Nelson Rosas Ribeiro[i]
A política continua a dominar o cenário. Os
escândalos de corrupção agora rondam o PSDB, diante da possibilidade de delação
do Paulo Preto, acossado pela Lava Jato. Intervenção e violência no Rio de
Janeiro prosseguem sem nenhuma esperança de solução. Candidatos a presidente
surgem a cada dia. O próprio sinistro da Fazenda, Henrique Meirelles, lançou-se
definitivamente peitando o seu chefe Temer que também quer disputar a
reeleição. A tragédia Lula prossegue envolvendo o Supremo Tribunal Federal
(STF) que se afoga nos debates internos traduzidos em poesias e sambinhas,
fazendo jus a afirmação de que somos o país do carnaval.
Ai que vida boa ô lê lê... Só falta passar
o estandarte do Sanatório Geral.
Enquanto isso, a situação econômica
arrasta-se. O economista e ex-ministro Delfim Netto, também acusado de
corrupção, já enrolou a bandeira. Descrente, declarou: “A economia não e uma
ciência.” “É mais próxima de uma religião com várias igrejas...”. E despediu-se,
encerrando a coluna que escreve há 18 anos e aos 90 anos de vida.
Mas o Meirelles prossegue, liderando sua
“equipe dos pesadelos”, em direção à recuperação da economia. O governo
necessita desesperadamente dessa recuperação para ajudar a segurar o MDB no
planalto onde ele só conseguiu chegar com a manobrinha do impeachment (golpe).
Ora, segundo nossa teoria (que consideramos
científica) foi a crise que derrubou a Dilma, e não o contrário. Agora é a
reanimação que poderá dar uma chance de salvação para o Temer. O Lula
habilmente soube surfar no auge do ciclo e por isso pôde agradar a gregos e
troianos enchendo os cofres dos capitalistas (especialmente dos banqueiros) e
aumentando um pouco a ração dos trabalhadores.
Sabemos que a economia entrou na fase de
reanimação. Já temos apontado isso nas nossas Análises. No entanto, a igreja na
qual rezam os economistas do governo e que formam a “equipe dos pesadelos”
professa uma religião cujos mandamentos formam uma bíblia com receitas de
austeridade.
É este receituário que eles tentam executar
a qualquer custo. As medidas recomendadas resumem-se ao que se chama política
de austeridade com equilíbrio fiscal, controle das despesas, redução dos
investimentos e dos salários, corte generalizado nos gastos, aumento das
receitas. Para felicidade deles, a crise, com a falência das empresas, o
aumento do desemprego, a queda no consumo, produziu a desaceleração da
inflação, o que tem permitido ao Banco Central (BC) reduzir os juros (taxa
Selic) para 6,5%. Esta e a única ajuda que a equipe econômica tem dado
(involuntariamente) à recuperação. É por estas razões que a tão desejada
recuperação se arrasta e corre o risco de ser abortada.
Os dados não são muito animadores. Em
janeiro, em relação a dezembro, a produção industrial diminuiu 2,4%, os
serviços caíram 1,9% e o varejo ampliado 0,1%. Apenas o varejo restrito cresceu
0,9%. Para desânimo geral, o IBC-Br, indicador calculado pelo BC e que serve
como previsão do PIB, mostrou uma desaceleração de 0,5%, em janeiro. O Copom,
órgão do BC, na ata de sua reunião de fevereiro, falava de uma “recuperação
consistente”. O IBC-Br desmentiu essa afirmação. Embora a área econômica
continue mantendo a previsão de crescimento de 3% para este ano, os
economistas, em sua grande maioria, revisam suas estimativas para 2,5%. Em
relação ao emprego, 34,3 milhões de pessoas trabalham por conta própria ou sem
carteira e apenas 33,3 milhões ocupam vagas formais. A alteração da legislação
trabalhista não aumentou o número de empregados e não há esperança que venha a
fazê-lo. As consultas de empréstimos ao BNDES recuaram 30% em fevereiro em
relação a janeiro, o menor nível de consultas desde 1995, e os desembolsos
recuaram 22%, o pior resultado desde 2000. Com este cenário e com a “equipe dos
pesadelos” conspirando e lutando contra a recuperação, um pequeno acidente na
economia mundial poderá reverter a tendência.
O governo que se cuide!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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