quarta-feira, 20 de março de 2019

A crise econômica internacional está cada vez mais próxima


Semana de 11 a 17 de março de 2019

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Nos últimos dois anos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,1%. Os resultados não foram suficientes para superar a queda acumulada de 6,8% de 2015 e 2016. É inegável que a recuperação da economia vem acontecendo de forma lenta, porém os analistas não esperavam que os derradeiros resultados anuais fossem tão frustrantes. No ano passado, por exemplo, a previsão de crescimento para o PIB era de 3,5% e, embora os “culpados” tenham sido elencados, o pífio resultado de 2018 lançou um sinal de alerta para 2019. E o resultado do quarto trimestre, mostrou que a desaceleração vem se propagando. A acanhada alta de 0,1% nos últimos meses do ano passado, lançou um balde de água fria nas projeções de crescimento para este ano.
Entretanto, a desaceleração já era esperada, pois não há indícios de que a debilidade do mercado de força de trabalho, robustecida pelo alto desemprego e alto índice de informalidade, além da ociosidade do setor produtivo igualmente alta, serão superadas de imediato.
E o primeiro número oficial da atividade econômica de 2019 reforça esta conclusão. Em janeiro, segundo o IBGE, a produção industrial recuou 0,8% perante dezembro. Pelo terceiro mês consecutivo o setor de bens de capital apresentou queda. Recuou 3% sobre dezembro, após queda de 3,5% e 4,1% em outubro e novembro.
Por estas razões, e não porque a Reforma da Previdência demorará a ser aprovada, um grupo cada vez maior de analistas projeta uma expansão de apenas 2% para o PIB deste ano. Resumo aqui as principais revisões de projeção feitas: a A.C. Pastore & Associados reduziu a projeção de crescimento de 2,4% para 2% com viés de baixa; o Banco MUFG Brasil, de 2,5% para 2%; o Bank of America (BofA) Merrill Lynch, de 3% para 2,4%; o Banco Fibra (mais pessimista), de 2,5% para 1,7%; o Santander, de 3% para 2,3%; o Banco Safra de 2,3% para 2% e o Itaú Unibanco revisou de 2,5% para 2%. O Boletim Focus do Banco Central (BC), registrou queda das projeções pela segunda vez consecutiva, de 2,3% para 2,28%.
Mas, ainda há aqueles grupos que depositam na fé, a esperança de uma recuperação mais robusta. É o caso do economista-chefe da gestora Legacy Capital, Pedro Jobim, que, apesar de reduzir a estimativa de expansão do PIB deste ano de 3,1% para 2,5%, segue “torcendo”, otimista. Segundo ele, “...o quarto trimestre foi ruim, o primeiro trimestre não está com uma cara tão boa e o mercado de trabalho está um pouco pior do que se imaginava. Mas nós acreditamos que a economia vai engatar com a melhora da confiança, que vai permitir mais consumo e um novo ciclo de endividamento de empresas e famílias.”
A ciência nos chama de volta à realidade. E a economia mundial entrou, definitivamente, nos rumos de uma nova crise. O Federal Reserve (Banco Central dos EUA), na figura de seu presidente, Jerome Powell, comunicou que não mudará sua política de juros no momento. Os preços americanos continuam baixos e o crescimento global mais lento, requer, segundo a instituição, devido cuidado. A economia da China vem desacelerando rapidamente. A produção industrial cresceu 5,3% em janeiro-fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado, padrão considerado baixo para o gigante e segundo pior resultado para os meses de janeiro e fevereiro desde 2009. A maior economia da Europa, segundo o instituto alemão Ifo, vai desacelerar para 0,6% este ano. Antes, a previsão de crescimento do PIB da Alemanha era de 1,1%, e o indicador foi revisado em virtude da queda de 0,8% na produção industrial em janeiro comparado a dezembro.
Enquanto isso, o governo brasileiro continua a gerir crises criadas de dentro para fora, atacando o carnaval, os ministros do Supremo, jornalistas e atendendo pedidos de um tal guru que dita os rumos das nomeações no Ministério da Educação e o paralisa.
O tal “mito” continua alheio aos urgentes problemas do país e à chegada de uma crise internacional que insiste em bater à porta.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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