Semana de 25 a 31 de janeiro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como temos alertado os nossos leitores, a
recuperação em V do sinistro Paulo Guedes ninguém viu até agora, exceto ele,
que continua repetindo a ladainha. Aliás, a mentira é atributo dos ministros da
economia, por exigência da teoria que professam e do cargo. A ideologia
econômica que os inspira afirma que são as expectativas que comandam a
economia. É o subjetivo que cria o objetivo. Se os empresários acreditarem,
eles vão investir. É obrigação dos ministros, portanto, mentir para induzir os
empresários a fazer os investimentos. Guedes é do time que pensa que
economistas enganam capitalistas. Coitados dos técnicos que se sentem obrigados
a torcer os números. Há quem diga que as modernas técnicas de tratamento de
dados, como a econometria, “são instrumentos para torturar os dados até que
eles confessem”. Muito conveniente para os defensores das ditaduras usuários
desses métodos.
Apesar disso ainda há analistas que prezam
sua honra e não querem manchar os seus currículos e, mesmo a contragosto,
revelam a realidade. De dentro do próprio Ministério da Economia sai a
afirmação de que “teremos um trimestre difícil e não adianta dourar a pílula.”
Não haverá recuperação em V. Já o Ibre/FGV estende a má notícia para o 1º
semestre quando se vai caracterizar uma “recessão técnica”. Prevê queda no
Produto Interno Bruto (PIB), de -0,5%, no 1º trimestre e de -0,2, no 2º
trimestre. Na 1ª edição do Boletim Macro deste ano está previsto um crescimento
do PIB, em 2021, de 3,5%, mas com viés de baixa. A economista Silvia Matos,
coordenadora do Boletim Macro desabafa: “Estamos no pior dos mundos com
inflação alta, câmbio depreciado, atividade muito fraca.” O desemprego previsto
é de 15,5% no 1º trimestre e 16% no segundo.
Como também já comentamos em várias
Análises anteriores estamos diante de uma situação nova que ultrapassa a
análise econômica, a ação de um agente externo, o Coronavírus, que ameaça toda
a humanidade mas que é subestimado pelo “psicopata agressivo, tosco e
desprezível” que finge que nos governa, apoiado por uma horda de fanáticos e
sustentado por uma elite empresarial reacionária e inculta e, para nossa
vergonha, pelos oficiais de alta patente das forças armadas saudosos dos velhos
tempos da ditadura.
A recuperação da economia que, em condições
normais, já deveria estar ocorrendo, pois é a fase do ciclo onde deveríamos
estar, é perturbada, em todo o mundo, pela pandemia. Não existe a alternativa
entre combater a pandemia ou estimular a economia. Todo o mundo sabe disso. O
presidente Biden dos EUA, o Banco Central Europeu (BCE), os governos dos países
da UE. Por todo lado ouve-se a afirmação “sem vacina não há recuperação” e
“vacinas para todos”. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou
que a pandemia já custou US$2,4 trilhões e que o atraso nas vacinas pode
resultar num aumento das mutações do vírus o que tornará ainda mais difícil o
combate. A Câmara Internacional de comércio (ICC) calculou que sem vacinas nos
países em desenvolvimento as economias dos países desenvolvidos perderão US$9,2
trilhões. Estamos todos no mesmo barco.
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
publicou seu Panorama Econômico Mundial onde revisou suas previsões para a
evolução da economia. Calculou o custo global da pandemia em US$22 trilhões. As
revisões de crescimento foram: para os EUA, de 3,1% para 5,1% e para o mundo de
5,2% para 5,5%. Para o Brasil a projeção passou de 3,45% para 3,49%. O FMI
alerta para os efeitos positivos da vacinação, e afirma que vivemos um período
de “excepcional incerteza”.
Mas, se no mundo apenas o covid-19 perturba a economia por cá temos um desgoverno que é uma ameaça adicional. Com a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, candidatos do governo, prepara-se um massacre de leis e medidas que certamente contribuirão para dificultar ainda mais a possibilidade de recuperação.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
0 comentários:
Postar um comentário