Semana de 20 a 26 de julho de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A tendência para a estabilização da
economia continua a manter-se. A pandemia parece estar controlada e, embora
prematuramente, as medidas de relaxamento do isolamento social se ampliam.
Corre-se o risco da chamada segunda onda o que apresenta sinais em algumas
localidades que exageraram na abertura. O comércio começa a reabrir e as vendas
reagem. Devemos assistir ao aumento do varejo e da produção em alguns setores.
Não é possível prever o comportamento das pessoas ávidas pelo contato social
reprimido por tanto tempo.
Apesar deste clima favorável as previsões
para o ano continuam pessimistas. Segundo a OCDE as quedas na produção serão
de: -6% para o mundo; -7,3% para os EUA; -9,1% para a Zona do Euro; -2,6% para
a China e -7,4% para o Brasil. A recuperação geral só está prevista para 2021.
No entanto, firma-se a convicção de que o
fundo do poço foi em abril embora os índices de confiança continuem baixos.
Calculados pelo Ibre-FGV para maio-julho eles ficaram abaixo de 100 o que
indica pessimismo: consumidor 75,9, empresarial 87,7, indústria 94,9, serviços
76,6. Segundo a FGV, o PIB no segundo trimestre ficou 1,4% abaixo do potencial,
sendo o pior em 38 anos. O auxílio emergencial aprovado pelo Congresso, contra
a vontade do governo e do Sinistro da Economia Paulo Guedes, tem melhorado a
situação dos desempregados e mantido um certo nível de consumo.
Os piores dados são sobre o desemprego. A
taxa chegou a 12,4% em junho e, segundo o IBGE, deve continuar subindo. Em
junho, o número de desempregados foi acrescido de mais 1,7 milhão com um
aumento de 16,6% comparado a maio, atingindo um total de 11,8 milhões. De
acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Covid-19 mensal
(PNAD-Covid19) a taxa de desemprego subiu de 10,7% para 12,4% e vai piorar. No
entanto estes números não mostram a realidade pois não contabilizam os 17,8
milhões que, em junho, não procuraram trabalho ou por causa da pandemia ou por
falta de oferta. Somando-se os que também não procuraram por outras razões o
total sobe para 26,7 milhões. Se somarmos mais 11,8 milhões de desocupados o
total chega a 38,5 milhões de trabalhadores subutilizados. Este é o desemprego
real.
O que tem segurado a explosão social tem
sido os diversos mecanismos de assistência social como o Bolsa Família e o
auxílio emergencial. No setor empresarial os pequenos e micro empresários
reclamam com a falta de apoio do governo. Por falta de crédito, só na primeira
quinzena de junho fecharam 716,4 mil empresas. Segundo o IBGE destas empresas
66,7% foram do setor de serviços, 36,5% do comércio, 9,6% da construção e 7,2%
da indústria.
Enquanto o governo continua fazendo
publicidade contra o isolamento social, o uso de máscaras e pelo consumo de
cloroquina, uma pesquisa da FGV e da consultoria AC Pastore mostrou que a
retração econômica foi maior onde o número de mortes pelo Covid-19, por falta
das medidas de combate adequadas, também foi maior. O resultado do descaso do
governo resultou na apresentação de 3 denúncias contra ele na corte
internacional de Haia por crimes contra a humanidade.
No campo político o governo apresentou no
Congresso uma proposta de fusão do PIS/COFINS (alíquota de 9,5%), e sua
substituição pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) com uma alíquota de
12%, mas com algumas compensações. Esta proposta desagradou logo o setor de
serviços e da educação que se sentiram lesados com a mudança. O governo
pretende enviar novas propostas completando o que considera sua reforma fiscal
e promete grandes embates.
O problema da Amazônia continua a criar preocupações e desta vez foram os 3 grandes bancos Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander que apresentaram uma proposta para financiar atividade com a condição de serem sustentáveis e o governo combater o desmatamento. Longe disso o governo preocupa-se em hostilizar a China juntando-se aos EUA na OMC, com uma proposta conjunta. Passamos o fundo do poço. Agora é saber para onde vamos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Matheus Quaresma e Monik
H. Pinto.
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