de renda do PIB
para o exterior. As importações aumentaram 5% e as exportações cresceram 5,2%.
O saldo positivo acabou escondendo o crescimento acelerado das importações.
Também ficamos aquém do crescimento dos emergentes. O PIB da China cresceu
6,9%, o da Turquia, 6,8% e o da Rússia, 1,5%. Portanto, há pouco o que
comemorar.
No quarto trimestre, o crescimento foi bem modesto e
a desaceleração da economia, ao longo do ano, pode ser constatada pelos
resultados trimestrais já revisados pelo IBGE: 1º trimestre: 1,3%, 2º
trimestre: 0,7%, 3º trimestre e 4º trimestres: 0,1%. O resultado do quarto
trimestre foi especialmente amargo para o ministro da Fazenda, que havia
prometido crescimento modesto para o ano, mas robusto para o final do ano. Em
vários discursos, Meirelles apontou que a economia cresceria no final do ano, a
um ritmo próximo de 3%. Mas, na comparação com o terceiro trimestre, o
resultado foi apenas 0,1%. Em termos anualizados, cresceu 0,5% e comparado a
igual período de 2016, a alta foi de 2,1%. Confrontado, em entrevista coletiva,
o ministro não se fez de rogado e usando sua cara de pau e conversa mole,
minimizou o erro nas projeções e, no intuito de sinalizar otimismo, disse que o
PIB crescerá 3%, em 2018. Mais uma vez, o número contraria as previsões dos
analistas. Segundo estes, a herança estatística deixada por 2017, permitirá
crescimento de apenas 0,3%, caso a economia não avance além dos resultados do
ano passado.
Dados
internos mais recentes mostram que 2018 não começou bem. Segundo o IBGE, a taxa
de desemprego no trimestre concluído em janeiro, foi de 12,2%. Não houve neste
período geração de novas vagas com carteira assinada e o número ficou um pouco
acima dos 11,8% apresentados no trimestre terminado em dezembro. Na indústria,
o uso da capacidade instalada subiu de 74,7%, em janeiro, para 75,6%, em
fevereiro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas os pesquisadores chamam
a atenção para o fato de que o índice ainda não superou os valores de 2015.
Além disso, o Índice de Situação Atual e o Índice de Estoques pioraram no
período.
A
desaceleração da economia internacional aos poucos é registrada. Os Estados
Unidos revisaram a projeção de crescimento do PIB do quarto trimestre de 2017
para 2,5%, após terem crescido 3,2% no terceiro trimestre. E a China apresentou
crescimento próximo de zero em fevereiro de 2018. É o que indica o levantamento
do índice de gerente de compras do setor industrial da Agência Nacional de
Estatísticas da China.
Então, a onda de otimismo que o ministro Meirelles
quer levantar corre o sério risco de se transformar numa marolinha.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário