Semana de 08 a 14 de fevereiro de
2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Pelas nossas previsões, 2021 não começaria
bem. Os dados continuam a provar que tínhamos razão. A recuperação em V do
sinistro Paulo Guedes, que ninguém viu, foi abortada. Preciosa colaboração para
isto foi dada pela incompetência do general pau mandado, que se senta na
cadeira de ministro da Saúde. Sua ação desastrosa contribui para a propagação
do covid-19, agravado agora pelo surgimento de nova cepa brasileira ainda mais
contagiosa. Os números de mortos e contaminados continuam a aumentar. Com as
irresponsabilidades carnavalescas, mesmo sem carnaval e a conivência criminosa
das autoridades caminhamos para a catástrofe. O sistema de saúde, já saturado,
vai entrar em colapso para satisfação do presidente, que delira com o cheiro da
morte. Apesar do reconhecimento de que a economia só se recupera com a
vacinação em massa, os incompetentes não conseguem disponibilizar o número de
doses necessárias para a população. A imunização se arrasta. Ao ritmo atual
calcula-se que os maiores de 60 anos serão vacinados em 4 meses e 50% da
população só no final do ano.
Os dados de 2020 mostram o que todos deviam
saber. Os impactos da covid-19, do fim do auxílio emergencial e do desemprego
derrubaram a economia não só para o ano de 2020 como para o ano atual. Segundo
a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, a incerteza e a insegurança afetaram as
expectativas de consumidores e empresários. Em dezembro, o varejo caiu -6,1%,
quando as estimativas dos analistas eram de queda de -0,6%. Foi o pior dezembro
desde 2000. O varejo ampliado caiu -3,7%. Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços,
também do IBGE, o setor de serviços teve uma queda de -7,8%. Em dezembro, sobre
novembro, a queda foi de -0,2%. Os serviços prestados às famílias caíram
-35,6%. Todas as atividades de serviços caíram. É do conhecimento geral que só
a vacinação em massa pode alterar este quadro.
Para o primeiro trimestre deste ano as
perspectivas não são boas. O Ibre/FGV espera um crescimento negativo do PIB. A
recuperação de 2020 abortou. Segundo eles, a pandemia dá à crise uma
característica inédita com as restrições à circulação. Temos um quadro de
desaceleração da economia e, no entanto, aumenta a inflação colocando o BC, e
seus economistas, no pior dos mundos, o terrível velho dilema: combater a
inflação ou a desaceleração. Segundo a teoria, por eles professada, tal
fenômeno não pode acontecer pois não é possível, é teoricamente inconcebível. O
presidente Roberto Campos Neto reconhece que a recuperação, que esboçava um V,
perdeu fôlego. O endividamento aumentou com os gastos com a pandemia, mas o BC
se preocupa com o aumento da inflação que ele considera provocada por fatores
temporários como os alimentos (aumento da demanda pelo auxílio emergencial), o
câmbio e os preços das commodities. Campos Neto não consegue acalmar o mercado
financeiro que entrou em polvorosa e a bolsa caiu.
Neste ambiente a Câmara aprovou, em regime
de urgência, a autonomia do BC por 339 a 114 votos. O grande pretexto: blindar
o BC de influência política. A realidade: entregar diretamente o BC nas mãos do
sistema financeiro. E parte da oposição embarcou nesta canoa furada. É do
conhecimento geral a existência da porta giratória que comunica os bancos e o
BC. A função do BC passa a ser garantir a estabilidade da moeda e controlar a
inflação. “Na medida das possibilidades” buscar o “pleno emprego”. O presidente
perde o estatuto de ministro e terá um mandato de 4 anos não coincidente com o
do presidente da República sendo indicado por ele e aprovado pelo Senado. As
metas do banco serão estabelecidas pelo Conselho de Política Monetária (Copom)
que é formado por uma Troika: o ministro da Economia, o secretário especial da
Fazenda e o presidente do BC. Estamos mesmo em boas mãos.
Enquanto isso Bolsonaro, com os seus novos decretos sobre armas, continua a preparar sua milícia privada, com a conivência das forças armadas, e o leão desdentado general Villas Boas ruge impunemente ameaças à democracia.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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