Rosângela Palhano Ramalho
[i]
O assassinato da vereadora do PSOL do Rio de
Janeiro, Marielle Franco, ganhou, esta semana, praticamente todo o espaço da
mídia, não só pela brutalidade do ocorrido, mas também pela onda de insensatez
provocada pela divulgação de fake news acerca da vida da parlamentar
assassinada. As notícias de cunho econômico foram colocadas em segundo plano.
Pesquisando
os dados, no entanto, verificamos que nada mudou. A produção industrial não
voltou a crescer, a capacidade ociosa e o desemprego permanecem altos e as
poucas estatísticas só reforçam o marasmo econômico.
A
debilidade da economia já suscita especulações acerca de uma nova queda da taxa
de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A Selic
está em 6,75% ao ano e deverá cair 0,25%. Mesmo com taxa de juros em queda,
segundo levantamento de Claudia Safatle, articulista do Jornal Valor Econômico,
com base em dados do Banco Central, as taxas ao tomador final de crédito
continuam exorbitantes. Entre setembro de 2016 e março deste ano, o juro do
cheque especial da pessoa jurídica caiu de 337,6% para 330,19% e o da pessoa
física, de 324,9% ao ano para 324,7%. Os juros do cartão de crédito caíram de
491,25% para 327,92% para pessoas físicas e de 355,39% para 234,6% para as
pessoas jurídicas. Proporcionalmente à queda da Selic, a queda das demais taxas
é, de fato, muito tímida. Curiosamente, apenas quatro bancos dominam o mercado
de crédito no país. Com inflação e Selic em queda, a concentração bancária
passa a ser a única explicação para os altos juros cobrados aos brasileiros,
mas esta discussão não é posta à mesa. Daí não virá estímulos ao consumo e
investimento.
Por
outro lado, o desmonte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) feito propositadamente pelo governo continua, e pode ser comprovado
através da perda de peso da instituição nos financiamentos do país. Em 2014,
segundo a Fipe, os desembolsos do BNDES respondiam por 15,2% dos investimentos,
passando para 11% em 2015, 6% em 2016 e 5,3% em 2017.
Enquanto
isso, na Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp),
o presidente Michel Temer, realizou um balanço de 22 meses de governo comparando-se
ao seu próprio governo, enquanto era vice-presidente “decorativo”.
“Modestamente”, Temer projetou que o seu governo poderá ser “o melhor governo
que o Brasil conheceu nestes últimos anos”. Falando como candidato, exaltou a
queda da inflação e dos juros e disse que a intervenção federal no Rio de
Janeiro será concluída até setembro, quando, a partir daí, aprovará a Reforma
da Previdência.
Mas
os fatos como sempre submergem todo discurso “positivo”. O Índice de Atividade
Econômica do Banco Central (IBC-Br) usado como prévia do Produto Interno Bruto
(PIB), que vinha crescendo por quatro meses seguidos, recuou 0,56% em janeiro,
segundo o Banco Central. É mais um balde de água fria nos arautos da
recuperação. O ministro Meirelles já tinha feito um esforço incrível para
justificar o resultado do PIB de 2017 e terá que explicar, de novo, porque
nossa economia continua a crescer para baixo. Então, para tornar este
decréscimo de janeiro, digerível, o governo desprezou este recuo calculado com
base no mês anterior e passou a olhar a comparação com janeiro do ano passado,
já que o PIB sobre esta base cresceu 2,97%.
A evolução dos dados por setores mostram um cenário
preocupante. E aqui vamos olhar para a comparação mensal, que fornece uma ideia
clara da evolução da atividade econômica. A produção industrial caiu 2,4% e os
serviços recuaram 1,9%. Só o comércio apresentou alta. As vendas no varejo
cresceram 0,9% e foram lideradas, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do
IBGE, pelo setor de hiper e supermercados. Já no varejo ampliado que engloba os
setores de automóveis e material de construção, as vendas caíram 0,1%.
Preparam-se novos discursos para justificar o
crescimento para baixo.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
0 comentários:
Postar um comentário