quarta-feira, 29 de julho de 2020

E depois do fundo do poço?

Semana de 20 a 26 de julho de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

 

           

A tendência para a estabilização da economia continua a manter-se. A pandemia parece estar controlada e, embora prematuramente, as medidas de relaxamento do isolamento social se ampliam. Corre-se o risco da chamada segunda onda o que apresenta sinais em algumas localidades que exageraram na abertura. O comércio começa a reabrir e as vendas reagem. Devemos assistir ao aumento do varejo e da produção em alguns setores. Não é possível prever o comportamento das pessoas ávidas pelo contato social reprimido por tanto tempo.

Apesar deste clima favorável as previsões para o ano continuam pessimistas. Segundo a OCDE as quedas na produção serão de: -6% para o mundo; -7,3% para os EUA; -9,1% para a Zona do Euro; -2,6% para a China e -7,4% para o Brasil. A recuperação geral só está prevista para 2021.

No entanto, firma-se a convicção de que o fundo do poço foi em abril embora os índices de confiança continuem baixos. Calculados pelo Ibre-FGV para maio-julho eles ficaram abaixo de 100 o que indica pessimismo: consumidor 75,9, empresarial 87,7, indústria 94,9, serviços 76,6. Segundo a FGV, o PIB no segundo trimestre ficou 1,4% abaixo do potencial, sendo o pior em 38 anos. O auxílio emergencial aprovado pelo Congresso, contra a vontade do governo e do Sinistro da Economia Paulo Guedes, tem melhorado a situação dos desempregados e mantido um certo nível de consumo.

Os piores dados são sobre o desemprego. A taxa chegou a 12,4% em junho e, segundo o IBGE, deve continuar subindo. Em junho, o número de desempregados foi acrescido de mais 1,7 milhão com um aumento de 16,6% comparado a maio, atingindo um total de 11,8 milhões. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Covid-19 mensal (PNAD-Covid19) a taxa de desemprego subiu de 10,7% para 12,4% e vai piorar. No entanto estes números não mostram a realidade pois não contabilizam os 17,8 milhões que, em junho, não procuraram trabalho ou por causa da pandemia ou por falta de oferta. Somando-se os que também não procuraram por outras razões o total sobe para 26,7 milhões. Se somarmos mais 11,8 milhões de desocupados o total chega a 38,5 milhões de trabalhadores subutilizados. Este é o desemprego real.

O que tem segurado a explosão social tem sido os diversos mecanismos de assistência social como o Bolsa Família e o auxílio emergencial. No setor empresarial os pequenos e micro empresários reclamam com a falta de apoio do governo. Por falta de crédito, só na primeira quinzena de junho fecharam 716,4 mil empresas. Segundo o IBGE destas empresas 66,7% foram do setor de serviços, 36,5% do comércio, 9,6% da construção e 7,2% da indústria.

Enquanto o governo continua fazendo publicidade contra o isolamento social, o uso de máscaras e pelo consumo de cloroquina, uma pesquisa da FGV e da consultoria AC Pastore mostrou que a retração econômica foi maior onde o número de mortes pelo Covid-19, por falta das medidas de combate adequadas, também foi maior. O resultado do descaso do governo resultou na apresentação de 3 denúncias contra ele na corte internacional de Haia por crimes contra a humanidade.

No campo político o governo apresentou no Congresso uma proposta de fusão do PIS/COFINS (alíquota de 9,5%), e sua substituição pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) com uma alíquota de 12%, mas com algumas compensações. Esta proposta desagradou logo o setor de serviços e da educação que se sentiram lesados com a mudança. O governo pretende enviar novas propostas completando o que considera sua reforma fiscal e promete grandes embates.

O problema da Amazônia continua a criar preocupações e desta vez foram os 3 grandes bancos Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander que apresentaram uma proposta para financiar atividade com a condição de serem sustentáveis e o governo combater o desmatamento. Longe disso o governo preocupa-se em hostilizar a China juntando-se aos EUA na OMC, com uma proposta conjunta. Passamos o fundo do poço. Agora é saber para onde vamos.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.


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