Semana de 18 a 24 de março de 2019
Nelson Rosas Ribeiro[i]
De tédio não morreremos. A semana que
passou foi extremamente rica em acontecimentos para rir e para chorar, para ter
vergonha e orgulho. Temos um presidente que “tem colhões”, “gosta de Coca-Cola
e da Disneylândia”, se acreditarmos nas palavras do ilustre ministro da
economia, Paulo Guedes. Vivaaa!
Que venham os investidores americanos e os
turistas (sem visto). Aqui há empresas a preços de liquidação e nossas belezas
naturais são capazes de satisfazer os gostos e exigências mais sofisticados. E
há espaço para japoneses, canadenses e australianos, todos igualmente sem
vistos. Welcome! Podemos oferecer ainda abertura unilateral da economia,
simplificação tributária, privatizações, bases para lançamento de foguetes (ou
apoiar a invasão da Venezuela), e um brinde de 750 mil toneladas de trigo a
serem importadas com tarifa zero. Eis o saldo da visita do presidente aos EUA.
Claro que a Argentina não gostou do
presente do trigo e já enviou um protesto junto com ameaças de retaliação.
A escala do avião presidencial no Brasil
foi curta e a decolagem em direção ao Chile foi imediata, para mais uma rápida
missão patriótica: enterrar a UNASUL (“de esquerda”). Em seu lugar, mas mudando
de sinal, surgiu a PROSUL (“de direita”).
O presidente voou tanto que não teve tempo
de se inteirar da queda de seu prestígio junto ao eleitorado tupiniquim. Uma
pesquisa do Ibope, feita nos dias 16 e 19 de março, apontou a queda do
prestígio do governo. Sobre a gestão, em comparação com janeiro, a pesquisa
mostrou que os que consideravam boa ou ótima caíram de 49% para 34%. Os que consideravam
ruim ou péssima subiram de 11% para 24% e os que consideravam regular passaram
de 26% para 34%. A forma de governar, aprovada por 67%, em janeiro, passou para
51% e a desaprovação subiu de 21% para 39%. Os que confiavam no presidente, que
eram 62%, agora são 49%.
Do Chile a comitiva voltou de mãos abanando
brandindo apenas o PROSUL.
Enquanto as autoridades passeavam o pau
quebrava aqui dentro entre ministros e Congresso. Acirraram-se os debates sobre
a reforma da Previdência com a chegada da proposta para os militares. Azedaram
as relações entre o ministro Moro e o presidente da Câmara Rodrigo Maia. Moro
queria empurrar o seu projeto sobre segurança junto com o bolo da Previdência.
Maia desqualificou-o como funcionário do governo sem autoridade para discutir
com ele, presidente. Com o conhecimento da proposta para os militares e os
privilégios que lhes são concedidos a situação se complicou.
No Ministério da Educação o caos é ainda
maior com nomeações e demissões sucessivas para cargos de chefia ao sabor das
influências dos vários grupos em choque.
Há mais conflitos deflagrados entre o
Senado e o STF com a proposta de uma CPI contra os ministros (CPI da toga) e
conflitos entre Rodrigo Maia e o presidente Bolsonaro por conta da campanha de
hostilidades deflagrada pelos bolsominions liderados pelos filhos do capitão.
A agitação da semana culminou com as
prisões do Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco com as consequentes
queda da bolsa e subida do dólar.
É difícil imaginar como se vai restaurar a
confiança e melhorar as expectativas dos agentes econômicos em tamanha desordem
e baderna.
Claro que em tal ambiente não haverá
investimentos e o próprio governo colabora para isto com sua política suicida
de austeridade e destruição dos bancos públicos. A economia continua dando
sinais de desaceleração e o último deles foi medido pelo Índice de Atividade
Econômica do Banco Central (IBC-Br) que, entre dezembro e janeiro mostrou uma
retração 0,41%. O BC reagiu a isso mantendo a taxa de referência Selic em 6,5%
em sua última reunião.
Por outro lado, os indicadores
internacionais também mostram a tendência para a desaceleração da economia
mundial. Os maiores bancos centrais do mundo encerraram suas políticas de
elevação dos juros e começam a retomar os estímulos monetários (BCE, Fed. BoE,
Banco do Japão, etc.).
Eis o preço que estamos pagando pela
eleição de um presidente Coca-Cola.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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