Semana de 11 a 17 de março de 2019
Rosângela Palhano Ramalho
[i]
Nos últimos dois anos, o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) foi de 1,1%. Os resultados não foram suficientes para
superar a queda acumulada de 6,8% de 2015 e 2016. É inegável que a recuperação
da economia vem acontecendo de forma lenta, porém os analistas não esperavam
que os derradeiros resultados anuais fossem tão frustrantes. No ano passado,
por exemplo, a previsão de crescimento para o PIB era de 3,5% e, embora os
“culpados” tenham sido elencados, o pífio resultado de 2018 lançou um sinal de
alerta para 2019. E o resultado do quarto trimestre, mostrou que a
desaceleração vem se propagando. A acanhada alta de 0,1% nos últimos meses do
ano passado, lançou um balde de água fria nas projeções de crescimento para
este ano.
Entretanto, a desaceleração já era esperada, pois
não há indícios de que a debilidade do mercado de força de trabalho,
robustecida pelo alto desemprego e alto índice de informalidade, além da
ociosidade do setor produtivo igualmente alta, serão superadas de imediato.
E o primeiro número oficial da atividade econômica
de 2019 reforça esta conclusão. Em janeiro, segundo o IBGE, a produção
industrial recuou 0,8% perante dezembro. Pelo terceiro mês consecutivo o setor
de bens de capital apresentou queda. Recuou 3% sobre dezembro, após queda de
3,5% e 4,1% em outubro e novembro.
Por estas razões, e não porque a Reforma da
Previdência demorará a ser aprovada, um grupo cada vez maior de analistas
projeta uma expansão de apenas 2% para o PIB deste ano. Resumo aqui as
principais revisões de projeção feitas: a A.C. Pastore & Associados reduziu
a projeção de crescimento de 2,4% para 2% com viés de baixa; o Banco MUFG
Brasil, de 2,5% para 2%; o Bank of America (BofA) Merrill Lynch, de 3% para
2,4%; o Banco Fibra (mais pessimista), de 2,5% para 1,7%; o Santander, de 3%
para 2,3%; o Banco Safra de 2,3% para 2% e o Itaú Unibanco revisou de 2,5% para
2%. O Boletim Focus do Banco Central (BC), registrou queda das projeções pela
segunda vez consecutiva, de 2,3% para 2,28%.
Mas, ainda há aqueles grupos que depositam na fé, a
esperança de uma recuperação mais robusta. É o caso do economista-chefe da
gestora Legacy Capital, Pedro Jobim, que, apesar de reduzir a estimativa de
expansão do PIB deste ano de 3,1% para 2,5%, segue “torcendo”, otimista.
Segundo ele, “...o quarto trimestre foi ruim, o primeiro trimestre não está com
uma cara tão boa e o mercado de trabalho está um pouco pior do que se
imaginava. Mas nós acreditamos que a economia vai engatar com a melhora da
confiança, que vai permitir mais consumo e um novo ciclo de endividamento de
empresas e famílias.”
A ciência nos chama de volta à realidade. E a
economia mundial entrou, definitivamente, nos rumos de uma nova crise. O
Federal Reserve (Banco Central dos EUA), na figura de seu presidente, Jerome
Powell, comunicou que não mudará sua política de juros no momento. Os preços
americanos continuam baixos e o crescimento global mais lento, requer, segundo
a instituição, devido cuidado. A economia da China vem desacelerando rapidamente.
A produção industrial cresceu 5,3% em janeiro-fevereiro, em relação ao mesmo
período do ano passado, padrão considerado baixo para o gigante e segundo pior
resultado para os meses de janeiro e fevereiro desde 2009. A maior economia da
Europa, segundo o instituto alemão Ifo, vai desacelerar para 0,6% este ano.
Antes, a previsão de crescimento do PIB da Alemanha era de 1,1%, e o indicador
foi revisado em virtude da queda de 0,8% na produção industrial em janeiro
comparado a dezembro.
Enquanto isso, o governo brasileiro continua a gerir
crises criadas de dentro para fora, atacando o carnaval, os ministros do
Supremo, jornalistas e atendendo pedidos de um tal guru que dita os rumos das
nomeações no Ministério da Educação e o paralisa.
O tal “mito” continua alheio aos urgentes problemas
do país e à chegada de uma crise internacional que insiste em bater à porta.
[i] Professora
do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização
e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br)
Contato: rospalhano@yahoo.com.br
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