Semana de 01 a 07 de fevereiro de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Desde
2020 circulam diversos memes que achincalham o patamar atingido por alguns
preços aqui no Brasil: desde o gás de cozinha, passando pela carne e pelo alho,
até chegar ao dólar.
Hoje,
vamos começar falando sobre o preço da gasolina e do óleo diesel. Em outubro de
2016, com o Golpe já consumado e sob o comando de Pedro Parente, a Petrobrás
anunciou a adoção da política de preços que até hoje vigora: os preços internos
dos combustíveis vão estar submetidos ao preço internacional do petróleo. Isto
significa que o preço no Brasil depende das oscilações dos preços no mercado
mundial. Além disso, como o barril de petróleo é cotado em dólar, a taxa de
câmbio também entra na determinação dos preços básicos nas refinarias
brasileiras.
Qual a
razão para a adoção desta política? Como já alertava a Associação dos
Engenheiros da Petrobras (Aepet) à época, isto serve apenas para garantir aos
acionistas da empresa a máxima rentabilidade possível. Na prática, isto
significa que, os consumidores, nós, a esmagadora maioria dos brasileiros,
pagamos um combustível caro para que meia dúzia de proprietários de ações da
Petrobrás aumentem seus dividendos. É uma espécie de programa de transferência
de renda, um dos maiores promovidos pelo Estado brasileiro.
A este
crime de lesa-pátria se soma o desmonte da empresa realizado desde então. A
Aepet, ela novamente, mostrou que os principais pontos da política adotada são
equivocados ou desnecessários para se cumprirem os objetivos da Petrobrás como
empresa (fonte). Dentre os principais elementos
denunciados pela entidade, está o abandono da participação em projetos de
desenvolvimento de energia alternativa. Só para termos uma noção do quão isto é
importante para as empresas do setor, a petroleira francesa Total irá propor
aos seus acionistas a mudança de nome como um dos passos para a renovação da
matriz energética explorada por ela. No Brasil, a Petrobrás já se arriscou e
obteve sucesso com a exploração de petróleo em águas profundas (vide o
pré-sal). Porém, para seus diretores atuais, mesmo com todas as evidências da necessidade
de mudança na matriz energética, eles consideram que a companhia não deve se
arriscar nesta empreitada.
Este é
o segundo elemento que destaco aqui. Não é de hoje que o mundo busca
alternativas aos combustíveis fósseis para geração de energia. Até a
tradicional indústria automobilística, símbolo da “Era da produção em massa” do
século XX, se rendeu e busca se adequar àquela que em breve será a nova
realidade das economias avançadas: o petróleo será cada vez mais relegado a
segundo plano na matriz energética.
Em
2020, mesmo com a pandemia de Covid-19, houve um aumento de 9% nos
investimentos na chamada “economia de baixo carbono”, totalizando US$ 501,3
bilhões. As fontes de energia que puxaram esta expansão foram a solar e a
eólica offshore (onde os parques eólicos são instalados em alto-mar). Só em
transporte limpo, a Europa investiu U$ 64,7 bi e a China, US$ 45,3 bi. O
investimento em “economia verde” também é um dos destaques das promessas de Joe
Biden para recuperar os EUA no pós-pandemia.
No Brasil,
infelizmente, estamos décadas atrás no tema. E a Anfavea (Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores) sabe disso. A entidade já se prepara
para se aproximar do governo e discutir o futuro do setor no Brasil. Isto
porque, na experiência internacional das montadoras, o Estado tem sido uma peça
fundamental na tomada de decisões sobre como os veículos irão funcionar.
É triste ver que, no Brasil, ainda estamos na primária discussão simbolizada pela política de preços dos combustíveis fósseis. Nosso presidente não é esperança, pois ele não sabe nada de nada, muito menos de economia ou sequer se importa com algo além do seu clã. Como sugestão, deveria ler um estudo de 2020 que estima em R$ 2,8 trilhões o potencial de ganho no PIB e em 2 milhões o número de empregos a mais no Brasil a partir da “economia verde” (fonte). Mas é querer demais de um Bolsonaro.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
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