quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

“No pior dos mundos”

Semana de 25 a 31 de janeiro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Como temos alertado os nossos leitores, a recuperação em V do sinistro Paulo Guedes ninguém viu até agora, exceto ele, que continua repetindo a ladainha. Aliás, a mentira é atributo dos ministros da economia, por exigência da teoria que professam e do cargo. A ideologia econômica que os inspira afirma que são as expectativas que comandam a economia. É o subjetivo que cria o objetivo. Se os empresários acreditarem, eles vão investir. É obrigação dos ministros, portanto, mentir para induzir os empresários a fazer os investimentos. Guedes é do time que pensa que economistas enganam capitalistas. Coitados dos técnicos que se sentem obrigados a torcer os números. Há quem diga que as modernas técnicas de tratamento de dados, como a econometria, “são instrumentos para torturar os dados até que eles confessem”. Muito conveniente para os defensores das ditaduras usuários desses métodos.

Apesar disso ainda há analistas que prezam sua honra e não querem manchar os seus currículos e, mesmo a contragosto, revelam a realidade. De dentro do próprio Ministério da Economia sai a afirmação de que “teremos um trimestre difícil e não adianta dourar a pílula.” Não haverá recuperação em V. Já o Ibre/FGV estende a má notícia para o 1º semestre quando se vai caracterizar uma “recessão técnica”. Prevê queda no Produto Interno Bruto (PIB), de -0,5%, no 1º trimestre e de -0,2, no 2º trimestre. Na 1ª edição do Boletim Macro deste ano está previsto um crescimento do PIB, em 2021, de 3,5%, mas com viés de baixa. A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro desabafa: “Estamos no pior dos mundos com inflação alta, câmbio depreciado, atividade muito fraca.” O desemprego previsto é de 15,5% no 1º trimestre e 16% no segundo.

Como também já comentamos em várias Análises anteriores estamos diante de uma situação nova que ultrapassa a análise econômica, a ação de um agente externo, o Coronavírus, que ameaça toda a humanidade mas que é subestimado pelo “psicopata agressivo, tosco e desprezível” que finge que nos governa, apoiado por uma horda de fanáticos e sustentado por uma elite empresarial reacionária e inculta e, para nossa vergonha, pelos oficiais de alta patente das forças armadas saudosos dos velhos tempos da ditadura.

A recuperação da economia que, em condições normais, já deveria estar ocorrendo, pois é a fase do ciclo onde deveríamos estar, é perturbada, em todo o mundo, pela pandemia. Não existe a alternativa entre combater a pandemia ou estimular a economia. Todo o mundo sabe disso. O presidente Biden dos EUA, o Banco Central Europeu (BCE), os governos dos países da UE. Por todo lado ouve-se a afirmação “sem vacina não há recuperação” e “vacinas para todos”. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que a pandemia já custou US$2,4 trilhões e que o atraso nas vacinas pode resultar num aumento das mutações do vírus o que tornará ainda mais difícil o combate. A Câmara Internacional de comércio (ICC) calculou que sem vacinas nos países em desenvolvimento as economias dos países desenvolvidos perderão US$9,2 trilhões. Estamos todos no mesmo barco.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou seu Panorama Econômico Mundial onde revisou suas previsões para a evolução da economia. Calculou o custo global da pandemia em US$22 trilhões. As revisões de crescimento foram: para os EUA, de 3,1% para 5,1% e para o mundo de 5,2% para 5,5%. Para o Brasil a projeção passou de 3,45% para 3,49%. O FMI alerta para os efeitos positivos da vacinação, e afirma que vivemos um período de “excepcional incerteza”.

Mas, se no mundo apenas o covid-19 perturba a economia por cá temos um desgoverno que é uma ameaça adicional. Com a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, candidatos do governo, prepara-se um massacre de leis e medidas que certamente contribuirão para dificultar ainda mais a possibilidade de recuperação.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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