Semana de 25 de fevereiro a 3 de março de 2019
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Durante o primeiro mandato da “presidenta” Dilma
Rousseff, falava-se sempre no que ficou conhecido como “Pibinho”. Este foi o
termo utilizado para se fazer referência às baixas taxas de crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Só para refrescar nossa memória, nesse
período as taxas de crescimento da produção foram de 3,97% (2011), 1,9% (2012),
3,0% (2013) e 0,5% (2014). Em seguida veio a desgraça. Nos anos de 2015 e 2016
a atividade produtiva nacional sofreu uma retração acumulada de 6,98%. Foi
apenas em 2017 que a economia do Brasil botou a testa para fora do buraco,
crescendo 1,1%.
Um ano atrás, em 23 de fevereiro de 2018, o Banco
Central do Brasil (BC) esperava que o crescimento do PIB brasileiro fosse de
2,9%, em 2018. Isto significaria colocar, além da testa, os olhos e o nariz
para fora do atoleiro. Contudo, no dia 28 de fevereiro de 2019, semana passada,
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o Brasil
ainda está com as ventas na lama. Na realidade, o PIB de 2018 só cresceu 1,1%.
Os dados já divulgados nos permitem analisar a
economia nacional através de duas óticas: quais setores mais contribuíram para
o crescimento da produção (ótica da produção) e quais foram os principais
destinos do que foi produzido (ótica da demanda).
Pela ótica da produção, os três grandes setores
ajudaram no crescimento total. A indústria interrompeu os quatro anos de queda
e cresceu 0,6%, entre 2017 e 2018. Dentro da atividade industrial, o destaque
ruim são as atividades da construção civil, que têm se mantido no campo
negativo e decresceu 2,5%, em 2018. Já os serviços, que correspondem a mais de
75% do PIB nacional, cresceram 1,3%. O destaque aqui foi para o comércio e os
transportes. A agricultura, que garantiu o “bom” desempenho de 2017 com uma
“supersafra”, quase ficou estagnada em 2018, crescendo ínfimos 0,1%.
Pela ótica da demanda, tivemos crescimento em quase
todos os componentes. O destaque vai para a formação bruta de capital fixo
(investimentos) e para as exportações: ambas cresceram 4,1%, entre 2017 e 2018.
No caso dos investimentos, a boa notícia é que isso representou uma interrupção
nas quatro quedas seguidas desde 2014. Por sua vez, o consumo das famílias
brasileiras ampliou-se em 1,9%. As importações, entretanto, cresceram 8,5%.
Isto significa que o PIB poderia ter crescido mais, caso as compras externas de
alguns tipos bens tivessem sido menores. A economia poderia ter crescido mais,
também, caso a administração pública tivesse ampliado seus gastos. O consumo do
governo ficou praticamente estável, com uma taxa de 0,02%.
Dentre os destaques que devemos dar aos dados da
economia brasileira, precisamos chamar a atenção para a trajetória deles. Além
disso, devemos associá-los a outras informações relevantes sobre o início de
2019.
Comparando o comportamento do último trimestre de
2018 com o anterior, vê-se que os setores indústria, comércio, transportes e
serviços financeiros apresentaram redução na atividade. Pela ótica de demanda,
caíram o consumo do governo, as importações e, principalmente, a formação bruta
de capital fixo. Soma-se a isso a elevação do desemprego no trimestre encerrado
em janeiro de 2019. No total, são 12,7 milhões de desempregados, quase 500 mil
a mais do que na contagem anterior. Já os desalentados (desistiram de procurar
emprego) e os subocupados (teriam disponibilidade de trabalhar mais horas)
somam 11,5 milhões de pessoas. Do total dos trabalhadores brasileiros, 23,9
milhões são os que trabalham por conta própria, dentre os quais, destacam-se os
motoristas de aplicativos...
Não sei se o prezado leitor se lembra, mas a reforma
trabalhista de Temer foi feita para a economia voltar a crescer. Isso não
aconteceu. Agora, tentam fazer o povo brasileiro acreditar que a
(contra)reforma da previdência é a solução para a estagnação econômica. Não é.
Pelo contrário. Mantendo-se a atual orientação de política (e reforma)
econômica e a ideologia de que o “mercado” é capaz de levar à superação dos
problemas do país, tenha certeza de que nos manteremos numa verdadeira e longa
era do Pibinho.
Com todas as consequências sociais que isso
representa.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
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